São Paulo, Quarta-feira, 12 de Janeiro de 2000


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Denúncia contra assessora acentuou crise

da Redação

A crise política envolvendo Elcio Alvares começou no dia 15 do mês passado, quando CPI do Narcotráfico decidiu quebrar os sigilos bancário, telefônico e fiscal de Solange Antunes Resende, assessora e mulher de confiança do ministro da Defesa.
No dia seguinte à quebra dos sigilos, o então comandante da Aeronáutica, Walter Bräuer, afirmou que quem ocupa cargos públicos tem de ter a "reputação ilibada", numa referência à assessora de Alvares.
Antunes foi acusada de envolvimento com o crime organizado no Espírito Santo. Depois, no dia 22, teve a quebra dos sigilos suspensa por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal).
As declarações do tenente-brigadeiro abriram uma crise no Ministério da Defesa, já que a crítica do comandante da Aeronáutica foi vista pelo presidente Fernando Henrique Cardoso como uma insubordinação ao superior hierárquico de Bräuer, Alvares.
Dois dias após a quebra dos sigilos da assessora, a situação se tornou insustentável. Ou caía Bräuer, ou o ministro passaria a ser sistematicamente contestado pelos militares subordinados à sua pasta. FHC mandou Alvares demitir Bräuer da Aeronáutica.
Durante a solenidade de passagem do cargo de Bräuer para Carlos de Almeida Baptista, a Aeronáutica fez voar sobre o ministro o "Sucatão", avião presidencial que havia tido a aposentadoria decretada por Alvares dias antes.
Prosseguindo com as demonstrações de insatisfação, oficiais da reserva promoveram um almoço em desagravo a Bräuer no Clube de Aeronáutica, no Rio, em que Alvares foi definido como "menino de recados de FHC".
A insatisfação dos militares com Alvares vinha desde a posse do ministro, em 10 de junho do ano passado. Mesmo tendo ficado cerca de seis meses como ministro extraordinário -havia o cargo, mas o ministério não tinha sido criado-, Alvares não exercia poder de fato sobre as atribuições das pastas militares.
"Eu era responsável pela criação e pela implantação do novo ministério. Eu não era o comandante dos militares, eles apenas tinham delicadeza comigo", justificou Alvares no dia da posse.
Além disso, nunca foi bem digerido entre os meios militares o fato de ter sido escolhido como primeiro chefe civil das Forças Armadas um político sem notória experiência no setor de Defesa -e, além disso, um candidato derrotado ao governo de seu Estado (Espírito Santo).
Uma situação definiu o ânimo dos militares em relação ao seu novo superior: após a posse, enquanto Alvares recebia as saudações dos convidados, os até então ministros do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, agora comandantes de Força, deixaram o Planalto. "Vamos embora que a festa é do senador", disse Bräuer, ainda na Aeronáutica.
Em outubro de 99, Alvares enfrentou outros problemas, que acentuaram seu desgaste político.
O ministro da Defesa aparecia em 2 de 6 relatórios elaborados pelo delegado Francisco Badenes Júnior sobre o crime organizado no Espírito Santo.
O inquérito conduzido por Badenes tinha como objetivo investigar a morte do advogado Carlos Batista de Freitas, em 92, que tinha ligações com o crime organizado. Apesar dos organogramas, Alvares não era citado no relatório final do delegado.


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