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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ NOVAS CONEXÕES
Preso sob suspeita de quatro crimes, ex- assessor do PMDB afirma que deputado seria um dos donos da corretora Bônus-Banval, junto a doleiro
Janene era "braço do mensalão", diz advogado
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
O advogado Roberto Bertholdo,
ex-assessor parlamentar do
PMDB e ex-conselheiro da Itaipu
Binacional, disse ontem que o deputado José Janene (PP-PR) e o
doleiro Alberto Youssef são um
braço da operação para retirar recursos de órgãos estatais e destiná-los ao "mensalão".
O advogado afirmou que o "segundo braço" é o Banco Rural, investigado pela CPI dos Correios
por repasses feitos a parlamentares de recursos vindos das agências de Marcos Valério de Souza.
Bertholdo está preso em Curitiba, por determinação da 2ª Vara
Federal Criminal. Ele é acusado
de lavagem de dinheiro, interceptação clandestina dos telefones do
juiz Sérgio Moro, da 2ª Vara Criminal, venda de sentenças judiciais e tráfico de influência.
Bertholdo, que trabalhou no gabinete de José Borba, ex-líder do
PMDB na Câmara (renunciou ao
mandato para evitar a cassação),
citou detalhes de como Janene e
Youssef estariam no esquema.
Afirmou também que os dois
são os verdadeiros donos da corretora Bônus-Banval, "de onde
mais de 80% dos recursos adquiridos via corrupção eram transformados em dinheiro vivo".
A Bônus-Banval é apontada por
Valério como canal para repasse
de dinheiro do PT para o PP.
Segundo Bertholdo, o próprio
Janene -de quem foi advogado
tributarista há três anos- é quem
falava a ele do dinheiro conseguido ilegalmente em órgãos federais
sobre os quais tinha influência.
"E ele [Janene] tentava ter ainda
mais influência. Quando o Eunício Oliveira [deputado pelo
PMDB] assumiu o Ministério das
Comunicações [em janeiro de
2004], o Janene e o Youssef me
apareceram com o currículo do
diretor da Bônus-Banval, Breno
Fischberg, e de outro corretor da
Bônus, para que o PMDB indicasse um deles à presidência do Postalis [o fundo de pensão dos Correios]. Eles queriam armar um
amplo esquema no governo. Nós
não aceitamos", disse Bertholdo.
Ele diz ter visto mais de uma vez
Youssef levando sacolas com dinheiro ao apartamento funcional
de Janene, em Brasília.
"Por pelo menos três vezes.
Uma vez, ele abriu uma sacola para mostrar algo ao Janene e vi que
eram reais. Em uma outra vez, as
sacolas eram tão pesadas que a
Cleide, a cozinheira do Janene, teve que ajudar o Youssef a levar as
sacolas para um aposento interno
do apartamento", disse.
De acordo com Bertholdo, esse
dinheiro era destinado a pagar
parlamentares do bloco governista. "Quem ele pagava e os nomes
que ele [Janene] me passou, eu só
falo ao procurador-geral da República. Mas ele e Youssef operavam muito dinheiro", afirmou.
Em agosto de 2005, em uma
reunião de lideranças na casa do
pepista, Bertholdo afirma que viu
Janene ameaçando envolver o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva no esquema do "mensalão".
"Estávamos discutindo com lideranças governistas. Exaltado,
porque se sentia acuado com a
possibilidade de cassação, o Janene subiu no sofá e, aos gritos, disse que iria envolver o presidente
Lula. O líder do PT, Arlindo Chinaglia, que estava presente, argumentou que o presidente não sabia de nenhum esquema. O Janene retrucou: "Não importa se ele
sabe ou não, vou envolvê-lo"."
Fitas
Bertholdo disse que será condenado por um esquema montado
na 2ª Vara Federal Criminal, que
criou a "indústria da delação premiada". Segundo ele, Youssef entregou doleiros no Brasil inteiro e
se apropriou de seus clientes.
"Ele opera com um grupo em
que agem a Nelma [Penasso], de
Santo André, e o [Lúcio] Funaro,
ex-sócio da corretora Guaranhuns. Esse grupo controla 80%
do câmbio no país. No esquema
federal, a sociedade do Youssef e
do Janene na Bônus possibilitava
transformar em dinheiro vivo o
esquema de corrupção", afirmou.
Bertholdo disse que esteve em
um jantar em São Paulo em que
executivos da Bônus-Banval serviam refrigerantes toda vez que
Youssef determinava: "Você acredita que o dono de uma corretora,
o Breno, iria servir um operador
como o Youssef se ele não tivesse
o controle da empresa? O Janene,
e isso ele me disse, e o Youssef
eram os donos da Bônus".
Bertholdo disse ser vítima de fitas editadas, cujo teor foi divulgado pela revista "Veja". "Ele gravou 200 horas de fita, editou ao
seu prazer essas fitas e depois uma
nova montagem estará aparecendo na revista", disse.
Segundo ele, na próxima edição
da revista as "vítimas" serão o deputado José Mentor (PT-SP) e o
ministro Paulo Bernardo (Planejamento). Sobre o que teria falado
do ministro, Bertholdo disse que
irá esperar o que a revista divulgar. Sobre Mentor, afirmou que
nas gravações, ele cita "um mentor, e não o deputado". "Sei que
vão atacar o José Mentor porque
sou acusado de tentar retirar o
nome de um cliente meu do relatório final da CPI do Banestado."
"Se eu tivesse influência, o Mentor não teria colocado meu nome,
por um episódio de sete anos
atrás, no relatório final da CPI do
Banestado", disse.
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