São Paulo, sexta-feira, 11 de junho de 2004

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GOVERNO EM DISPUTA

Aprovação dos R$ 260 aliviaria pressão do PT para tirá-lo

Para Aldo, mínimo o segura no cargo

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política) avalia que, se conseguir que o Senado aprove a medida provisória do salário mínimo de R$ 260, vencerá a pressão do PT para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva o desloque para o lugar de José Viegas (Defesa) e devolva a articulação política a José Dirceu (Casa Civil). A votação do mínimo deve ocorrer na semana que vem.
A aliados, Aldo mostra disposição de comprar briga com Dirceu, com quem tem se desentendido nos bastidores. Crê que uma vitória no Senado impediria o PT de tirá-lo da operação política. A interlocutores, o ministro, que é do pequeno PC do B, lembra que agiu corretamente com Dirceu.
Exemplo: ao assumir no final de janeiro a Coordenação Política, pasta que absorveu uma estrutura que antes estava na Casa Civil, não demitiu ninguém ligado ao ministro. Nem pessoal ligado ao ex-subchefe de Assuntos Parlamentares Waldomiro Diniz, pivô da maior crise da gestão Lula.
Aliados de Aldo no Congresso dizem que o PT e Dirceu não se conformam de ter perdido o controle de um esquema de poder fundamental para o partido, o de liberação de emendas parlamentares e indicação de cargos.
Ao mesmo tempo, dizem os defensores do ministro da Coordenação Política, o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), tem interesse em miná-lo porque Aldo não apoiou a emenda que permitiria a reeleição dele e de Sarney para seus postos no Congresso. Aldo trabalhou contra a emenda, rejeitada em maio na Câmara. Dirceu a apoiou.
A eventual queda de Aldo, com o retorno da articulação política para Dirceu, criaria a possibilidade de ressurreição da emenda. Como uma alternativa futura para o ministro da Casa Civil é presidir a Câmara, João Paulo tem interesse direto na permanência de Dirceu no governo.

Lula na muda
Lula avalia se atende à pressão do PT. É forte o desejo de tirar Viegas. Anteontem, Lula deu demonstrações em conversas reservadas de que poderia devolver a articulação política a Dirceu, apesar de estar satisfeito com o Aldo. O chefe da Casa Civil, em viagem à Argentina, teve papel decisivo na eleição de Lula em 2002.
O presidente não deve tomar decisão antes de votar o mínimo, para evitar maior divisão no governo numa hora fundamental.
Viegas está desgastado junto aos comandantes militares por causa do que consideram má condução das negociações por reajuste salariais e dentro do próprio governo devido a supostos deslizes éticos.

Genoino
O presidente do PT, José Genoino, negou que o partido ou membros da sigla ligados a Dirceu estejam pressionando Lula para que ele devolva ao ministro da Casa Civil as atribuições de articulador político. "Nunca tratei desse assunto com o presidente. O PT não pressiona o presidente. Pode fazer sugestões, mas nunca pressões", diz. Segundo ele, Aldo tem feito um "bom trabalho".
A interlocutores, João Paulo disse estar "muito bem" com o ministro da Coordenação Política. Na segunda-feira, o presidente da Câmara pediu "solidariedade" a Dirceu, que estaria sendo criticado de "forma injusta".


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