|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ORIENTE PRÓXIMO
Documento que será divulgado hoje critica sanções econômicas impostas à Síria, desrespeito ao direito internacional e enfraquecimento da ONU
Declaração condena unilateralismo dos EUA
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
A declaração conjunta da Cúpula América do Sul-Países Árabes,
que vai ser divulgada hoje pelos
34 países participantes, faz uma
condenação direta aos Estados
Unidos pelas sanções econômicas
impostas à Síria no ano passado,
sob a acusação de que o país ajuda
grupos terroristas.
Diz o texto que as sanções,
aprovadas pelo Congresso norte-americano, "violam princípios do
direito internacional e constituem
uma transgressão dos objetivos e
princípios das Nações Unidas, na
medida em que estabelecem um
grave precedente nas relações entre Estados independentes".
Essa foi a única citação nominal
aos Estados Unidos, mas o texto,
de 15 páginas, é praticamente um
manifesto contra o unilateralismo
norte-americano, a ocupação israelense de terras palestinas e as
políticas econômicas dos países
ricos que prejudicam os pobres.
Em outros trechos, as críticas
são indiretas, como o enfraquecimento das Nações Unidas, o problema dos subsídios agrícolas e a
defesa do direito de propriedade
em detrimento de políticas de
saúde nos países pobres.
O lado brasileiro, que tentou
manter a condenação à ocupação
israelense em termos diplomáticos, acabou cedendo à forte pressão dos países árabes e citou explicitamente pontos polêmicos,
como o desmantelamento de colônias e o Muro de Separação. No
ponto sobre a não-proliferação de
armas de destruição em massa, a
menção a Israel -única potência
nuclear na região- ficou de fora,
trocada pela necessidade de não
haver "exceções" na adesão ao
Tratado de Não-Proliferação.
No caso do terrorismo, ponto
sensível do documento, a condenação é feita de forma ampla. Os
árabes queriam excetuar a hipótese de terrorismo utilizado para resistir à ocupação estrangeira. Acabaram ganhando uma cláusula
separada, de apoio às causas de liberação de povos ocupados dentro dos termos do direito internacional. O terrorismo acabou não
sendo definido, mas houve apoio
à iniciativa da ONU de realizar
uma conferência sobre o tema.
Logo na introdução do documento, obtido pela Folha, o foco
fica claro. O segundo ponto pede
respeito ao multilateralismo e ao
direito internacional. O terceiro
pede respeito à soberania dos Estados com ênfase em soluções diplomáticas para conflitos. O quarto condena a implementação seletiva de resoluções da ONU.
A declaração é embutida de várias cláusulas de interesses específicos. Há uma menção ao empenho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em mobilizar países no
combate à fome e à pobreza.
Também registra questões como
a preocupação com a contabilidade de organismos financeiros,
que sufoca gastos na área social.
Para os argentinos, entrou de
última hora um item sobre as
Ilhas Malvinas, pedindo que sejam restabelecidas as negociações
para "uma solução justa, pacífica
e duradoura para a controversa
soberania" para as ilhas. Para os
Emirados Árabes, outro afago sobre disputa territorial, citando
ilhas disputadas com o Irã.
As distorções no comércio internacional foram criticadas e os
organismos financeiros foram
considerados não-representativos. A reforma nas Nações Unidas voltou a ser cobrada, mas não
houve menção ao assento permanente que o Brasil postula em um
novo Conselho de Segurança.
A continuidade dos compromissos da declaração será feita em
2006 no Cairo, quando altos funcionários das duas regiões voltam
a se encontrar. Em 2007, os chanceleres se reúnem em Buenos Aires. Em 2008, a próxima cúpula, o
encontro será em Marrocos.
Texto Anterior: Engajamento: Mulheres fazem manifestação movida a lanche Próximo Texto: É necessário corrigir distorções e desenhar nova geografia, diz Lula Índice
|