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Marido da governadora tem cargo e influi no governo
XICO SÁ
ENVIADO ESPECIAL A SÃO LUÍS
A imagem de mulher independente, moderna, firme e decidida,
como divulga a propaganda do
PFL na TV, é vista com ironia pelos adversários da governadora
Roseana Sarney no Maranhão.
"Todo mundo sabe, até as crianças, que o Jorge Murad manda
tanto ou mais no governo do que
a governadora", diz o deputado
estadual Pedro Alves (PSB). "É
mais do que uma eminência parda, desde a primeira gestão".
Casado com a governadora,
Murad, ou "primeiro-cavalheiro", como é tratado por parlamentares na Assembléia Legislativa, está longe de ser um decorativo "Mr. Thatcher" -Roseana
não chega a ser a dama-de-ferro
(apelido da ex-primeira-ministra
britânica Margaret Thatcher) do
Maranhão.
O genro do ex-presidente José
Sarney ocupa o cargo de gerente
de Planejamento e Desenvolvimento Econômico do Estado
-considerada uma supersecretaria, órgão que trata de todo o investimento estadual e tem controle sobre as demais pastas.
Responsável pelo orçamento estadual, de R$ 2,9 bilhões, o "supergerente" não admite uma única emenda, por parte dos deputados estaduais, na peça que elabora
sobre a divisão dos gastos dos cofres públicos para cada ano.
Durante a gestão da governadora, o orçamento não foi emendado nem mesmo pelos políticos
mais fiéis ou velhos aliados. Passa
pela Assembléia Legislativa apenas para cumprir a burocracia.
Com 36 parlamentares -de
um total de 42- do chamado
"rolo compressor" governista,
Murad consegue livrar o orçamento que prepara até mesmo de
debate no Poder Legislativo.
"Só mudaram alguma coisa na
obra orçamentária de Jorge Murad uma vez na vida: quando destinaram recursos para uma estatal
que já havia sido extinta", diz o
deputado tucano Aderson Lago.
"Aí tiveram que consertar a mancada, não tinha outro jeito".
Com amplos poderes, o "primeiro-cavalheiro", cuja visão empresarial adotada no governo é alvo de ataques dos adversários e
também de queixas reservadas de
aliados, é interlocutor do Estado
com empresas ou qualquer homem de negócios que resolva investir no Maranhão.
Pólo frustrado
Foi Murad, por exemplo, quem
negociou a instalação do Pólo Industrial de Confecções de Rosário, inaugurado, com uma grande
festa, em 96, por Roseana e pelo
presidente Fernando Henrique
Cardoso. Seria, conforme divulgado na época, o mais ambicioso
projeto social da governadora.
O pólo nunca chegou a funcionar como havia sido planejado.
Prometia empregar 4.300 pessoas
ligadas a 90 grupos comunitários,
mas nunca chegou a 10% desse
número. Com aval da administração maranhense, o projeto obteve
empréstimos de R$ 7 milhões.
O dinheiro veio do Bird (Banco
Mundial) e do BNB (Banco do
Nordeste Brasil). O maior beneficiado com essa história, segundo
denúncia do Ministério Público,
foi o brasileiro naturalizado
Chhai Kwo Chheng, de Taiwan,
que comandava a Kao-I Indústria
e Comércio, empresa que controlaria o pólo de confecções.
Chheng, acolhido no Maranhão
por Murad -assessor especial de
Roseana no primeiro mandato da
governadora (95-98)- chegou a
ter prisão preventiva decretada
em 98. Com um habeas corpus, livrou-se da cadeia. O caso tramita
no STJ (Superior Tribunal de Justiça), em Brasília.
"Não há como realizar qualquer
grande negócio no Maranhão
sem passar pelo marido da governadora", diz o deputado Lago.
"Ele está em todos os lances".
A primeira vez que Murad teve
o seu nome associado a irregularidades foi durante o governo do
presidente José Sarney, quando
exercia o posto de secretário particular no Palácio do Planalto.
Foi acusado, por membros da
chamada "CPI da Corrupção"
aberta no Senado, de fazer parte
de um esquema de desvios de recursos da área social da administração. Negou qualquer envolvimento e saiu ileso do caso.
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