São Paulo, domingo, 11 de novembro de 2001

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Marido da governadora tem cargo e influi no governo

XICO SÁ
ENVIADO ESPECIAL A SÃO LUÍS

A imagem de mulher independente, moderna, firme e decidida, como divulga a propaganda do PFL na TV, é vista com ironia pelos adversários da governadora Roseana Sarney no Maranhão.
"Todo mundo sabe, até as crianças, que o Jorge Murad manda tanto ou mais no governo do que a governadora", diz o deputado estadual Pedro Alves (PSB). "É mais do que uma eminência parda, desde a primeira gestão".
Casado com a governadora, Murad, ou "primeiro-cavalheiro", como é tratado por parlamentares na Assembléia Legislativa, está longe de ser um decorativo "Mr. Thatcher" -Roseana não chega a ser a dama-de-ferro (apelido da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher) do Maranhão.
O genro do ex-presidente José Sarney ocupa o cargo de gerente de Planejamento e Desenvolvimento Econômico do Estado -considerada uma supersecretaria, órgão que trata de todo o investimento estadual e tem controle sobre as demais pastas.
Responsável pelo orçamento estadual, de R$ 2,9 bilhões, o "supergerente" não admite uma única emenda, por parte dos deputados estaduais, na peça que elabora sobre a divisão dos gastos dos cofres públicos para cada ano.
Durante a gestão da governadora, o orçamento não foi emendado nem mesmo pelos políticos mais fiéis ou velhos aliados. Passa pela Assembléia Legislativa apenas para cumprir a burocracia.
Com 36 parlamentares -de um total de 42- do chamado "rolo compressor" governista, Murad consegue livrar o orçamento que prepara até mesmo de debate no Poder Legislativo.
"Só mudaram alguma coisa na obra orçamentária de Jorge Murad uma vez na vida: quando destinaram recursos para uma estatal que já havia sido extinta", diz o deputado tucano Aderson Lago. "Aí tiveram que consertar a mancada, não tinha outro jeito".
Com amplos poderes, o "primeiro-cavalheiro", cuja visão empresarial adotada no governo é alvo de ataques dos adversários e também de queixas reservadas de aliados, é interlocutor do Estado com empresas ou qualquer homem de negócios que resolva investir no Maranhão.

Pólo frustrado
Foi Murad, por exemplo, quem negociou a instalação do Pólo Industrial de Confecções de Rosário, inaugurado, com uma grande festa, em 96, por Roseana e pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Seria, conforme divulgado na época, o mais ambicioso projeto social da governadora.
O pólo nunca chegou a funcionar como havia sido planejado. Prometia empregar 4.300 pessoas ligadas a 90 grupos comunitários, mas nunca chegou a 10% desse número. Com aval da administração maranhense, o projeto obteve empréstimos de R$ 7 milhões.
O dinheiro veio do Bird (Banco Mundial) e do BNB (Banco do Nordeste Brasil). O maior beneficiado com essa história, segundo denúncia do Ministério Público, foi o brasileiro naturalizado Chhai Kwo Chheng, de Taiwan, que comandava a Kao-I Indústria e Comércio, empresa que controlaria o pólo de confecções.
Chheng, acolhido no Maranhão por Murad -assessor especial de Roseana no primeiro mandato da governadora (95-98)- chegou a ter prisão preventiva decretada em 98. Com um habeas corpus, livrou-se da cadeia. O caso tramita no STJ (Superior Tribunal de Justiça), em Brasília.
"Não há como realizar qualquer grande negócio no Maranhão sem passar pelo marido da governadora", diz o deputado Lago. "Ele está em todos os lances".
A primeira vez que Murad teve o seu nome associado a irregularidades foi durante o governo do presidente José Sarney, quando exercia o posto de secretário particular no Palácio do Planalto.
Foi acusado, por membros da chamada "CPI da Corrupção" aberta no Senado, de fazer parte de um esquema de desvios de recursos da área social da administração. Negou qualquer envolvimento e saiu ileso do caso.


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