São Paulo, quarta-feira, 12 de abril de 2000


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INVESTIGAÇÃO AMERICANA
Água Nova Comércio e Serviços, sócia da MetroRED, pertence à família de ex-secretário de Maluf
Filho de malufista instalou redes em SP

da Sucursal do Rio

da Reportagem Local

A empresa Água Nova Comércio e Serviços, responsável pela instalação das redes subterrâneas de fibras ópticas na capital paulista da empresa MetroRED, pertence ao filho de Walter Coronado Antunes, que foi secretário dos governos de Paulo Maluf no Estado (80-83) e na prefeitura (93-96).
A Água Nova e a MetroRED estão sendo investigadas pela Justiça dos EUA como parte de um suposto esquema de corrupção na Prefeitura de São Paulo para aprovação da construção de redes de fibras ópticas.
A empresa foi contratada pela MetroRED Telecomunicações para executar as obras que estavam sendo dificultadas pela Prefeitura de São Paulo.
A Água Nova está registrada em nome de filhos do ex-secretário: Walter Coronado Antunes Filho e Rose Coronado Antunes.
Segundo a Folha apurou, o ex-secretário teria intermediado os contatos entre a MetroRED e Flávio Maluf, filho do ex-prefeito Paulo Maluf, para que a empresa pudesse iniciar a construção da rede sem ter de esperar pela regulamentação da prefeitura.
Segundo o mercado, a Água Nova era uma empresa pequena e ganhou exclusividade da MetroRED para as obras em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Esses contratos somariam cerca de R$ 15 milhões.
A aproximação com o ex-secretário Walter Coronado teria sido feita pelo então diretor-geral da MetroRED, Jorge Vital, que aparece na lista de investigados do FBI e que acabou afastado da companhia em março de 99.
Em março de 98, a MetroRED obteve licença da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) para construir redes e circuitos de fibras ópticas em todo o país e explorar os serviços de transmissão de voz, dados e vídeo em regime privado. Pode oferecer os serviços para empresas -criando as chamadas redes corporativas-, mas não para o público em geral.
Além da MetroRED, outras 57 empresas obtiveram licenças para construção de redes de fibra óptica.
Enquanto o governo federal -por intermédio da Anatel- facilitava a entrada de empresas no mercado, em São Paulo (só a região metropolitana representa perto de 30% do mercado nacional), a prefeitura dificultava a aprovação dos projetos.
Em abril de 98, a MetroRED e a NetStream (que na época pertenciam ao grupo grupo Promon) entraram com pedido de aprovação de seus projetos para construção de redes de fibras ópticas no Convias.
Os projetos foram aprovados pelos técnicos pelo Convias (departamento da Secretaria de Vias Públicas), mas as empresas não obtiveram licença para iniciar a construção. A direção do órgão alegou que a prefeitura deveria cobrar pela licença e que as autorizações seriam dadas apenas quando a regulamentação estivesse pronta.
Em outubro do mesmo ano, o ex-secretário de Vias Públicas Reynaldo de Barros baixou portarias autorizando a MetroRED, Promon e BCP (operadora de celular da banda B na Grande São Paulo que também necessitava instalar cabos subterrâneos na cidade) a utilizar "em caráter precário e oneroso" as vias públicas para instalação de equipamentos de infra-estrutura urbana.
O Convias continuou não emitindo as licenças, alegando que a portaria não tinha força legal para autorizar a construção das redes. Mesmo assim, amparadas nessa portaria contestada, MetroRED e NetStream (grupo Promon) iniciaram as instalações.
Foi nesse ponto, segundo empresários, que entrou em ação o ex-secretário Walter Coronado. O suposto esquema de Flávio Maluf visava garantir a continuidade das obras. Era um esquema de proteção, resumiu uma das fontes ouvidas pela Folha.
A regulamentação definitiva só saiu em julho do ano passado, quando o prefeito Paulo Maluf editou o decreto 38.139 instituindo o TPU (Termo de Permissão de Uso) das vias públicas para a instalação dos cabos.

Outro lado
O administrador de empresas Walter Coronado Antunes Filho, dono da Água Nova Comércio e Serviços Ltda., disse ontem à Folha que a prefeitura autorizou a colocação de todas as redes de cabos de fibras ópticas instaladas por sua empresa na cidade.
"Sempre trabalhei com autorização da prefeitura; tenho as autorizações emitidas pela Prefeitura de São Paulo", afirma Antunes Filho. Mas, segundo ele, as autorizações eram enviadas à MetroRED e a Água Nova recebia apenas cópias delas. "Preciso verificar se ainda tenho as cópias."
Ele confirmou que trabalhou para a MetroRED Telecomunicações Ltda, mas disse que precisaria verificar os contratos entre as duas empresas para precisar o período no qual a Água Nova prestou serviços à MetroRED. "Prestei serviços, construi a rede da MetroRED nos últimos dois anos."
Antunes Filho reclamou de a Folha estar divulgando dados de uma investigação que corre em sigilo nos Estados Unidos. "Como eu vou me defender de um negócio que eu nem sei o que é?"
Ele disse que não tem relações comerciais com a prefeitura. "Só trabalho com empresas privadas. Foi um conselho do meu pai."
O administrador reafirmou que não tem relações com o empresário Flávio Maluf.


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