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REFORMA TRIBUTÁRIA
Reunidos com Dirceu, governadores aprovaram proposta, mas lançaram carta pela cobrança do ICMS no destino
Nordeste apóia Lula e obtém compensações
OTÁVIO CABRAL
ENVIADO ESPECIAL A NATAL
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM NATAL
O ministro da Casa Civil, José
Dirceu, conseguiu ontem o apoio
dos nove governadores do Nordeste para a aprovação da primeira etapa da reforma tributária,
que será enviada na quarta-feira
ao Congresso. Os Estados concordaram que a questão mais polêmica da reforma, a cobrança do
ICMS na origem ou no destino,
seja debatida apenas em uma segunda fase, dentro de dois anos.
Em troca, os Estados nordestinos conseguiram a promessa de
uma série de compensações financeiras imediatas do governo
federal sob a forma de programas
de desenvolvimento regional.
Mas, caso as promessas não sejam cumpridas, os governadores
ameaçam antecipar o debate sobre o local da cobrança do ICMS
(Imposto sobre a Circulação de
Mercadorias e Serviços) e atrapalhar a tramitação no Congresso.
O acordo foi selado em reunião
entre Dirceu, oito governadores e
um vice-governador em Natal
(RN). Os governantes também
definiram o apoio à proposta de
reforma da Previdência, inclusive
ao ponto mais controverso, a cobrança de inativos. Eles aceitaram
dividir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva o eventual desgaste que a medida provoque entre os servidores públicos. "Há
uma solidariedade para se proteger do fogo amigo", ironizou Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).
Os pedidos dos nordestinos,
que Dirceu prometeu atender, são
a atualização do valor do Fundef
(Fundo de Desenvolvimento do
Ensino Fundamental), a agilização do Prodetur (Programa de
Desenvolvimento do Turismo), a
reativação do Proágua (programa
de irrigação do semi-árido) e a recriação da Sudene.
Além disso, eles pediram o repasse de parte do valor arrecadado com a Cide (Contribuição de
Intervenção no Domínio Econômico) cobrada sobre o valor da
gasolina e outros derivados de petróleo, gás e álcool etílico. Dirceu
disse que vai analisar a viabilidade
de iniciar o repasse em 2004.
Início tenso
O início da reunião foi tenso. Os
governadores chegaram exigindo
do governo a cobrança do ICMS
no destino. E reivindicavam que
parte da arrecadação federal com
a cobrança da Cofins e da CPMF
fossem divididas com os Estados.
"Estamos unidos na defesa da
cobrança do ICMS no destino.
Sem isso, é difícil haver apoio às
reformas", afirmou a anfitriã do
encontro, Wilma de Faria (PSB-RN). "O governo precisa dividir o
dinheiro das contribuições com
os Estados", reclamou Lúcio Alcântara (PSDB-CE). "A arrecadação da União só tem aumentado e
nada é repassado a nós."
A chegada de Dirceu mudou o
tom da conversa. O ministro expôs aos governadores a minuta
dos projetos de reformas. Ao lado
de Arno Augustin, secretário-executivo-adjunto do Ministério da
Fazenda, expôs as dificuldades da
economia e a necessidade de
manter os recursos das contribuições para a União "fazer caixa".
Afirmou ainda que o governo
enviará os projetos mesmo se não
houver consenso. E prometeu
atender a algumas das reivindicações dos nordestinos.
Carta
Após a exposição de Dirceu, os
governadores lançaram a "Carta
de Natal". No documento, insistem na cobrança no destino. Mas
afirmam que tomaram essa posição apenas como meio de pressionar o governo para que seus pleitos sejam atendidos e para que o
governo se comprometa a discutir o assunto daqui a dois anos.
"O governo não abriu mão de
nada, o que vai para o Congresso é
a reforma do governo", resignou-se Paulo Souto (PFL-BA).
Alcântara ironizou a atitude do
ministro: "O Zé Dirceu foi nomeado por mim embaixador do
Nordeste no Planalto. Ele conhece
razoavelmente bem os problemas
da região e mostrou ser sensível à
busca de soluções".
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