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Estados terão áreas específicas para assentamentos
Incra quer concentrar desapropriações em pontos estratégicos; sem-terra terão de migrar para local selecionado pelo governo
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal definiu
uma mudança de estratégia para tentar diminuir o número de
famílias sem-terra acampadas.
Nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, um certo
ponto de cada Estado irá concentrar as desapropriações de
áreas aos novos assentamentos
de reforma agrária.
Na prática, cada um desses
Estados terá, a partir de agora,
uma espécie de microrregião
específica para a criação de
projetos de assentamento.
A idéia do Incra (Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária) é que famílias
sem-terra de outras regiões de
um mesmo Estado sejam convencidas a migrar ao ponto escolhido pelo governo -haverá
resistência, pois os movimentos e as entidades de lavradores
estão acostumados a pressionar pela desapropriação justamente das áreas invadidas.
Rolf Hackbart, presidente do
Incra, diz que essas serão as
chamadas "áreas reformadas"
dos Estados. Vários fatores irão
defini-las, entre os quais a concentração de terra (ou seja, onde há muitos hectares nas mãos
de poucos proprietários).
"Nessa área reformada tem
de haver a seguinte combinação: a maior concentração da
propriedade e que a terra seja
viável para a agricultura. Além
disso, que tenha uma maior demanda por terra e a possibilidade de acesso ao mercado."
Quando sugere a migração
dos acampados para as "áreas
reformadas", o governo sinaliza que, pelo menos em princípio, não deseja continuar desapropriando áreas a reboque das
pressões dos movimentos.
A orientação do Planalto ao
Incra é priorizar os acampados.
Mas o fato de uma família estar
há cinco anos debaixo de um
barraco de lona, por exemplo,
não será critério no momento
de selecioná-la para preencher
um novo lote de assentamento
(leia texto nesta página).
Ao traçar esse plano, o governo quer amenizar a dívida deixada com os movimentos no
primeiro mandato. O recado é
especialmente dirigido ao MST
(Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), que, entre amanhã e sexta-feira, em
Brasília, espera reunir pelo menos 15 mil integrantes em seu
5º Congresso Nacional.
Entre 2003 e 2006, a maioria
das famílias foi assentada na região amazônica -ou seja, longe
das bases dos sem-terra. Atualmente, no país, há cerca de 200
mil famílias (quase 1 milhão de
pessoas) vivendo em acampamentos, a maioria delas nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. Em 2007, a meta
é assentar 100 mil famílias.
O comando do Incra, porém,
sabe que não depende só de
vontade própria para pôr em
prática esse plano, que inclui
ainda a meta de diminuir de 18
para sete meses o período médio entre a vistoria de uma área
e o assentamento das famílias.
O órgão, assim como os líderes sem-terra, aguarda que o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva cumpra a promessa, feita
dois anos atrás, de atualizar os
índices de produtividade usados como critério para desapropriar uma propriedade rural para fins de reforma agrária.
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