São Paulo, quarta-feira, 12 de abril de 2000


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Visita à PF surtiu efeito oposto e acabou acelerando a queda

AUGUSTO GAZIR
da Sucursal de Brasília

A visita do ex-ministro da Justiça José Carlos Dias à sede da Polícia Federal ontem -gesto com o objetivo de demonstrar força política e demarcar espaço no governo- teve efeito inverso ao esperado por Dias. O ato acabou sendo a gota d'água para a saída do ministro do governo Fernando Henrique Cardoso.
A atitude, classificada por Dias como "simbólica", desagradou ao presidente Fernando Henrique Cardoso, segundo a Folha apurou.
FHC já não havia gostado do ultimato que o ex-ministro fez a ele pela imprensa, condicionando sua permanência à saída do secretário nacional Antidrogas, Walter Maierovitch.
Na visita à PF, Dias fez questão de chamar a imprensa, entrar pela porta principal do prédio e se deixar fotografar ao lado do diretor-geral da entidade, Agílio Monteiro Filho. O ex-ministro disse que sua intenção era cumprimentar e prestigiar o diretor pelo bom trabalho no órgão.
Em entrevista, José Carlos Dias mandou um recado a Maierovitch, ao afirmar que o sucesso da PF em operações recentes deve-se ao cuidado com o sigilo. "Nós podemos trabalhar de uma forma absolutamente sigilosa."
O estopim da crise foi o fato de o secretário ter revelado à imprensa uma operação antidrogas da PF na fronteira com a Bolívia.
Dias evitou comentar a crise no fim da reunião. Questionado se pediria demissão, ele respondeu: "Não vou pedir demissão nada. Meu cargo está, sempre esteve, nas mãos do presidente."
O ministro e os policiais federais repudiam a idéia de o Gabinete de Segurança Institucional comandar a ação da PF no combate ao narcotráfico. O gabinete é liderado pelo general Alberto Cardoso, a quem Maierovitch é subordinado.
Divergências com Cardoso, por esse motivo, causaram também a demissão do ministro da Justiça anterior, Renan Calheiros.
Na visita para prestigiar a PF, José Carlos Dias brincou com Agílio Monteiro Filho, ao comentar que falava com ele todos os dias. "Mais do que com ele, só falo com minha mulher."
Ele citou recentes feitos da Polícia Federal, entre eles a apreensão de uma tonelada de maconha no Distrito Federal, anteontem, e a prisão da traficante Sâmia Haddock Lobo, conhecida como "rainha do pó".
"Esse é o trabalho que cobramos da Polícia Federal. Ela vai melhorar muito", disse o então ministro da Justiça.
Apesar de estar no cargo desde 19 de julho de 99, Dias nunca tinha estado no edifício-sede da PF, distante cerca de quatro quilômetros de seu ministério.
Nem mesmo os assessores próximos a Agílio Monteiro Filho sabiam da visita do ministro, decidida após um evento matinal da agenda de Dias.
Somente depois de 15 minutos é que os assessores de Agílio confirmaram que Dias visitaria mesmo o prédio, mas a operação foi adiada das 12h30 para as 14h30, a tempo de que toda a imprensa pudesse ser chamada para presenciar o ato.


Colaborou William França, da Sucursal de Brasília

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