São Paulo, quinta-feira, 11 de julho de 2002

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CRISE NO GOVERNO

Presidente nega ter mudado de posição sobre intervenção no ES

FHC diz que se sentiu "traído" por atitudes de Reale Júnior

LEILA SUWWAN
SANDRO LIMA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após a posse do novo ministro da Justiça, Paulo de Tarso Ribeiro, o presidente Fernando Henrique Cardoso divulgou uma carta que enviou ontem ao ex-ministro Miguel Reale Jr. na qual afirma se sentir "traído" pelas atitudes do amigo e nega que tenha mudado de posição sobre a intervenção federal no Espírito Santo.
Reale Jr. pediu demissão por se sentir "desautorizado" por FHC no episódio em que o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, arquivou o pedido de intervenção feito com base em violação dos direitos humanos.
FHC disse na carta que era necessário "recapitular os fatos" e negou a versão de Reale Jr. de que teria mudado de idéia sobre a intervenção ou que teria influenciado Brindeiro a não levar adiante o pedido. "Disse-lhe que nas circunstâncias atuais e com tantas dificuldades sentia-me traído e não podia compreender como Vossa Excelência colocava suas suscetibilidades (eventualmente compreensíveis com respeito ao procurador, mas não quanto a mim) acima do interesse público", escreveu FHC, sobre o telefonema no qual pediu para Reale Jr. ficar no cargo, na segunda à noite, após Brindeiro ter anunciado o arquivamento do pedido.
A crise no governo, que também levou à demissão de cinco colaboradores de Reale Jr., incluindo o diretor da Polícia Federal, Itanor Carneiro, teve início com a aprovação do pedido de intervenção federal no Espírito Santo pelo CDDPH (Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana) na semana passada.
Reale Jr. sustenta que já tinha assegurado o aval de FHC para dar andamento à intervenção.
Segundo o presidente, Reale Jr. nunca pediu uma audiência para discutir a situação do Estado, que foi tratada "de passagem" em uma reunião. FHC afirmou que, naquele momento, considerou "adequado" enviar a questão ao STF (Supremo Tribunal Federal), o que até pouparia o governo de um ato que "atinge gravemente o princípio do federalismo".
Ainda segundo FHC, Brindeiro pediu audiência urgente na segunda para afirmar que "não havia base jurídica" para encaminhar o pedido de intervenção ao Supremo porque não seria o tribunal adequado.
O presidente disse que só ontem recebeu o relatório do conselho sobre a questão e que Reale Jr. não lhe forneceu dados suficientes para que formasse "um juízo preciso" sobre o assunto.


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