São Paulo, domingo, 12 de fevereiro de 2006

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Apesar de críticas, frade apóia reeleição

DA SUCURSAL DO RIO

Apesar das críticas ao governo petista, Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, 60, que foi coordenador de Mobilização Social do Fome Zero e assessor especial da Presidência da República, diz que fará campanha pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na esperança de que faça "uma política econômica mais condizente com os princípios do PT" e seja resgatado pelos movimentos sociais.
"O presidente chegou ao governo, mas não necessariamente ao poder", afirmou Frei Betto. Leia a seguir trechos da entrevista. (PF)

Folha - A mosca azul picou o presidente Lula?
Frei Betto -
A mosca azul picou uma parcela significativa do PT e do governo. Não quero individualizar. Fujo disso. Picou em que sentido? Na medida em que um projeto de nação foi abandonado em favor de um projeto de eleição. Criou-se um projeto de poder sem a consciência de que este poder deveria ser instrumental, uma ferramenta para o fortalecimento das bases sociais que ajudaram a construir o PT e o governo, os movimentos populares. Isso foi abandonado.

Folha - Ao não individualizar, o sr. não poupa Lula?
Frei Betto -
Não quis fazer um livro de intrigas. Primeiro acho que foi o partido que estabeleceu toda a política de alianças. Foi a minha decisão. Não vou avaliar pessoas.

Folha - Lula não é responsável pelas mazelas que abateram o PT?
Frei Betto -
Não vou entrar nisso. Quero fazer minha análise de contexto. O objetivo é fazer uma análise histórica, à luz dos clássicos da política, sobre como o poder pode levar a processos muito positivos e a processos de desvios de suas propostas originárias.

Folha - Fica a sensação de que o sr. foi muito suave com o presidente no livro.
Frei Betto -
O presidente chegou ao governo, mas não necessariamente ao poder. Presidente pode muito mais se está sintonizado com o movimento popular. Pode pouco se está deslocado desse movimento organizado. [O senador] Marco Maciel [PFL-PE] saiu-se bem quando terminou a Constituinte e a imprensa perguntou a ele: quem ganhou? A esquerda ou a direita? Ele respondeu: ganharam os setores organizados.

Folha - O sr. elogia no livro o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Seria solução semelhante que defende para Lula?
Frei Betto -
Acho que o Chávez é indubitavelmente o presidente mais legitimado democraticamente na história republicana da América Latina. Ou seja, não há como chamá-lo de golpista.

Folha - Ele tentou dar um golpe antes de ser eleito.
Frei Betto -
Ele tentou salvar o país da corrupção. Uma vez eleito não há como dizer que agiu contra as regras democráticas construídas por aqueles que o precederam. Na Venezuela, não existe medida provisória. Todo ato do presidente tem de passar pelo Congresso.

Folha - Por que pretende fazer campanha de novo para Lula?
Frei Betto -
Na esperança de que os setores mais à esquerda do partido e os movimentos populares consigam pressionar essa política econômica e, num segundo mandato, fazer uma política econômica mais condizente com os princípios do PT. Mudanças tão esperadas e ainda não realizadas. Dentro do leque de candidatos que se apresentam, para os objetivos que como cidadão eu busco, que é o "empoderamento" do setor popular, Lula é o melhor candidato.


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