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JANIO DE FREITAS
O bêbedo e o desequilibrista
O governo recomendou ao
embaixador brasileiro nos
Estados Unidos a apresentação
ao "New York Times" do seu repúdio ao vasto texto, no domingo, com repetidas afirmações de
que a atividade de Lula está prejudicada pela bebida excessiva, o
que se tornou "preocupação nacional" no Brasil e está "infiltrado na consciência pública". Foi a
providência governamental de
praxe, ditada pelo convencionalismo diplomático. Mas, dita a
experiência, melhor seria levar a
reclamação ao Departamento de
Estado, centro diplomático onde
se têm montado as operações
norte-americanas menos diplomáticas para a América Latina e
alhures.
Os norte-americanos gostam
muito de coincidências. Pode-se
entender assim o acaso que fez o
texto do correspondente Larry
Rohter, inequivocamente elaborado para desmoralizar Lula e o
governo brasileiro, sair em dias
importantes para a política latino-americana do governo dos
Estados Unidos.
Como a segurança da Venezuela descobriu no final da semana passada, seu governo estava na iminência de sofrer um
ataque golpista: cerca de cem integrantes da guerrilha direitista
colombiana já estavam instalados em território venezuelano,
quando foram descobertos e, na
maioria, presos. O governo colombiano do presidente Uribe
não teria razões objetivas para
chegar ao extremo risco de uma
aventura golpista na Venezuela,
capaz de resultar em conflito entre os dois países. Já a guerrilha
direitista a que pertencem os presos sempre foi ajudada por norte-americanos, porque se opõe à
guerrilha originalmente de esquerda e depois ligada ao narcotráfico que abastece o imenso
mercado dos Estados Unidos.
Foi na semana passada, também, que o próprio Bush, em ato
sem precedente, tornou público
que o seu governo passa a agir
para mudar o regime cubano.
Ou seja, para derrubar Fidel
Castro. Como disse o subsecretário para assuntos latino-americanos, Roger Noriega, os Estados
Unidos não admitem Raul Castro como sucessor de Fidel, segundo estabeleceram os cânones
cubanos para a morte do seu líder.
Duas grandes operações em
curso, portanto. E quem é o presidente latino-americano capaz de
levantar um movimento continental em defesa dos dois presidentes visados? Além dos motivos políticos para fazê-lo, inclusive em autopreservação das soberanias nacionais, Lula tem com
Chavez e Fidel relações pessoais.
É a esse Lula e na ocasião em que
se lançam as duas operações contra Chavez e Fidel que, por coincidência, sai um texto desmoralizante para Lula. E em nada menos do que no jornal norte-americano de maior repercussão internacional -até por ser reconhecido como o mais leal servidor, na mídia, do que os governos dos Estados Unidos consideram "razões de Estado".
O gosto norte-americano por
coincidências vai às minúcias,
senão ao humorístico. Por isso é
que, também nesse domingo do
texto contra Lula no "NYT", em
um cantinho do segundo caderno do "Globo" saía uma carta de
protesto do cônsul norte-americano, por "declarações e expressões" de Arnaldo Jabor sobre o
presidente Bush, "caracterizadas", segundo a carta, "pela falta
de respeito e má educação". Daí
a conclusão: "Não emitimos em
nossos telejornais, jornais nem
em qualquer veículo de comunicação nada parecido com o que
temos presenciado". Uma injustiça com "The New York Times".
Sobretudo quando retoma o jornalismo tão praticado nos anos
50 e 60, fase aguda das políticas
intervencionistas na América
Latina.
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