|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Denúncia contra assessora acentuou crise
da Redação
A crise política envolvendo Elcio Alvares começou no dia 15 do
mês passado, quando CPI do
Narcotráfico decidiu quebrar os
sigilos bancário, telefônico e fiscal
de Solange Antunes Resende, assessora e mulher de confiança do
ministro da Defesa.
No dia seguinte à quebra dos sigilos, o então comandante da Aeronáutica, Walter Bräuer, afirmou que quem ocupa cargos públicos tem de ter a "reputação ilibada", numa referência à assessora de Alvares.
Antunes foi acusada de envolvimento com o crime organizado
no Espírito Santo. Depois, no dia
22, teve a quebra dos sigilos suspensa por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal).
As declarações do tenente-brigadeiro abriram uma crise no Ministério da Defesa, já que a crítica
do comandante da Aeronáutica
foi vista pelo presidente Fernando
Henrique Cardoso como uma insubordinação ao superior hierárquico de Bräuer, Alvares.
Dois dias após a quebra dos sigilos da assessora, a situação se tornou insustentável. Ou caía
Bräuer, ou o ministro passaria a
ser sistematicamente contestado
pelos militares subordinados à
sua pasta. FHC mandou Alvares
demitir Bräuer da Aeronáutica.
Durante a solenidade de passagem do cargo de Bräuer para Carlos de Almeida Baptista, a Aeronáutica fez voar sobre o ministro
o "Sucatão", avião presidencial
que havia tido a aposentadoria
decretada por Alvares dias antes.
Prosseguindo com as demonstrações de insatisfação, oficiais da
reserva promoveram um almoço
em desagravo a Bräuer no Clube
de Aeronáutica, no Rio, em que
Alvares foi definido como "menino de recados de FHC".
A insatisfação dos militares com
Alvares vinha desde a posse do
ministro, em 10 de junho do ano
passado. Mesmo tendo ficado
cerca de seis meses como ministro extraordinário -havia o cargo, mas o ministério não tinha sido criado-, Alvares não exercia
poder de fato sobre as atribuições
das pastas militares.
"Eu era responsável pela criação
e pela implantação do novo ministério. Eu não era o comandante dos militares, eles apenas tinham delicadeza comigo", justificou Alvares no dia da posse.
Além disso, nunca foi bem digerido entre os meios militares o fato de ter sido escolhido como primeiro chefe civil das Forças Armadas um político sem notória
experiência no setor de Defesa
-e, além disso, um candidato
derrotado ao governo de seu Estado (Espírito Santo).
Uma situação definiu o ânimo
dos militares em relação ao seu
novo superior: após a posse, enquanto Alvares recebia as saudações dos convidados, os até então
ministros do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, agora comandantes de Força, deixaram o
Planalto. "Vamos embora que a
festa é do senador", disse Bräuer,
ainda na Aeronáutica.
Em outubro de 99, Alvares enfrentou outros problemas, que
acentuaram seu desgaste político.
O ministro da Defesa aparecia
em 2 de 6 relatórios elaborados
pelo delegado Francisco Badenes
Júnior sobre o crime organizado
no Espírito Santo.
O inquérito conduzido por Badenes tinha como objetivo investigar a morte do advogado Carlos
Batista de Freitas, em 92, que tinha ligações com o crime organizado. Apesar dos organogramas,
Alvares não era citado no relatório final do delegado.
Texto Anterior: Militares dizem ignorar saída Próximo Texto: Elio Gaspari: Quem comprou Bräuer levou Adolfo Índice
|