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Candidato não autoriza divulgação de fitas
MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO
O candidato do PSB à Presidência, Anthony Garotinho, recuou
ontem e manteve a proibição da
divulgação do conteúdo de fitas
em que supostamente autoriza
assessores a pagar suborno a um
fiscal da Receita Federal, em 1995.
Ele quer que os meios de comunicação submetam as transcrições
da fita a sua aprovação prévia.
Em entrevista ao vivo anteontem no "Jornal Nacional", da TV
Globo, Garotinho disse que liberava a divulgação das gravações,
menos aquelas cujo conteúdo tivesse caráter pessoal. "Tenho o
maior prazer de liberar", disse.
Ontem, porém, o assessor de
imprensa de Garotinho, Carlos
Henrique Vasconcellos, afirmou
à Folha que a declaração do candidato "não tem valor legal". Outro assessor, Fábio Dupin, disse
que os meios de comunicação deveriam procurar o advogado do
candidato, Sérgio Mazillo. Segundo ele, só depois de um acordo
prévio entre as partes o material
poderia ser publicado.
A decisão de ontem contraria
manifestação do próprio Garotinho, que, em entrevista à Folha,
publicada em 9 de junho, disse
que se arrependia de ter pedido a
proibição das fitas. "Hoje eu não
faria outra vez. As fitas não tinham nada de mais e eu fiquei
com uma fama de censor", disse.
A Folha procurou contato durante todo o dia de ontem com
Mazillo. Em seu escritório, informaram que ele estaria no Fórum.
Seu celular estava desligado.
O sócio de Mazillo, Bruno Castilho, disse que o advogado estava
em uma audiência com desembargadores no Órgão Especial do
Tribunal de Justiça do Rio e que
não saberia informar a hora que
voltaria ao escritório. No entanto,
segundo a assessoria de imprensa
do Tribunal, o Órgão Especial está
em recesso até agosto.
O juiz Sérgio Ricardo Arruda
Fernandes, da 21ª Vara Cível do
Rio, que proibiu a divulgação das
fitas, disse que não recebeu até o
fim da tarde de ontem nenhuma
petição de Mazillo pedindo a liberação do conteúdo das gravações,
conforme prometera Garotinho.
Às 16h52 de ontem, o Departamento Jurídico da Folha recebeu
uma Notificação Extrajudicial, assinada pela advogada Rosely Ribeiro de Carvalho Pessanha, informando "que os trechos a serem divulgados devem ser levados ao conhecimento" de Garotinho. A mesma notificação reafirmava que a intenção de Garotinho é a de "preservar a divulgação
de conteúdo que diga respeito à
(sua) vida pessoal" e de terceiros.
A Folha encaminhou às 19h ofício ao candidato do PSB com cópias da transcrição de vários trechos das fitas proibidas e solicitando sua publicação. O ofício informa que aguarda uma resposta
de Garotinho ao longo do dia de
hoje, para que o conteúdo possa
ser publicado na edição de amanhã. O ofício foi entregue no escritório de seus advogados, depois de ter sido recusado em seu
comitê eleitoral. As gravações do
suposto suborno foram feitas pelo
empresário e fazendeiro Guilherme Freire, ex-colaborador de Garotinho. Na entrevista ao "Jornal
Nacional", Garotinho disse que
Freire é réu em 39 processos.
Na verdade, ele é réu em 20 processos na Justiça Federal, dos
quais 18 movidos pela Fazenda
Nacional, com uma condenação
por falsificação de nota fiscal e
uma absolvição em processo de
apropriação indébita previdenciária. Na Justiça do Rio, Freire
responde a duas ações, ambas
movidas por Garotinho -uma
queixa-crime e uma de indenização por calúnia e difamação.
Garotinho teria participado de
negociação para subornar o fiscal
da Receita Federal Marcos Pereira
de Azevedo, em 1995, com a ajuda
do advogado Jonas Lopes de Carvalho Júnior e de seu contador
Waldemar Linhares Duarte.
Na época, sem mandato, o presidenciável matinha uma empresa organizadora de sorteios, a Garotinho Editora Gráfica Ltda, em
nome de sua mulher, Rosinha
Matheus, hoje candidata ao governo do Rio, e de Carvalho Júnior, atualmente conselheiro do
TCE (Tribunal de Contas do Estado) indicado por Garotinho.
Para que pudesse fazer os sorteios, Garotinho precisava aumentar o capital da empresa, de
apenas R$ 10 mil. Graças ao suposto suborno, o capital da editora foi alterado para R$ 190 mil e
registrado na Junta Comercial do
Rio, sem que constasse nas declarações de imposto de renda dos
sócios.
Em dezembro do ano passado,
Carvalho e Rosinha foram multados, cada um, em R$ 200 mil. Garotinho disse à Folha, em junho
deste ano, que já pagou a dívida,
mas para isso teve que contrair
um empréstimo pessoal. Carvalho, por intermédio de seu advogado, Guilherme Azevedo, afirmou que pagou a multa à vista.
O fiscal Marcos Pereira de Azevedo ainda trabalha na mesma
delegacia da Receita Federal, em
Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Ele não foi localizado pela
Folha ontem. No local, informaram que o fiscal está em treinamento e só voltará ao trabalho na
próxima semana.
O contador Waldemar Linhares
Duarte não quis comentar o assunto. Até o final do governo Garotinho, em abril, ele trabalhou
como diretor administrativo da
Ceasa no Rio. Hoje, tem um escritório particular de contabilidade
em Brás de Pina (zona norte).
Colaborou DANIELA MENDES, da Sucursal do Rio
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