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São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 2003

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Reforma previdenciária é maior alvo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com faixas agressivas, como "Fora Lula, traidor dos servidores", o governo petista enfrentou ontem seu primeiro grande protesto. Funcionários públicos, um dos setores mais representativos da base do PT, e partidos de esquerda radical, como PSTU e PCO, lideraram um protesto cujo tema era a reforma da Previdência, mas que se transformou em uma manifestação contra a política econômica e o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo a Polícia Militar, cerca de 30 mil pessoas estiveram na Esplanada dos Ministérios no auge do protesto, entre as 11h e as 14h. A partir desse horário, a PM contabilizou 25 mil. Já os organizadores afirmaram que o público variou de 20 mil a 40 mil manifestantes nos mesmos horários.
O ato também foi um teste para o relacionamento da bancada do PT com o governo. Contrariando decisão da cúpula do partido, 16 deputados federais estiveram no protesto pela manhã. Isso levou o governo a recuar do veto à presença da bancada e admitir a participação de uma comissão de dez deputados, capitaneada pelo líder do partido na Câmara, Nelson Pellegrino (BA).
Ao defender o governo e as reformas, Pellegrino e o recém-eleito presidente da Central Única dos Trabalhadores, Luiz Marinho, foram vaiados e impedidos de discursar. Marinho é ligado a Lula, e a CUT foi uma das organizadoras do ato, que contou com outras entidades de professores e servidores em educação, além de funcionários públicos.
Já congressistas da ala radical do PT, sobretudo a senadora Heloísa Helena (AL), foram ovacionados ao discursar no carro de som defendendo, entre outros pontos, greve geral e mudanças na política econômica e atacando a reforma. Um servidor segurava um cartaz com a frase: "Existem homens com H e mulheres com dois - Heloísa Helena".
Depois, ela foi carregada nos braços pelos manifestantes. Já Pellegrino foi "perseguido" até o Congresso por um grupo de servidores.
O protesto também revelou diferenças entre os próprios organizadores. Marinho e o representante da CNESF (Coordenação Nacional das Entidades dos Servidores Públicos Federais), José Domingues, divergiram sobre a necessidade de uma futura greve.
Ao contrário de outros atos da CUT, o de ontem praticamente não tinha bandeiras do PT, somente dos sindicatos que participavam e do PSTU. Mas teve a queima de uma camiseta, com o nome de Lula escrito nela.
Os manifestantes compararam Lula a Fernando Henrique Cardoso. "Ô, Lulinha, onde vai você? Foi copiar FHC!", gritavam. Ou ainda: "Quando eu cantava o Lula-lá nunca pensei que fosse protestar". Faixas chegaram a citar o ex-presidente Fernando Collor: "De Collor a Lula (cada vez pior)".
Apesar de tentar ressaltar que o protesto, que durou das 9h às 15h, era fruto da união dos movimentos, CUT e Movimento em Defesa da Previdência Social e do Serviço Público disputavam espaço.
Em dois caminhões diferentes, locutores chegaram a bater boca, um pedindo ao outro que desligasse o som. Os congressistas discursaram primeiro no caminhão da CUT, representada pela CNTE (Confederação Nacional de Trabalhadores em Educação).

Reuniões
No início da tarde, uma comissão de trabalhadores se reuniu com os ministros José Dirceu (Casa Civil), Luiz Dulci (Secretaria Geral), Ricardo Berzoini (Previdência) e Guido Mantega (Previdência), além do secretário Luís Fernando Silva (Planejamento) no Palácio do Planalto. Depois do encontro, o governo divulgou uma nota em que diz que, "apesar das restrições orçamentárias, já foram tomadas iniciativas para a contratação de mais de 20 mil novos servidores".
Depois, a comissão se reuniu com os presidentes do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP). A CNTE entregou emendas à reforma, e a CUT conseguiu na Câmara a garantia de que um grupo de sindicalistas poderá acompanhar a comissão especial.
Cerca de 500 funcionários do Banco Central participaram da manifestação em Brasília.
Na Receita Federal, pelo menos 7.500 auditores paralisaram as atividades ontem e hoje, sendo que 350 participaram da marcha, segundo o sindicato da categoria.


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