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MÁFIA DOS SANGUESSUGAS
Vice-presidente da Câmara, José Thomaz Nonô (PFL-AL), é um dos 42 novos nomes citados
Servidora presa denuncia 81 parlamentares
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em depoimento ao Ministério
Público e à Polícia Federal, em
Cuiabá, a servidora do Ministério
da Saúde Maria da Penha Lino
apontou o nome de 81 dos cerca
de 170 parlamentares que teriam,
direta ou indiretamente, alguma
relação com o esquema de desvio
de recursos públicos destinados à
compra de ambulâncias.
O único senador mencionado é
Ney Suassuna (PMDB-PB). Ela
afirma que o parlamentar recebeu
"propina" do esquema, que estaria instalado no Congresso há pelo menos seis anos e teria girado
mais de R$ 100 milhões em recursos públicos. Suassuna nega e diz
que tomou providências em relação aos assessores envolvidos.
Maria da Penha, uma das 48
pessoas presas pela PF na Operação Sanguessuga, foi ouvida na
noite de anteontem pelos procuradores Mário Lúcio Avelar e
Paulo Gomes e pelo delegado federal Tardelli Boaventura. Em seu
depoimento, diante da lista de
parlamentares do Congresso, ela
grifou o nome de 80 deputados.
Depois, ela afirmou que o número total de políticos envolvidos
chegaria a um terço da Câmara,
cerca de 170 parlamentares. Disse
não se lembrar do nome dos outros, mas que teria, em uma agenda e um CD-Rom, arquivos, reproduzidos da base de dados da
Planam, capazes de identificá-los.
A agenda já teria sido apreendida pela PF. O CD seria encaminhado por seus advogados aos investigadores ainda ontem.
Dos nomes de 80 deputados e
um senador apontados pela servidora anteontem, 42 são novos.
Eles não constavam da lista elaborada pela Polícia Federal na semana passada, por ordem da Justiça,
e encaminhada também à Corregedoria da Câmara e à Procuradoria Geral da República. É o caso
do deputado José Thomaz Nonô
(PFL-AL), 1º vice-presidente da
Casa. Outra análise revela que 27
nomes da lista elaborada pela PF
não foram apontados por Maria
da Penha. Alguns exemplos são os
deputados Eduardo Paes (PSDB-RJ), Rodrigo Maia (PFL-RJ) e Denise Frossard (PPS-RJ).
Maria da Penha disse que seu
papel era agilizar no Ministério da
Saúde a tramitação dos processos
burocráticos necessários à liberação das verbas. Desde agosto de
2005, Maria da Penha está lotada
como assessora no gabinete do
ministro Saraiva Felipe.
Ao detalhar a suposta participação de Suassuna no esquema, Maria da Penha afirmou que, em dezembro de 2005, a liberação de
uma verba do ministério, a pedido do parlamentar, passou de R$
1,6 milhão para R$ 3,5 milhões.
Mesmo antes de ela tomar conhecimento da alteração do valor, o
empresário Darci Vedoin teria ligado para o órgão em busca de informações sobre a liberação.
Vedoin é o dono da empresa
Planam, pivô do esquema e na
qual Maria da Penha trabalhou
entre setembro de 2003 e março
de 2005. Ainda conforme o depoimento, a servidora afirmou que
Suassuna, questionado sobre a
mudança do valor, disse ter assinado sem ler o documento que
sustentava a liberação da verba.
Sobre a suposta participação da
deputada Elaine Costa (PTB-RJ)
no caso sob investigação, a depoente disse que a parlamentar
"está envolvida até o pescoço". O
contato para os negócios seria um
assessor chamado "Marquinho".
Hoje deve ser ouvida em Cuiabá
Nívea Martins de Oliveira, assessora de Elaine Costa. Da mesma
forma que Maria da Penha, ela negocia com o Ministério Público o
benefício da delação premiada,
pelo qual elas podem conseguir
redução ou até isenção de pena.
Maria da Penha também disse
aos procuradores e ao delegado
que o deputado Reginaldo Germano, a quem chamou de "grosso
como uma anta", teria dito a seguinte frase a uma assessora de
seu gabinete: "Cadê o ladrão do
Darci [Vedoin, da Planam], que
não pagou o meu dinheiro".
Entre outros parlamentares cuja suposta participação no esquema dos sanguessugas é detalhada
por Maria da Penha estão Gilberto Nascimento (PMDB-SP) e Jefferson Campos (PTB-SP). Segundo ela, em 2004, o esquema teria
liberado R$ 1,96 milhão em benefício de Nascimento e R$ 1,3 milhão para Campos. O destino do
dinheiro foi a organização Movimento Alfa de Ação Comunitária
de São Paulo, que teria sido usada
para burlar "a Lei Eleitoral".
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