São Paulo, quinta-feira, 12 de março de 2009

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JANIO DE FREITAS

Fios soltos


Nota de juiz é valiosa para os que têm interrogações sobre o que possa ser o fundo oculto da Satiagraha

ESTÁ BEM nítida, e particularmente audível, a preocupação que tomou nos últimos dias alguns dos deputados mais sérios (ainda não é força de expressão, não), com a percepção de que o desenrolar da Satiagraha, antes e depois das prisões que a revelaram, tem muito mais ingredientes do que caberiam em seu propósito oficial.
Integrante da CPI dos Grampos, o deputado Raul Jungmann fez uma boa tradução visual do que se pode notar além dos fatos esparsos: "Percebem-se muitos fios, alguns emaranhados, outros não, mas as tantas pontas não se ligam entre si, nem se ligam a alguma parte lógica". Aí está, por exemplo, a menção ao que seria o conteúdo misterioso de arquivos eletrônicos do delegado Protógenes Queiroz, sobre Fernando Henrique e José Serra, entre outros. É compreensível que a Polícia Federal não conseguisse quebrar a senha de arquivos de Daniel Dantas, obra provável de superespecialistas, o que a levou a recorrer ao FBI. Mas não é crível que Protógenes tenha tal nível em computação, a ponto de especialistas da PF não conseguirem abrir certos arquivos seus. Embora pudessem fazê-lo, como se evidencia nos autos do processo, com vários outros também de Protógenes. Há nisso, no mínimo, motivo para estranheza.
Espera-se que ao menos, quanto a esses arquivos, a PF não os remeta a entidades estrangeiras, procurando especialistas por aqui mesmo. Neste país em que ainda há quem defenda, até publicamente, o obscurantismo de censura a documentos da ditadura de Getúlio, de 70 anos atrás, época em que o governo se debatia na histórica e mal conhecida divisão entre pró-nazistas e cautelosos, eis o que a PF fez: abriu ao conhecimento do FBI, logo dele, segredos cuja importância ignora e que podem conter material grave em muitos sentidos, dados o alto trânsito e as atividades de Daniel Dantas aqui e no exterior.
Valiosa para os que têm interrogações preocupadas com o que possa ser o fundo oculto da Satiagraha, ou do que a tem utilizado, passou pouco percebido um trecho muito expressivo da nota emitida pelo juiz Ali Mazloum. Ao comunicar a retirada, exceto para as gravações, do "segredo de Justiça" que resguardaria um dos processos da Satiagraha, o juiz escreve que a permanência do "segredo tem servido para o vazamento seletivo de informações, geralmente falsas, para desqualificar a apuração". Ressalto: "geralmente falsas".
Falsificadas, pode ser, por jornalistas, assim como por interessados que se passam por fontes de informação ou estão de algum modo associados a jornalistas, como já se comprovou em um dos momentos suspeitos da Satiagraha. O que importa, porém, é a advertência do juiz Ali Mazloum para manipulações que não se fariam sem algum interesse, diz o jargão, escuso. Como tantos outros fios dessa novela.


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