Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Apesar de críticas, frade apóia reeleição
DA SUCURSAL DO RIO
Apesar das críticas ao governo
petista, Carlos Alberto Libânio
Christo, o Frei Betto, 60, que foi
coordenador de Mobilização Social do Fome Zero e assessor especial da Presidência da República,
diz que fará campanha pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na esperança de que faça "uma política econômica mais
condizente com os princípios do
PT" e seja resgatado pelos movimentos sociais.
"O presidente chegou ao governo, mas não necessariamente ao
poder", afirmou Frei Betto. Leia a
seguir trechos da entrevista.
(PF)
Folha - A mosca azul picou o presidente Lula?
Frei Betto - A mosca azul picou
uma parcela significativa do PT e
do governo. Não quero individualizar. Fujo disso. Picou em que
sentido? Na medida em que um
projeto de nação foi abandonado
em favor de um projeto de eleição. Criou-se um projeto de poder sem a consciência de que este
poder deveria ser instrumental,
uma ferramenta para o fortalecimento das bases sociais que ajudaram a construir o PT e o governo, os movimentos populares. Isso foi abandonado.
Folha - Ao não individualizar, o
sr. não poupa Lula?
Frei Betto - Não quis fazer um livro de intrigas. Primeiro acho que
foi o partido que estabeleceu toda
a política de alianças. Foi a minha
decisão. Não vou avaliar pessoas.
Folha - Lula não é responsável pelas mazelas que abateram o PT?
Frei Betto - Não vou entrar nisso.
Quero fazer minha análise de
contexto. O objetivo é fazer uma
análise histórica, à luz dos clássicos da política, sobre como o poder pode levar a processos muito
positivos e a processos de desvios
de suas propostas originárias.
Folha - Fica a sensação de que o
sr. foi muito suave com o presidente no livro.
Frei Betto - O presidente chegou
ao governo, mas não necessariamente ao poder. Presidente pode
muito mais se está sintonizado
com o movimento popular. Pode
pouco se está deslocado desse
movimento organizado. [O senador] Marco Maciel [PFL-PE] saiu-se bem quando terminou a Constituinte e a imprensa perguntou a
ele: quem ganhou? A esquerda ou
a direita? Ele respondeu: ganharam os setores organizados.
Folha - O sr. elogia no livro o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Seria solução semelhante que
defende para Lula?
Frei Betto - Acho que o Chávez é
indubitavelmente o presidente
mais legitimado democraticamente na história republicana da
América Latina. Ou seja, não há
como chamá-lo de golpista.
Folha - Ele tentou dar um golpe
antes de ser eleito.
Frei Betto - Ele tentou salvar o
país da corrupção. Uma vez eleito
não há como dizer que agiu contra as regras democráticas construídas por aqueles que o precederam. Na Venezuela, não existe
medida provisória. Todo ato do
presidente tem de passar pelo
Congresso.
Folha - Por que pretende fazer
campanha de novo para Lula?
Frei Betto - Na esperança de que
os setores mais à esquerda do partido e os movimentos populares
consigam pressionar essa política
econômica e, num segundo mandato, fazer uma política econômica mais condizente com os princípios do PT. Mudanças tão esperadas e ainda não realizadas. Dentro
do leque de candidatos que se
apresentam, para os objetivos que
como cidadão eu busco, que é o
"empoderamento" do setor popular, Lula é o melhor candidato.
Texto Anterior: Escândalo do "mensalão"/O Presidente: Poder mostrou face real de Lula, diz Frei Betto Próximo Texto: Janio de Freitas: Jefferson de volta Índice
|