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MÍDIA
Evento promovido pela Folha, com participação de ombudsmans, aborda dilemas enfrentados pelos jornais ao reconhecer erros
Fórum discute transparência no jornalismo
DA REPORTAGEM LOCAL
A transparência no jornalismo
foi abordada por dois ângulos
bem diferentes na primeira mesa
do Fórum Folha de Jornalismo,
aberto ontem em São Paulo. O
evento faz parte das comemorações dos 85 anos do jornal.
Para Ian Mayes, ombudsman
do jornal britânico "The Guardian", a transparência de uma publicação está associada a duas atitudes: o compromisso de um jornal de corrigir falhas e erros, o que
pode ser respaldado pela existência de um ombudsman, e a disposição de deixar claro para o seu
leitor o modo como a publicação
funciona, suas operações internas
e as regras que estipulou para si
própria.
Edward Wasserman, professor
de ética jornalística na Universidade Washington e Lee, dos Estados Unidos, considera, no entanto, que tal abertura para o público
leitor, embora necessária, pode se
transformar tanto num instrumento de meras relações públicas
como, ao contrário, em um modo
de lançar suspeitas além das devidas sobre jornais e jornalistas.
A dramatização excessiva e pública dos erros cometidos -com
a publicação de demissões de jornalistas que falharam ou mesmo
mentiram- pode provocar um
efeito oposto ao esperado. Isto é,
criar uma percepção negativa da
qualidade do produto jornalístico
que chega às mãos dos leitores.
O fórum, aberto pelo diretor de
Redação da Folha, Otavio Frias
Filho, promove quatro debates, os
dois últimos hoje, para os quais as
inscrições já estão esgotadas. A
primeira mesa de debates foi
coordenada por Marcelo Beraba,
ombudsman da Folha.
Frias Filho tratou do problema
da viabilidade da empresa jornalística em um ambiente de intensa
mudança tecnológica e de multiplicação das fontes de oferta de
informações.
Por empresa jornalística, especifica Frias Filho, entenda-se a
que procura autonomia política e
que investe pesados recursos materiais para produzir um jornalismo compromissado com a procura do "máximo de verdade factual e da defesa do interesse público". "Aquele jornalismo que foi
sempre a arena do debate de
idéias e de rumos para a sociedade", afirmou.
Tal questão, considera Frias, parece mais importante do que o debate sobre o futuro do suporte físico das publicações jornalísticas,
se a tela eletrônica ou o papel. A
multiplicação de fontes de informação é simultânea à dispersão e
à fragmentação de interesses do
leitorado, que também se torna
mais exigente, crítico em relação a
erros, "quando não de distorções
e da arrogância do jornalismo".
A imprensa será capaz de responder aos tecnológicos, econômicos e os de seu público?
Resistência
Wasserman, o mais controvertido dos três palestrantes, acredita
que nos EUA a mídia persistirá e é
resistente aos ataques. Mas a resposta dos jornalistas à crítica lhe
parece por vezes inadequada. Para Wasserman, diante da crítica
há a imediata criação de um clima
de "vergonha e autoflagelação".
Citou as demissões na rede de televisão CBS, em razão do noticiário equivocado sobre a carreira
militar na juventude do presidente George W. Bush.
A pressão para que as punições
ocorram partem em geral de grupos cujas posições não são defendidas pelo jornal ou pela emissora. "Essas coisas precisam de algum grau de privacidade", afirmou o professor de ética.
Mayes, o ombudsman do "The
Guardian", esboçou um retrato
algo diferente. Pesquisa recente
demonstrou que 86% dos leitores
acreditam que seu jornal publica
informações confiáveis.
Mas não são apenas as informações que são levadas em conta na
avaliação. Há o relacionamento
do jornal com o leitor, as correções e o esforço para ampliar os
temas da cobertura jornalística.
Para o terceiro palestrante, o colombiano Germán Rey, ex-ombudsman do jornal "El Tiempo",
de Bogotá, os jornais deixaram de
entender como o mundo tem
evoluído. Devem reestudar sua
forma de funcionamento, com
atenção aos problemas multidisciplinares.
Disse, por fim, temer os efeitos
da lógica comercial das empresas
de mídia sobre a independência e
a autonomia da informação.
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