São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 2008

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JANIO DE FREITAS

O silêncio da voz


A falta de reação brasileira, ou dos emergentes, dispensa a União Européia do reexame do seu ato excludente

AS INCONTÁVEIS falas recentes de Lula, a propósito de novas regras para o sistema financeiro internacional, estão devendo a indispensável reação aos países europeus, encabeçados pela Alemanha, que recusam a inclusão dos países em desenvolvimento na formulação dos novos mecanismos. Se a omissão em defesa do respeito aos interesses do Brasil é inadmissível, por si mesma, torna-se ainda uma contradição incompreensível no Lula que procura apresentar-se, e o faz agora mesmo na Europa, como a liderança vocal dos países emergentes por seu reconhecimento pelos países ricos.
O convite de Bush a Lula, para a reunião que promove sábado em Washington, ao passo que exclui o espanhol José Luis Rodríguez Zapatero, não contrabalança as discriminações. Primeiro, porque a Europa é que está com a palavra nas idéias e nas providências preliminares para a reforma, empurrada pelo francês Nicolas Sarkozy e pelo inglês Gordon Brown -um, por sua disposição de agir; o outro, recuperado como competência na matéria. Segundo, por estarem em países europeus, e não nos Estados Unidos de um presidente na escada de saída, as atuais atitudes de marginalização explícita dos países em desenvolvimento.
A omissão do governo Lula à reação necessária implica, também, um risco inesperado. O convite para a reunião em Washington, recebido em Brasília com muita satisfação, ocorreu antes da concordância na União Européia, sexta-feira passada, em torno de um projeto básico apresentado por Sarkozy. Caso se confirmem as especulações de que os americanos aceitariam tal plano, como tema central da reunião em Washington, estará criado um problema grave para os países emergentes, e para o Brasil e Lula em particular.
No original proposto por Sarkozy à União Européia, como o repórter Marcelo Ninio narrou na Folha, os "países emergentes como o Brasil eram peças importantes na engrenagem econômica do século 21 e deveriam ganhar mais voz nas instituições multilaterais". Discordâncias conduzidas pela conservadora alemã Angela Merkel, porém, varreram os emergentes para fora do plano, em companhia das idéias mais avançadas para controlar a rede financeira do mundo. A falta de reação brasileira, ou dos emergentes, está dispensando a União Européia do reexame, antes da reunião em Washington, do seu ato excludente. E, com isso, transfere para a reunião a possível batalha dos emergentes para se verem reconhecidos e no seu pleno direito. Batalha, lá, em circunstâncias muito mais difíceis.

Operador
Palestras, discursos, conferências, entrevistas sucessivas, tudo feito com exaltação e messianismo como recomendariam as técnicas mais eficazes de candidatos em busca da classe média raivosa. É o delegado Protógenes Queiroz, no entanto.


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