São Paulo, quinta-feira, 11 de julho de 2002

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PT estima base reduzida de apoio a Lula na Câmara

FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um eventual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) partiria de uma base parlamentar própria na Câmara dos Deputados mais frágil que a do atual governo.
É o que indica relatório interno do partido obtido pela Folha, segundo o qual o PT espera fazer no máximo 85 deputados federais na eleição de outubro -ainda assim numa estimativa otimista. O mais provável é que a bancada cresça menos, dos atuais 59 para algo entre 72 e 75.
No Senado, a perspectiva de crescimento é maior. O PT espera aumentar a bancada dos atuais oito senadores para até 14.
Apesar da elevação na Câmara, o PT deverá continuar com menos deputados do que têm hoje os principais partidos da base governista. Hoje, o PSDB tem 95 deputados, enquanto o PMDB possui 87. O PFL,que decretou "independência" mas apoiou o governo por mais de sete anos, possui 97 parlamentares na Câmara.

Ampliar a base
Os dados mostram que Lula teria de trabalhar duro para conseguir aprovar no Congresso as reformas que vem prometendo -tributária, previdenciária, política, trabalhista e agrária. Muitas delas exigem quórum qualificado, de três quintos -ou 308 deputados-, por envolverem mudanças constitucionais.
O PT precisará buscar apoios além de sua coligação, tendo de ampliar ainda mais seu arco de alianças. Os partidos que sustentam Lula -além de PT, PL e PC do B -deverão eleger, no máximo, 130 deputados federais.
Somados outros partidos de esquerda e centro -PSB, PDT, PPS e PTB-, a plataforma lulista poderá se aproximar de 200 parlamentares.
Com ainda mais otimismo,os petistas sonham atrair nacos de PMDB e PSDB para formar uma "base flutuante" pró-Lula de até 300 parlamentares. O problema é que quanto mais se amplia o espectro de aliados, mais gelatinosa tende a ser esta base.
O histórico da era Fernando Henrique Cardoso é bastante ilustrativo. Ao ser eleito em 1998, Fernando Henrique Cardoso tinha o apoio nominal na Câmara de quase 400 deputados, em 513.
Na prática, essa frente sempre foi fluida, com parlamentares formando dissidências em razão de seus interesses paroquiais.
O governo acabou perdendo várias votações, principalmente em matérias como reforma previdenciária e administrativa. As reformas tributária e política, que chegaram a ser colocadas como prioridade, não puderam nem ir a votação.

Voto na legenda
Para ajudar a aumentar a bancada, o PT pretende fazer uma campanha institucional durante o horário eleitoral estimulando o voto em sua legenda na eleição para deputados.
"A legenda petista é uma das que têm maior reconhecimento e credibilidade quando o assunto é Congresso Nacional, segundo atestam pesquisas que temos", diz o secretário nacional de Organização do partido, Silvio Pereira.
Segundo o relatório petista, haverá pequenas elevações na bancada federal do partido na maioria dos Estados.
Na Bahia, por exemplo, o partido espera aumentar o número de deputados de 5 para 6. No Rio de Janeiro, poderá crescer de 4 para até 7 federais. Em São Paulo, os atuais 14 poderão chegar a até 16. E no Rio Grande do Sul, "fortaleza" petista, a bancada deverá aumentar dos atuais 9 para 11 deputados federais.
O partido também espera eleger pela primeira vez representantes em Estados como Amazonas, Amapá, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima e Tocantins.
Apenas em um Estado há perspectiva de redução da bancada: Minas Gerais, em que os sete deputados eleitos em 1998 devem ser reduzidos para quatro ou cinco. Esta elevação teria de ser maior, no entanto, para dar a Lula base parlamentar mais sólida.
Em seus discursos e documentos, o presidenciável tem prometido fazer um amplo programa de reformas no país. A primeira seria a tributária, já no primeiro ano de governo.
"Ter maioria na Câmara não garante aprovação dos projetos do governo, como mostrou a base de Fernando Henrique. O importante é ter um presidente que negocie com os partidos em bases éticas, para ampliar seu apoio. É o que Lula se propõe a fazer", disse o líder do PT na Câmara, João Paulo Cunha (SP).


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