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Visita à PF surtiu efeito oposto
e acabou acelerando a queda
AUGUSTO GAZIR
da Sucursal de Brasília
A visita do ex-ministro da Justiça José Carlos Dias à sede da Polícia Federal ontem -gesto com o
objetivo de demonstrar força política e demarcar espaço no governo- teve efeito inverso ao esperado por Dias. O ato acabou sendo a gota d'água para a saída do
ministro do governo Fernando
Henrique Cardoso.
A atitude, classificada por Dias
como "simbólica", desagradou ao
presidente Fernando Henrique
Cardoso, segundo a Folha apurou.
FHC já não havia gostado do ultimato que o ex-ministro fez a ele
pela imprensa, condicionando
sua permanência à saída do secretário nacional Antidrogas, Walter
Maierovitch.
Na visita à PF, Dias fez questão
de chamar a imprensa, entrar pela
porta principal do prédio e se deixar fotografar ao lado do diretor-geral da entidade, Agílio Monteiro Filho. O ex-ministro disse que
sua intenção era cumprimentar e
prestigiar o diretor pelo bom trabalho no órgão.
Em entrevista, José Carlos Dias
mandou um recado a Maierovitch, ao afirmar que o sucesso da
PF em operações recentes deve-se
ao cuidado com o sigilo. "Nós podemos trabalhar de uma forma
absolutamente sigilosa."
O estopim da crise foi o fato de o
secretário ter revelado à imprensa
uma operação antidrogas da PF
na fronteira com a Bolívia.
Dias evitou comentar a crise no
fim da reunião. Questionado se
pediria demissão, ele respondeu:
"Não vou pedir demissão nada.
Meu cargo está, sempre esteve,
nas mãos do presidente."
O ministro e os policiais federais repudiam a idéia de o Gabinete de Segurança Institucional comandar a ação da PF no combate
ao narcotráfico. O gabinete é liderado pelo general Alberto Cardoso, a quem Maierovitch é subordinado.
Divergências com Cardoso, por
esse motivo, causaram também a
demissão do ministro da Justiça
anterior, Renan Calheiros.
Na visita para prestigiar a PF,
José Carlos Dias brincou com
Agílio Monteiro Filho, ao comentar que falava com ele todos os
dias. "Mais do que com ele, só falo
com minha mulher."
Ele citou recentes feitos da Polícia Federal, entre eles a apreensão
de uma tonelada de maconha no
Distrito Federal, anteontem, e a
prisão da traficante Sâmia Haddock Lobo, conhecida como "rainha do pó".
"Esse é o trabalho que cobramos da Polícia Federal. Ela vai
melhorar muito", disse o então
ministro da Justiça.
Apesar de estar no cargo desde
19 de julho de 99, Dias nunca tinha estado no edifício-sede da PF,
distante cerca de quatro quilômetros de seu ministério.
Nem mesmo os assessores próximos a Agílio Monteiro Filho sabiam da visita do ministro, decidida após um evento matinal da
agenda de Dias.
Somente depois de 15 minutos é
que os assessores de Agílio confirmaram que Dias visitaria mesmo
o prédio, mas a operação foi adiada das 12h30 para as 14h30, a tempo de que toda a imprensa pudesse ser chamada para presenciar o
ato.
Colaborou William França,
da Sucursal de Brasília
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