São Paulo, quarta-feira, 12 de abril de 2000


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JANIO DE FREITAS
Que droga

Irresponsável, acovardado, contrário à população e preguiçoso -assim é a única definição possível para a atitude de Fernando Henrique Cardoso, que leva o país a perder o segundo ministro da Justiça pelo mesmo motivo injusto, absurdo e prejudicial à sociedade toda.
O confronto mais recente entre o Ministério da Justiça e o Gabinete da Segurança Institucional da Presidência segue o rumo daquele que levou ao vexame da nomeação e desnomeação, por Fernando Henrique Cardoso, de um diretor da Polícia Federal metido com torturas. E daí, como castigo por forçar a desnomeação, levou à perda do cargo de ministro por Renan Calheiros.
Na aparência, a constante confrontação é motivada por disputas em torno da ação contra o tráfico de drogas, de um lado estando o Ministério Justiça e a Polícia Federal que lhe é afeta e, de outro, o Gabinete de Segurança Institucional (ex-Gabinete Militar) e a sua Secretaria Nacional Antidrogas.
A causa primordial do problema está na falta de definição da responsabilidade pelo combate ao narcotráfico: é da Polícia Federal ou da Secretaria Antidrogas? Pela Constituição e ainda pela legislação específica, é da PF. Mas Fernando Henrique Cardoso aceitou curvar-se às pressões do Gabinete Militar e criar a tal secretaria, sem ter a coragem de enfrentar o despropósito de retirar da PF a respectiva tarefa policial e atribuí-la, despropósito do despropósito, à Presidência da República.
A consequência imediata é muito simples: o Brasil torna-se paraíso das drogas e do narcotráfico, mas não pode haver repressão a mais essa degenerescência nacional. Por motivo também muito simples: além das dificuldades criadas pela corrupção, o comando dúplice dificulta planejamento e atividades inteligentes e produtivas.
Quando da nomeação de um torturador para a direção da PF e a decorrente crise, Fernando Henrique Cardoso teve a advertência, que sua proclamada capacidade intelectual não lhe dera antes, de que precisa assumir o dever e angariar a coragem de uma definição das responsabilidades. Não o fez. Limitou-se a sacrificar o torturador e, em seguida, o ministro que repelira essa companhia indigna.
Com a omissão, alimento permanente da sua dubiedade, Fernando Henrique Cardoso deixou prosperar a dificuldade de combate efetivo ao narcotráfico, o que resulta em favorecimento direto aos narcotraficantes, sejam os do negócio internacional, sejam os impulsionadores da criminalidade nas cidades brasileiras.

Em tempo
Durante a permanência de José Carlos Dias como ministro da Justiça, impedi-me de fazer referência ao seu desempenho e mesmo ao ministério. Muitos leitores da Folha estarão lembrados de que José Carlos Dias, quando advogado de Naji Nahas, mandou ao jornal uma carta que tencionava insultar-me absolutamente.
Considerei, nos meses recentes, que alguma discordância com palavra ou ato do ministro José Carlos Dias poderia ser confundida com tola vindita, ou, ao menos, um ressentimento que nunca tive, certo de que na ocasião de sua carta apenas exerci meu jornalismo.
De outra parte, se me considerava impedido de alguma discordância ou crítica eventual, também o estaria para o elogio.
Hoje tenho o dever profissional, e nenhum constrangimento pessoal, de dizer que José Carlos Dias se mostrou, no governo, operoso e atento, inteligente e capaz, límpido e digno. Um ministro da Justiça verdadeiramente à altura desse cargo de importância extraordinária, mas tão aviltado.



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