|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRISE NO GOVERNO
Presidente nega ter mudado de posição sobre intervenção no ES
FHC diz que se sentiu "traído" por atitudes de Reale Júnior
LEILA SUWWAN
SANDRO LIMA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após a posse do novo ministro
da Justiça, Paulo de Tarso Ribeiro,
o presidente Fernando Henrique
Cardoso divulgou uma carta que
enviou ontem ao ex-ministro Miguel Reale Jr. na qual afirma se
sentir "traído" pelas atitudes do
amigo e nega que tenha mudado
de posição sobre a intervenção federal no Espírito Santo.
Reale Jr. pediu demissão por se
sentir "desautorizado" por FHC
no episódio em que o procurador-geral da República, Geraldo
Brindeiro, arquivou o pedido de
intervenção feito com base em
violação dos direitos humanos.
FHC disse na carta que era necessário "recapitular os fatos" e
negou a versão de Reale Jr. de que
teria mudado de idéia sobre a intervenção ou que teria influenciado Brindeiro a não levar adiante o
pedido. "Disse-lhe que nas circunstâncias atuais e com tantas
dificuldades sentia-me traído e
não podia compreender como
Vossa Excelência colocava suas
suscetibilidades (eventualmente
compreensíveis com respeito ao
procurador, mas não quanto a
mim) acima do interesse público", escreveu FHC, sobre o telefonema no qual pediu para Reale Jr.
ficar no cargo, na segunda à noite,
após Brindeiro ter anunciado o
arquivamento do pedido.
A crise no governo, que também levou à demissão de cinco
colaboradores de Reale Jr., incluindo o diretor da Polícia Federal, Itanor Carneiro, teve início
com a aprovação do pedido de intervenção federal no Espírito Santo pelo CDDPH (Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana) na semana passada.
Reale Jr. sustenta que já tinha
assegurado o aval de FHC para
dar andamento à intervenção.
Segundo o presidente, Reale Jr.
nunca pediu uma audiência para
discutir a situação do Estado, que
foi tratada "de passagem" em
uma reunião. FHC afirmou que,
naquele momento, considerou
"adequado" enviar a questão ao
STF (Supremo Tribunal Federal),
o que até pouparia o governo de
um ato que "atinge gravemente o
princípio do federalismo".
Ainda segundo FHC, Brindeiro
pediu audiência urgente na segunda para afirmar que "não havia base jurídica" para encaminhar o pedido de intervenção ao
Supremo porque não seria o tribunal adequado.
O presidente disse que só ontem
recebeu o relatório do conselho
sobre a questão e que Reale Jr. não
lhe forneceu dados suficientes para que formasse "um juízo preciso" sobre o assunto.
Texto Anterior: Janio de Freitas: O intervalo Próximo Texto: Íntegra da carta: "Não mudei de idéia", afirma presidente Índice
|