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MÁFIA DOS SANGUESSUGAS
Gravação de diálogos de donos da Planam indica pagamentos a pelo menos dois parlamentares
Motorista levava dinheiro a deputados, diz PF
LEONARDO SOUZA
ANDREA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Conversas captadas pela Polícia
Federal durante a Operação Sanguessuga confirmam que os integrantes da quadrilha mandavam
dinheiro para os congressistas ou
para seus assessores por meio do
motorista Fernando Freitas.
Em depoimento à PF anteontem, segundo a Folha apurou,
Freitas disse que empresários que
comandam a Planam, entre os
quais Luiz Antônio Vedoin, sacavam dinheiro em uma agência do
banco Itaú, no setor comercial
Sul, em Brasília, e levavam para
distribuir no Congresso Nacional.
A Planam é a principal beneficiária da venda superfaturada de
ambulâncias a prefeituras, pagas
com recursos do Orçamento da
União por meio de emendas parlamentares.
No estacionamento da Câmara,
de acordo com o motorista, os
empresários distribuíam o dinheiro entre os bolsos e pastas, na
tentativa de evitar que volumes
maiores fossem detectados pelos
sensores instalados no local.
Os sensores obrigavam o grupo
a fazer diversas viagens, até liquidar os pagamentos previstos.
Freitas disse não ter presenciado entrega de dinheiro, pois ficava no estacionamento. Afirmou,
no entanto, que, pelas conversas
que ouvia no carro, o grupo falava
de pagamento a deputados.
O depoimento de Freitas corrobora versão apresentada à PF pela
ex-funcionária do Ministério da
Saúde Maria da Penha Lino, que
atuaria para acelerar a liberação
das emendas parlamentares que
beneficiavam a Planam. Penha
disse que os donos da Planam davam propina aos congressistas
autores das emendas.
Diálogos
De acordo com os diálogos, o
motorista fez pagamentos a pelo
menos dois deputados ou a seus
assessores: Maurício Rabelo (PL-TO) e Isaías Silvestre (PSB-MG).
Em uma ocasião, integrantes da
quadrilha mencionam pagamento de R$ 20 mil a Luiz Martins, assessor de Rabelo. Em outra, falam
de um cheque para Silvestre.
Segundo documentos do inquérito da PF sobre o caso, os integrantes da quadrilha dão a entender que o cheque foi repassado ao
deputado, porém sem especificar
se foi entregue diretamente.
Às 12h34 de 22 de dezembro
passado, Luiz Antônio conversa
com Freitas. O motorista diz que
já havia feito o saque no Banco do
Brasil para pagar a Luiz Martins.
A PF concluiu que Martins recebeu R$ 20 mil da quadrilha.
Um mês antes, Luiz Antônio
conversara com seu pai, Darci José Vedoin, apontado como chefe
da quadrilha. O filho pergunta ao
pai se ele havia dito "ao deputado
que dariam um agrado pra ele". O
nome não é informado, mas as
suspeitas recaem sobre Silvestre e
Irapuan Teixeira (PP-SP).
No mesmo diálogo, Darci confirma que teria dado o "agrado"
ao deputado e que vão "sentar para acertar tudo direitinho". No
fim da conversa, Darci diz que Silvestre havia ligado. Luiz Antônio
orienta Darci a dizer para o deputado "ir pagando os juros", pois
dentro de alguns dias lhe dariam
um cheque.
Eles falam também sobre Irapuan. Darci conta que já havia
conversado com o deputado e
que ele queria "o ônibus". Luiz
Antônio diz: "Depois que fizer, a
gente dá". Num outro diálogo,
Darci diz ao filho que o motorista
Freitas faria o pagamento.
A assessoria de Maurício Rabelo
informou que não vai se pronunciar enquanto não houver uma
posição formal da PF sobre seu
caso. Admitiu que Luiz Martins já
fez trabalhos para o deputado,
mas afirmou que ele não é seu assessor. Silvestre e Irapuan não se
pronunciaram.
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