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ELIO GASPARI
A turma da boquinha se deu mal, nos EUA
No Banco Mundial, em Harvard e Yale também há gente que gosta de levar vantagem,
mas o negócio é arriscado
PARECE COISA de país pobre.
Em 2005, o professor Paul
Wolfowitz ganhou a presidência do Banco Mundial. Ele vinha de
uma explosiva carreira na diplomacia de George Bush. Desde as horas
seguintes ao atentado de 11 de Setembro, Wolfowitz sustentava que o
EUA deveriam atacar o Iraque, que
nada tinha a ver com a história.
O doutor chegou ao cargo com
uma pedra no sapato. Sua namorada, Shaha Ali Riza, era funcionária
do banco desde 1997. Profissional
cosmopolita, nascera na Tunísia, de
mãe síria e pai saudita, estudara na
London School of Economics e fizera o mestrado em Oxford. Nada devia ao namorado, mas as normas do
Banco Mundial não permitiam que
ocupasse um cargo sob sua supervisão. Afinal de contas, o banco dá aulas de bom governo aos países do andar de baixo.
No melhor estilo das trocas de
chumbo entre burocratas, Riza foi
promovida e transferida para o gabinete da filha do vice-presidente Dick
Cheney, no Departamento de Estado. Teve dois aumentos e ficou com
um salário anual de US$ 193.590.
Em seis meses, aumentou sua renda
em cerca de US$ 60 mil e hoje ganha
US$ 7.000 a mais que a secretária de
Estado Condoleezza Rice.
Wolfowitz começou a se explicar e
o caso será examinado pelo conselho do banco. Por mais que as promoções de Riza cheirem a queimado, há algo mesquinho no episódio,
pois a palavra "namorada" insinua
um clima de alcova que não existiria
se o beneficiado fosse um amigo de
Wolfowitz. Mais relevante que a fofoca é a constatação de que entre sábios americanos, tão severos no julgamento dos costumes alheios, também há o gosto por uma boquinha.
Se o Banco Mundial, um professor
de Harvard, ou de Yale, dizem que
um país deve fazer isso ou aquilo,
suas opiniões ganham aura de santidade. Dois outros casos, com cabeludas transgressões, mostram quanto
há nisso de ranço colonial. Desde os
anos 90, os professores Andrei
Shleifer (Harvard) e Florencio Lopez-de-Silanes (Yale) foram ouvidos, até no Brasil, como oráculos em
matéria de privatizações e boa administração. Shleifer é considerado
um dos economistas mais brilhantes da atualidade. Lopez-de-Silanes
fundou um centro de estudos na
universidade para estudar boa governança. Ambos lambuzaram-se.
O doutor Lopez-de-Silanes desgovernou suas prestações de contas e
privatizou US$ 150 mil do instituto.
Ele fora considerado um dos Cem
Líderes Globais do Futuro pelo Fórum de Davos. Devolveu o dinheiro,
mas foi mandado embora de Yale.
Andrei Shleifer chefiou equipes
mandadas pelo Banco Mundial e
por Harvard a Moscou para ensinar
economia de mercado aos russos.
Ele e a mulher banqueira meteram-se numa teia de negócios da privataria que custou US$ 26,5 milhões à
universidade. Shleifer pagou US$ 2
milhões ao governo para encerrar o
assunto. Ao contrário do que Yale
fez com Lopez-de-Silanes, Harvard
manteve-o na cátedra.
Os controles da sociedade americana fazem com que o dinheirinho
fácil seja um negócio arriscado. Infelizmente, nos países do andar de baixo, prefere-se mudar as leis a aplicá-las. Muita gente boa continua usando os trabalhos de Shleifer e Lopes-de-Salinas, omitindo que havia um
oceano entre a teoria que ensinavam e a voracidade de suas práticas.
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