São Paulo, quarta-feira, 12 de maio de 2004

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Entidades dos EUA criticam decisão

RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK

A representante da organização Repórteres Sem Fronteiras nos Estados Unidos, Tala Dowlatshahi, classificou a decisão do governo brasileiro de suspender o visto do jornalista Larry Rohter como "um caso clássico de censura", e o presidente da ONO (Organização dos Ombudsmans de Notícias), Jeffrey Dvorkin, afirmou que a atitude é "chocante".
A vice-presidente de comunicação corporativa do "New York Times", Catherine Mathis, afirmou que não podia comentar a expulsão de seu jornalista do Brasil porque, quando procurada pela reportagem da Folha, já havia terminado o "horário comercial".
"Isso é um mau sinal para qualquer outro repórter, de qualquer veículo, que queira apresentar idéias críticas", declarou Dvorkin sobre o caso. Segundo ele, o tipo de decisão tomada pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva é comum a países "como o Irã, ou o Iraque sob Saddam Hussein".
"Estou surpreso. Conheço o Brasil, é um país excelente, com grandes jornalistas, com instituições culturais sólidas. Estou realmente surpreso", disse o presidente da associação internacional de ombudsmans.

Reclamação ao ombudsman
Segundo Dvorkin, se a reportagem realizada pelo correspondente do "New York Times" no Brasil de fato era incorreta -Rohter terá que deixar o país por ter relatado na edição do último domingo do jornal rumores sobre um suposto abuso no consumo de álcool por parte do presidente Lula-, caberia ao governo brasileiro fazer uma reclamação ao ombudsman daquele jornal, e não expulsar o jornalista do país.
Para a representante dos Repórteres Sem Fronteiras, o cancelamento do visto do jornalista do "New York Times" é mais um caso "de censura por um repórter escrever algo que não agrada a um governo". Dowlatshahi afirma, no entanto, que o governo brasileiro teria o direito de realizar algum tipo de censura contra o repórter "se a reportagem em questão fosse totalmente inventada". O que, na sua opinião, "claramente não é o caso".

Repercussão no mundo
Contactado pela Folha ontem à noite, o diretor de liberdade de imprensa da Sociedade Interamericana de Imprensa, Ricardo Trotti, disse não conhecer a decisão, mas afirmou que "o caso vai gerar repercussão no mundo todo, várias organizações vão protestar".
"Nosso comitê de liberdade de imprensa vai analisar o caso. Se houver problemas, só podemos protestar, procurar as autoridades brasileiras e fazer pressão internacional", declarou.


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