São Paulo, quinta-feira, 11 de maio de 2006

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MÁFIA DOS SANGUESSUGAS

Gravação de diálogos de donos da Planam indica pagamentos a pelo menos dois parlamentares

Motorista levava dinheiro a deputados, diz PF

LEONARDO SOUZA
ANDREA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Conversas captadas pela Polícia Federal durante a Operação Sanguessuga confirmam que os integrantes da quadrilha mandavam dinheiro para os congressistas ou para seus assessores por meio do motorista Fernando Freitas.
Em depoimento à PF anteontem, segundo a Folha apurou, Freitas disse que empresários que comandam a Planam, entre os quais Luiz Antônio Vedoin, sacavam dinheiro em uma agência do banco Itaú, no setor comercial Sul, em Brasília, e levavam para distribuir no Congresso Nacional.
A Planam é a principal beneficiária da venda superfaturada de ambulâncias a prefeituras, pagas com recursos do Orçamento da União por meio de emendas parlamentares.
No estacionamento da Câmara, de acordo com o motorista, os empresários distribuíam o dinheiro entre os bolsos e pastas, na tentativa de evitar que volumes maiores fossem detectados pelos sensores instalados no local.
Os sensores obrigavam o grupo a fazer diversas viagens, até liquidar os pagamentos previstos.
Freitas disse não ter presenciado entrega de dinheiro, pois ficava no estacionamento. Afirmou, no entanto, que, pelas conversas que ouvia no carro, o grupo falava de pagamento a deputados.
O depoimento de Freitas corrobora versão apresentada à PF pela ex-funcionária do Ministério da Saúde Maria da Penha Lino, que atuaria para acelerar a liberação das emendas parlamentares que beneficiavam a Planam. Penha disse que os donos da Planam davam propina aos congressistas autores das emendas.

Diálogos
De acordo com os diálogos, o motorista fez pagamentos a pelo menos dois deputados ou a seus assessores: Maurício Rabelo (PL-TO) e Isaías Silvestre (PSB-MG).
Em uma ocasião, integrantes da quadrilha mencionam pagamento de R$ 20 mil a Luiz Martins, assessor de Rabelo. Em outra, falam de um cheque para Silvestre.
Segundo documentos do inquérito da PF sobre o caso, os integrantes da quadrilha dão a entender que o cheque foi repassado ao deputado, porém sem especificar se foi entregue diretamente.
Às 12h34 de 22 de dezembro passado, Luiz Antônio conversa com Freitas. O motorista diz que já havia feito o saque no Banco do Brasil para pagar a Luiz Martins. A PF concluiu que Martins recebeu R$ 20 mil da quadrilha.
Um mês antes, Luiz Antônio conversara com seu pai, Darci José Vedoin, apontado como chefe da quadrilha. O filho pergunta ao pai se ele havia dito "ao deputado que dariam um agrado pra ele". O nome não é informado, mas as suspeitas recaem sobre Silvestre e Irapuan Teixeira (PP-SP).
No mesmo diálogo, Darci confirma que teria dado o "agrado" ao deputado e que vão "sentar para acertar tudo direitinho". No fim da conversa, Darci diz que Silvestre havia ligado. Luiz Antônio orienta Darci a dizer para o deputado "ir pagando os juros", pois dentro de alguns dias lhe dariam um cheque.
Eles falam também sobre Irapuan. Darci conta que já havia conversado com o deputado e que ele queria "o ônibus". Luiz Antônio diz: "Depois que fizer, a gente dá". Num outro diálogo, Darci diz ao filho que o motorista Freitas faria o pagamento.
A assessoria de Maurício Rabelo informou que não vai se pronunciar enquanto não houver uma posição formal da PF sobre seu caso. Admitiu que Luiz Martins já fez trabalhos para o deputado, mas afirmou que ele não é seu assessor. Silvestre e Irapuan não se pronunciaram.


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