São Paulo, Quarta-feira, 12 de Janeiro de 2000


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FHC decide tirar Alvares do Ministério da Defesa

Sérgio Lima - 18.dez.99/Folha Imagem
O ministro da Defesa, Elcio Alvares, ao deixar o Palácio do Planalto em reunião em dezembro



Célio Borja e Sydney Sanches são os nomes mais cotados para a pasta



Pefelistas pressionam presidente para manter atual ministro



Planalto queria reação mais forte de Alvares a acusações



Ministro nega possível pedido de demissão


ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu substituir o ministro da Defesa, Elcio Alvares, por um jurista apartidário. É apenas uma questão de tempo.
Os nomes mais cotados são o do ex-ministro da Justiça no governo Collor Célio Borja e o do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Sydney Sanches.
Até ontem à noite, porém, Elcio Alvares e líderes políticos negavam a substituição, enquanto assessores e interlocutores de FHC afirmavam que não havia prazos. As pressões políticas para que o presidente o mantivesse no cargo partiam sobretudo do PFL.
O porta-voz da Presidência, Georges Lamazière, limitou-se a afirmar no início da noite que o ministro continuaria no cargo e que não havia novidades em relação às declarações feitas por FHC pela manhã, em São Paulo.
"Ministro meu, enquanto eu não disser que não é, é ministro. E tem todo o meu apoio", dissera FHC naquela oportunidade.
Avaliava-se no Planalto que, se dissesse o contrário à noite, já em Brasília, FHC poderia reforçar uma imagem de indeciso que o presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL), por exemplo, alardeia. O porta-voz não concedeu, porém, sua tradicional entrevista no final do dia.
Primeiro ministro de uma pasta idealizada antes mesmo da posse de FHC e enfrentou resistências durante cinco anos até ser concretizada, Alvares é alvo de suspeitas e considerado "sem pulso" para comandar as Forças Armadas.
Desde que ele passou a ser citado em reportagens sobre desmandos no seu Estado, o Espírito Santo, FHC aguarda, sem sucesso, que ele responda de forma veemente e convincente. Mas Alvares prefere ficar calado.
"Faltou um soco na mesa, que nunca veio", disse um ministro, ontem, à Folha. Segundo ele, Elcio não sepultou as denúncias de participação no crime organizado e só depois de obrigado pelo presidente afastou sua assessora Solange Rezende Antunes, citada pela CPI do Narcotráfico, e o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Walter Bräuer, acusado de quebra de hierarquia.
A "gota d'água" foi uma reportagem do último número da revista "IstoÉ", que circulou no domingo, dizendo que Alvares sabia de uma ameaça de morte contra o delegado capixaba Cláudio Badenes e não a comunicou ao Ministério da Justiça.
Badenes, prêmio nacional de direitos humanos de 1996, apura supostas ligações do ministro com o crime organizado.
O Planalto deixava claro insistentemente, ontem, que o afastamento de Alvares não seria tanto pelas denúncias, consideradas confusas e, em alguns casos, inconsistentes. O problema é a falta de reação, a passividade, do ministro diante delas.
Parlamentarista desde os tempos de universidade, FHC sempre tratou o Ministério da Defesa como indispensável. Demorou a criá-lo, inclusive, para evitar que nascesse frágil. Mas era justamente isso que estava ocorrendo na gestão Alvares.
Com a nova pasta, os três ministérios militares -Aeronáutica, Marinha e Exército- viraram comandos, e seus chefes passaram de ministros a comandantes. Há reações contrárias em especial na Aeronáutica.
Filho e neto de oficiais do Exército, FHC tem algumas certezas sobre o Ministério da Defesa: seu chefe precisa ser um civil, ter autoridade, currículo impecável e honestidade comprovada.
Apesar de ter sido considerado apto para o cargo, Alvares tinha um defeito de origem: era político e tinha sido derrotado nas eleições para o governo do Espírito Santo. Paira a impressão de que FHC usou a pasta para uma acomodação política, mesmo depois que Alvares se desligou do PFL.
Com o surgimento de suspeitas sobre ele e o envolvimento de uma assessora direta nas investigações da CPI do Narcotráfico, sua posição se tornou delicada. Ele arranhou os princípios do currículo impecável e da honestidade comprovada.
Nos últimos dias de 1999, ele era considerado "sob observação" no Planalto. A sorte de Elcio passou a depender dele próprio, que se omitiu no caso de militares que se atracaram com fotógrafos no Forte de Copacabana no Ano Novo e, agora, ficou mudo diante da reportagem da revista.
Em vez de mirar para fora, a opinião pública, Alvares mirou para dentro, as Forças Armadas, para tentar se manter no cargo. Tanto que providenciou já na primeira e na segunda semanas de 2000 almoços com os três comandantes militares. Andrea Matarazzo, secretário de Comunicação, participou do almoço.
O presidente constatou duas tendências no governo, mas não se manifestara a favor de nenhuma delas até a segunda-feira, quando ainda esperava alguma manifestação do ministro sobre as novas denúncias.
Uma das tendências era contra o afastamento de Alvares, para não dar impressão de força para os militares, especialmente os da Aeronáutica, que sistematicamente criam problemas para o governo e poderiam considerar a substituição como uma vitória.
A outra era afastá-lo rapidamente, para ratificar uma "nova fase" de FHC, que tem sido aconselhado pelo seu comitê político a adotar um estilo mais incisivo, para recuperar popularidade.
Conforme a Folha apurou ontem, FHC acabou optando por constrangê-lo a pedir demissão. Algo que, ao longo do dia, o ministro dizia que não iria fazer.


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