São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 2008

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Má tradução constrange presidente na Holanda

Lula é questionado a respeito de caso de holandeses presos no Rio por pedofilia

Repórter quer saber opinião de Lula, mas intérprete local pergunta se Brasil vai pedir à ONU punição para Holanda por violação de direitos

Lula Marques/Folha Imagem
LARANJA MECÂNICA
Presidente Lula e a primeira-dama Marisa Letícia posam para foto ao lado da rainha Beatrix e da família real holandesa em jantar de recepção ao brasileiro no Palácio Noordeinde, em Haia


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A HAIA

Uma pergunta de um jornalista holandês sobre pedofilia, destinada a causar embaraço ao primeiro-ministro Jan Peter Balkenende, acabou constrangendo seu colega brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, por causa da má tradução feita pela intérprete local.
O jornalista queria saber a opinião de Lula sobre o caso de dois holandeses presos no Rio de Janeiro, com material pornográfico infantil, mas que conseguiram sair do país e, na Holanda, tiveram penas leves (serviço social), ao passo que a Justiça brasileira os condenou (à revelia) a 17 anos.
Mas a pergunta, na tradução, ficou assim:
"Presidente, um tribunal no seu país decidiu que a Holanda deve ser punida na ONU por violação dos direitos da criança, no caso de holandeses que produziram material pornográfico usando crianças brasileiras. O seu governo vai fazer isso? O senhor falou com o primeiro-ministro sobre isso?"
Lula não entendeu (nem podia). Tanto que começou perguntando ele próprio se a pergunta era para ele. E emendou: "Não sei se a Holanda será julgada na ONU por conta de material pornográfico, se foi esta a pergunta feita para mim. Não tenho nenhuma informação de que a ONU vai julgar".
Balkenende, então, assumiu a resposta para dizer, primeiro, que pornografia infantil "é terrível e repugnante". Depois informou que a condenação dos dois foi motivo de apelação do procurador público. "Não é minha responsabilidade intervir num caso que está sendo apreciado pela Justiça", completou.
Enquanto o primeiro-ministro falava, o chanceler Celso Amorim passou a Lula todos os dados da história, o que permitiu ao presidente informar que o governo holandês já pedira desculpas ao Brasil pelo fato de o consulado no Rio ter dado novo passaporte aos dois, após os originais terem sido apreendidos pela Polícia Federal. Graças aos novos documentos, os dois puderam deixar o Brasil, via Paraguai, retornando à Holanda.
Lula aproveitou para defender "um acordo para aperfeiçoamento da cooperação judicial" entre os dois países, já que não há acordo de extradição entre eles. O presidente terminou com a condenação da pedofilia, "inadmissível, seja praticada por brasileiros, por holandeses, por japoneses, por chineses. Por isso, as pessoas têm que ser punidas de verdade".
Um segundo embaraço ocorreu à tarde na praça Dam, marco zero de Amsterdã, após Lula depositar a tradicional coroa de flores no Monumento Nacional (que homenageia os mortos nas guerras, em especial a 2ª Guerra Mundial). Quando Lula e dona Marisa deixavam a praça, a sirene de um carro de bombeiros cobriu completamente o som da música executada pela banda marcial.
Os bombeiros tentavam entrar na rua atrás da praça, que conduz ao chamado "distrito da luz vermelha", a zona de prostituição, agora em processo de reforma para trocar as vitrinas em que mulheres seminuas se exibem por galerias de arte.


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