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Reforma previdenciária é maior alvo
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com faixas agressivas, como
"Fora Lula, traidor dos servidores", o governo petista enfrentou
ontem seu primeiro grande protesto. Funcionários públicos, um
dos setores mais representativos
da base do PT, e partidos de esquerda radical, como PSTU e
PCO, lideraram um protesto cujo
tema era a reforma da Previdência, mas que se transformou em
uma manifestação contra a política econômica e o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo a Polícia Militar, cerca
de 30 mil pessoas estiveram na Esplanada dos Ministérios no auge
do protesto, entre as 11h e as 14h.
A partir desse horário, a PM contabilizou 25 mil. Já os organizadores afirmaram que o público variou de 20 mil a 40 mil manifestantes nos mesmos horários.
O ato também foi um teste para
o relacionamento da bancada do
PT com o governo. Contrariando
decisão da cúpula do partido, 16
deputados federais estiveram no
protesto pela manhã. Isso levou o
governo a recuar do veto à presença da bancada e admitir a participação de uma comissão de dez
deputados, capitaneada pelo líder
do partido na Câmara, Nelson Pellegrino (BA).
Ao defender o governo e as reformas, Pellegrino e o recém-eleito presidente da Central Única
dos Trabalhadores, Luiz Marinho, foram vaiados e impedidos
de discursar. Marinho é ligado a
Lula, e a CUT foi uma das organizadoras do ato, que contou com
outras entidades de professores e
servidores em educação, além de
funcionários públicos.
Já congressistas da ala radical do
PT, sobretudo a senadora Heloísa
Helena (AL), foram ovacionados
ao discursar no carro de som defendendo, entre outros pontos,
greve geral e mudanças na política econômica e atacando a reforma. Um servidor segurava um
cartaz com a frase: "Existem homens com H e mulheres com dois
- Heloísa Helena".
Depois, ela foi carregada nos
braços pelos manifestantes. Já Pellegrino foi "perseguido" até o
Congresso por um grupo de servidores.
O protesto também revelou diferenças entre os próprios organizadores. Marinho e o representante da CNESF (Coordenação
Nacional das Entidades dos Servidores Públicos Federais), José Domingues, divergiram sobre a necessidade de uma futura greve.
Ao contrário de outros atos da
CUT, o de ontem praticamente
não tinha bandeiras do PT, somente dos sindicatos que participavam e do PSTU. Mas teve a
queima de uma camiseta, com o
nome de Lula escrito nela.
Os manifestantes compararam
Lula a Fernando Henrique Cardoso. "Ô, Lulinha, onde vai você? Foi
copiar FHC!", gritavam. Ou ainda: "Quando eu cantava o Lula-lá
nunca pensei que fosse protestar". Faixas chegaram a citar o ex-presidente Fernando Collor: "De
Collor a Lula (cada vez pior)".
Apesar de tentar ressaltar que o
protesto, que durou das 9h às 15h,
era fruto da união dos movimentos, CUT e Movimento em Defesa
da Previdência Social e do Serviço
Público disputavam espaço.
Em dois caminhões diferentes,
locutores chegaram a bater boca,
um pedindo ao outro que desligasse o som. Os congressistas discursaram primeiro no caminhão
da CUT, representada pela CNTE
(Confederação Nacional de Trabalhadores em Educação).
Reuniões
No início da tarde, uma comissão de trabalhadores se reuniu
com os ministros José Dirceu (Casa Civil), Luiz Dulci (Secretaria
Geral), Ricardo Berzoini (Previdência) e Guido Mantega (Previdência), além do secretário Luís
Fernando Silva (Planejamento)
no Palácio do Planalto. Depois do
encontro, o governo divulgou
uma nota em que diz que, "apesar
das restrições orçamentárias, já
foram tomadas iniciativas para a
contratação de mais de 20 mil novos servidores".
Depois, a comissão se reuniu
com os presidentes do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP).
A CNTE entregou emendas à reforma, e a CUT conseguiu na Câmara a garantia de que um grupo
de sindicalistas poderá acompanhar a comissão especial.
Cerca de 500 funcionários do
Banco Central participaram da
manifestação em Brasília.
Na Receita Federal, pelo menos
7.500 auditores paralisaram as
atividades ontem e hoje, sendo
que 350 participaram da marcha,
segundo o sindicato da categoria.
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