São Paulo, segunda-feira, 12 de abril de 2004

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Funai quer punir garimpeiros em RO

DA REPORTAGEM LOCAL

DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

O presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio), Mércio Pereira Gomes, anunciou ontem, por meio de sua assessoria, que o órgão tomará medidas para tentar identificar e punir os garimpeiros que agrediram e tornaram refém um índio cinta-larga na praça de Espigão d'Oeste (a 534 km de Porto Velho, em Rondônia), em resposta a uma chacina ocorrida na última quarta-feira na terra indígena Roosevelt.
O índio, que ontem a Funai disse tratar-se de Marcelo Kakin Cinta-Larga, foi libertado por volta da meia-noite de ontem, quase 12 horas após ter sido raptado por garimpeiros quando caminhava perto da delegacia da cidade.
O índio foi agredido a socos e chutes e preso, com uma corda, a uma árvore da praça da cidade. Após uma tensa negociação, o índio foi transferido para o ginásio de esportes. No caminho até lá (300 m), um grupo de garimpeiros tentou tirá-lo das mãos dos policiais militares.
Segundo o subcomandante da PM na cidade, tenente Firmino Aparecido, o major Vansderlei da Costa, do 4º Batalhão da PM em Cacoal (RO), recebeu uma pedrada, e outros soldados tiveram escoriações. No hospital, o major levou dez pontos na cabeça.
O coordenador da Funai Walter Blós, 40, afirmou ontem que houve "tiroteio" entre os cinta-larga e um grupo de garimpeiros na terra indígena. Segundo ele, um índio foi baleado na perna.
Pelo menos três garimpeiros morreram. Ontem à tarde, a PF (Polícia Federal) retirou os corpos de helicóptero e os enviou para Ji-Paraná. Na versão de 16 garimpeiros que prestaram depoimento na Polícia Civil, foi uma chacina promovida pelos índios contra os garimpeiros, e não um tiroteio. De acordo com os depoimentos, um grupo de 30 índios atacou a tiros 60 garimpeiros que faziam extração clandestina de diamantes. A polícia estima que o número de mortos possa ser 12.
A reserva possui uma jazida de diamantes que em agosto de 2003 passou a ser explorada pelos índios. A indigenista Maria Inês Hargreaves disse à Agência Folha que conversou com os índios por telefone via satélite. Na versão deles, o tiroteio durou três horas, em "clima de guerra". Segundo Blós, há exagero no relato. Ele, porém, não soube precisar a duração do confronto. Nas últimas semanas, ainda segundo Blós, tinha aumentado o número de invasões na terra indígena. "Na terça-feira [um dia antes do confronto] os índios pegaram 15 garimpeiros e os entregaram nas barreiras [montadas pela Polícia Militar em entradas da reserva]", informou. (RUBENS VALENTE e HUDSON CORRÊA)


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