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TODA MÍDIA
NELSON PEREIRA DE SÁ
O monstro
Demorou mais de uma semana, mas o Fantástico celebrou ontem, com emoção, os
mortos da chacina na Baixada
Fluminense.
Locução de Cid Moreira, sobre
os quatro amigos adolescentes,
da mesma sala de aula, tomados
como símbolos:
- Douglas, Felipe, Leonardo
e Bruno morreram fuzilados naquela noite, a poucos metros de
casa, quando brincavam com
um jogo eletrônico.
A música de fundo, os bilhetes
dos colegas, as recordações das
mães, em lágrimas. Soa piegas.
Não foi.
Foi ação de "um bando de policiais militares", reiterou o Fantástico, bem como Jornal Nacional, Jornal da Record e Jornal da
Band, no sábado.
É o que dizem, abertamente, o
secretário de Segurança e a Polícia Federal. E até o inglês "Guardian", sob o título "O monstro
do Rio se ergue novamente nos
subúrbios pobres".
O monstro é o esquadrão da
morte, cujas raízes estariam no
"regime militar e na criação da
PM". Identificado, a questão é o
que fazer com ele.
Na Globo News e na Folha
Online, o prefeito de Nova Iguaçu defendeu mais uma "intervenção" federal, agora na PM,
que não teria "forças para revolver suas entranhas".
Na Jovem Pan e na Globo
Online, o ministro José Dirceu
correu a dizer que o governo federal prepara um plano de ação
para "trabalhar junto com o governo estadual".
O governo estadual, até onde
foi possível acompanhar, calou-se outra vez.
SEM FÉ E SEM LUTO
Segundo o italiano "La Stampa", destacado na Folha
Online, o Vaticano começa a juntar milagres do papa
morto, a caminho da canonização.
Já na revista on-line Slate o célebre colunista Christopher Hitchens fez o ataque mais violento até aqui. Sob
um título em que dizia declinar do "luto", criticou desde
"a cumplicidade, para dizer o menos, com o massacre de
Ruanda" até as canonizações de um cardeal "aliado nazista" e do "aterrorizante fundador da Opus Dei, famoso
pela ligação com Franco". E encerrou:
- Nós, que não temos fé, não acreditamos que o papa
sofrerá punição eterna pelos milhões que morrerão desnecessariamente de Aids, ou por desculpar e dar abrigo
aos que cometeram o pecado imperdoável de estuprar e
torturar crianças, ou pelo sem-número cujas vidas sexuais foram arruinadas por vergonha e culpa e que são
ensinados a respeitar o corpo apenas quando é de um cadáver sem vida como o de Schiavo.
Sob a influência
Do JN, em manchete:
- Lei do silêncio. Cardeais
querem tranqüilidade para escolher o novo papa.
Não é bem assim, reagiu o
"Washington Post". Citando
um "assessor", o diário deu que
"a nova regra mostrou a influência de Joseph Ratzinger", que
"levantou a idéia".
O cardeal alemão é um dos
"papáveis". E um dos motivos
para a lei do silêncio, segundo o
"WP", foram os cardeais latino-americanos que pediam um papa "da região".
Em tempo: saiu a lista das cem
pessoas "mais influentes" do
mundo, segundo a nova "Time".
Entre os apontados, ele mesmo,
Joseph Ratzinger.
Decisão
Do cardeal d. Eugênio Salles,
brasileiro como d. Cláudio
Hummes, à mesma reportagem
do "WP", ontem:
- Os cardeais foram instados
a não dar entrevista a ninguém.
A decisão não foi minha.
Incompreensão
Silenciada em outros tempos
pelo mesmo Joseph Ratzinger, a
Teologia da Libertação foi tema
de um dossiê ontem no "Los Angeles Times", com relatos enviadas de Roma e quatro cidades latino-americanas. De d. Paulo
Evaristo Arns:
- Nós não fomos compreendidos... Parte da liderança secular se perdeu.
DA TV À WEB
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Ilustração no "FT" |
O próximo papa, para o
"New York Times", ontem,
deve ser alguém com boa
performance de mídia. Para
além da TV, o site italiano
TGCom, como apontou o
Nomínimo, aproveitou a
dica e avaliou as relações
dos papáveis com a web. O
alemão Joseph Ratzinger sai
na frente, com dois sites. Já o brasileiro Cláudio Hummes
é aberto à internet, divulga seu e-mail pessoal, mas o site
de sua arquidiocese é muito limitado.
Na mesma direção, outra campanha em andamento,
na Grã-Bretanha, vem sendo anunciada por "Observer"
e "Financial Times", entre outros, como "a eleição da
web" -e não mais tão-somente da TV.
nelsondesa@folhasp.com.br
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