São Paulo, segunda-feira, 11 de abril de 2005

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TODA MÍDIA

NELSON PEREIRA DE SÁ

O monstro

Demorou mais de uma semana, mas o Fantástico celebrou ontem, com emoção, os mortos da chacina na Baixada Fluminense.
Locução de Cid Moreira, sobre os quatro amigos adolescentes, da mesma sala de aula, tomados como símbolos:
- Douglas, Felipe, Leonardo e Bruno morreram fuzilados naquela noite, a poucos metros de casa, quando brincavam com um jogo eletrônico.
A música de fundo, os bilhetes dos colegas, as recordações das mães, em lágrimas. Soa piegas. Não foi.
 
Foi ação de "um bando de policiais militares", reiterou o Fantástico, bem como Jornal Nacional, Jornal da Record e Jornal da Band, no sábado.
É o que dizem, abertamente, o secretário de Segurança e a Polícia Federal. E até o inglês "Guardian", sob o título "O monstro do Rio se ergue novamente nos subúrbios pobres".
O monstro é o esquadrão da morte, cujas raízes estariam no "regime militar e na criação da PM". Identificado, a questão é o que fazer com ele.
Na Globo News e na Folha Online, o prefeito de Nova Iguaçu defendeu mais uma "intervenção" federal, agora na PM, que não teria "forças para revolver suas entranhas".
Na Jovem Pan e na Globo Online, o ministro José Dirceu correu a dizer que o governo federal prepara um plano de ação para "trabalhar junto com o governo estadual".
O governo estadual, até onde foi possível acompanhar, calou-se outra vez.

SEM FÉ E SEM LUTO
Segundo o italiano "La Stampa", destacado na Folha Online, o Vaticano começa a juntar milagres do papa morto, a caminho da canonização.
Já na revista on-line Slate o célebre colunista Christopher Hitchens fez o ataque mais violento até aqui. Sob um título em que dizia declinar do "luto", criticou desde "a cumplicidade, para dizer o menos, com o massacre de Ruanda" até as canonizações de um cardeal "aliado nazista" e do "aterrorizante fundador da Opus Dei, famoso pela ligação com Franco". E encerrou:
- Nós, que não temos fé, não acreditamos que o papa sofrerá punição eterna pelos milhões que morrerão desnecessariamente de Aids, ou por desculpar e dar abrigo aos que cometeram o pecado imperdoável de estuprar e torturar crianças, ou pelo sem-número cujas vidas sexuais foram arruinadas por vergonha e culpa e que são ensinados a respeitar o corpo apenas quando é de um cadáver sem vida como o de Schiavo.

Sob a influência
Do JN, em manchete:
- Lei do silêncio. Cardeais querem tranqüilidade para escolher o novo papa.
Não é bem assim, reagiu o "Washington Post". Citando um "assessor", o diário deu que "a nova regra mostrou a influência de Joseph Ratzinger", que "levantou a idéia".
O cardeal alemão é um dos "papáveis". E um dos motivos para a lei do silêncio, segundo o "WP", foram os cardeais latino-americanos que pediam um papa "da região".
Em tempo: saiu a lista das cem pessoas "mais influentes" do mundo, segundo a nova "Time". Entre os apontados, ele mesmo, Joseph Ratzinger.

Decisão
Do cardeal d. Eugênio Salles, brasileiro como d. Cláudio Hummes, à mesma reportagem do "WP", ontem:
- Os cardeais foram instados a não dar entrevista a ninguém. A decisão não foi minha.

Incompreensão
Silenciada em outros tempos pelo mesmo Joseph Ratzinger, a Teologia da Libertação foi tema de um dossiê ontem no "Los Angeles Times", com relatos enviadas de Roma e quatro cidades latino-americanas. De d. Paulo Evaristo Arns:
- Nós não fomos compreendidos... Parte da liderança secular se perdeu.

DA TV À WEB


Ilustração no "FT"


O próximo papa, para o "New York Times", ontem, deve ser alguém com boa performance de mídia. Para além da TV, o site italiano TGCom, como apontou o Nomínimo, aproveitou a dica e avaliou as relações dos papáveis com a web. O alemão Joseph Ratzinger sai na frente, com dois sites. Já o brasileiro Cláudio Hummes é aberto à internet, divulga seu e-mail pessoal, mas o site de sua arquidiocese é muito limitado.
Na mesma direção, outra campanha em andamento, na Grã-Bretanha, vem sendo anunciada por "Observer" e "Financial Times", entre outros, como "a eleição da web" -e não mais tão-somente da TV.

nelsondesa@folhasp.com.br


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