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CPI pede a cassação de 72 congressistas e inocenta 18
Propinas pagas aos deputados e senadores somariam pelo menos R$ 9 milhões
PL, PTB e PP, envolvidos no
escândalo do mensalão,
reúnem 65% dos acusados;
Rio é o Estado com o maior
número de denunciados
ADRIANO CEOLIN
LETÍCIA SANDER
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Quase dois meses após sua
criação, a CPI dos Sanguessugas aprovou ontem relatório
que pede a cassação do mandato de 69 deputados federais e
três senadores por suposto envolvimento na fraude das ambulâncias. Nunca um grupo tão
grande de parlamentares -12%
do Congresso- foi acusado formalmente de participação num
caso de corrupção.
As propinas pagas aos deputados e senadores somariam
pelo menos R$ 9 milhões, sendo que o suposto parlamentar
mais agraciado, o deputado Lino Rossi (PP-MT), teria ficado
com um terço, R$ 3,1 milhões.
Dos 72 congressistas acusados pela comissão, a maior parte é da bancada do Rio, com 13
integrantes. Vários pertencem
à bancada evangélica. Em relação aos partidos, lideram o ranking três que tiveram destaque
no escândalo do mensalão e
que integram a base governista.
O PL tem 18 envolvidos, o PTB
tem 16 e o PP, 13: eles reúnem
65% dos acusados. O PT, também envolvido no mensalão,
tem 2 envolvidos. Na oposição,
o PFL tem 7 filiados acusados.
O PSDB tinha 1, que pediu desligamento do partido no dia 2.
Dois outros escândalos resultaram num número elevado
de pedidos de cassações, mas
bem abaixo do atual. A CPI do
Orçamento, durante o governo
Itamar Franco, pediu a cassação de 18 deputados. A dos Correios, já no governo Lula, de 19.
O relatório do senador Amir
Lando (PMDB-RO) propôs o
arquivamento da investigação
contra 18 deputados por falta
de provas. Entre eles, foi incluída na última hora a deputada
Teté Bezerra (PMDB-MT), que
consta na contabilidade da Planam, empresa que encabeçaria
a fraude, como beneficiária de
R$ 72 mil em dinheiro.
Depoimentos
Integrantes da CPI disseram
que pesaram na decisão os últimos depoimentos de Luiz Antonio Trevisan Vedoin, sócio da
Planam, que negou os pagamentos à parlamentar. "Inegavelmente, a materialidade de
fatos ilícitos está comprovada",
afirma o relatório, referindo-se
ao esquema.
O texto de Lando foi aprovado pela quase totalidade da CPI
(de forma simbólica). Só o senador Wellington Salgado
(PMDB-MG) votou contra, e
Sibá Machado (PT-AC) se absteve. "A sensação é de dever
cumprido. O resultado, real e
efetivo, está aí para a sociedade
brasileira", afirmou o presidente da comissão, o deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ).
Os crimes apontados no relatório são os de concussão, corrupção passiva e ativa, condescendência criminosa, advocacia administrativa, exploração
de prestígio e fraude em licitações. O julgamento no Congresso, porém, é de natureza
política: acarreta no máximo a
cassação do mandato e a inelegibilidade de oito anos a partir
do fim da legislatura. Dos 90 investigados pela CPI, 57 respondem a inquérito na Procuradoria Geral da República.
O esquema dos sanguessugas
veio à tona em maio, por meio
de operação da Polícia Federal.
Segundo as investigações, a
Planam se beneficiaria desde
2001 de recursos federais ao
vender ambulâncias e equipamentos médicos superfaturados a prefeituras. As verbas
eram alocadas no Orçamento
da União por meio de emendas
de congressistas, que receberiam propina média de 10%.
Lando só encerrou o texto do
relatório, de 975 páginas, fora
os anexos, na madrugada de
ontem. "Esse esforço hercúleo,
sobretudo nos últimos três
dias, me levou à exaustão, principalmente pela questão emocional, de ouvir o desespero de
muitos parlamentares. Chego
aqui com condição física, psicológica e mental de extremo desgaste", disse ele.
Durante os debates que antecederam a votação, alguns parlamentares criticaram o relatório pelo fato de ele não ter diferenciado, entre os 72, quem teria "provas robustas" de envolvimento na fraude e quem teria
contra si só acusações da família Vedoin. "Esse não é um relatório corajoso. A coragem seria
tirar o nome de parlamentares
contra os quais não há prova",
discursou Wellington Salgado,
que, sem citar nomes, falava em
defesa dos senadores Ney Suassuna (PMDB-PB) e Magno
Malta (PL-ES).
A senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) chegou a telefonar
ao senador Eduardo Suplicy
(PT-SP), no meio da sessão, para que ele reclamasse com Biscaia pelo fato de sua defesa não
ter sido incluída no relatório. A
CPI notificou todos, mas não
incluiu as defesas no texto.
Segundo Biscaia, a CPI enviará todas as manifestações
dos acusados às Mesas da Câmara e do Senado. Após a sessão, Biscaia, Fernando Gabeira
(PV-RJ), José Carlos Aleluia
(PFL-BA) e Raul Jungmann
(PPS-PE) comemoraram numa
churrascaria. "Agora, a bola da
vez é o fim do voto secreto nas
votações para aprovar cassações", disse Jungmann.
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