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TEORIA & PRÁTICA
Eleitores de Lula lançam manifesto pedindo controle de capitais
Economistas do PT querem "inversão total" na Fazenda
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
ROGÉRIO GENTILE
EDITOR DO PAINEL
Economistas ligados ao PT ou
que apoiaram a candidatura de
Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência lançam amanhã um manifesto que propõe a "inversão de
toda a matriz da política econômica" atual.
Defendem o controle de capitais
externos e do câmbio, "redução
do superávit primário até sua
eventual eliminação", ampliação
dos gastos públicos com prioridade para setores geradores de empregos e redução da taxa básica de
juros. Exatamente o contrário do
que o governo Lula tem feito.
Assinam o documento, intitulado "A Agenda Interditada - Uma
Alternativa de Prosperidade Para
o Brasil", entre outros, Luiz Gonzaga Belluzzo, Ricardo Carneiro,
Reinaldo Gonçalves (professor da
Universidade do Rio de Janeiro) e
Plínio de Arruda Sampaio Jr.,
professor da Unicamp que organizou o manifesto.
Belluzzo chegou a ser cogitado
para ocupar um ministério da
área econômica, e Carneiro foi
um dos colaboradores na elaboração do programa econômico do
PT. Os dois também são professores da Unicamp.
Segundo Sampaio Jr., até a tarde
de ontem já haviam sido coletadas cerca de 120 assinaturas. A Folha teve acesso a uma versão com
nomes de 36 economistas. Pessoas com notório saber na área
econômica, mesmo que não economistas, também poderiam assinar. Os sociólogos Emir Sader e
Ricardo Antunes subscreveram o
documento.
Belluzzo diz que todos os signatários "tiveram alguma relação
com o PT e com a campanha eleitoral". Ele afirma que com a manutenção da política econômica
atual o governo do PT está produzindo uma grave recessão. E que
que, se nada for feito, ela pode se
estender pelos próximos anos.
Das medidas sugeridas no documento, Belluzzo diz discordar
apenas da eliminação do superávit primário. "Acho que, de fato, é
preciso fazer uma coisa mais razoável, superávit de 6% ou 7%
[que efetivamente o governo está
fazendo] não é possível. Mas isso
aí [sua discordância pontual] não
tem importância, é o de menos."
A condução atual do câmbio,
para ele, é comparável à de Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central no governo FHC. "O
governo agora está provocando
uma recessão provavelmente pior
que a de 1981 a 1983. Isso é desnecessário. Formularam uma meta
de inflação irrealista, fizeram um
aumento de juros excessivo depois que foram para o governo.
Reconhecemos a necessidade da
transição, mas achamos ser necessário mudar a política econômica sob pena de repetir o Gustavo Franco. O que está acontecendo com a taxa de câmbio é Gustavo Franco 2, o retorno."
Para Ricardo Carneiro, o momento de divulgação do manifesto é oportuno "porque está claro
que a política econômica da Fazenda e do Banco Central está
produzindo uma recessão".
Sugestões perigosas
As sugestões são delicadas para
a área econômica do governo Lula, que tem como uma de suas
preocupações centrais a gestão
das expectativas do mercado,
buscando atrair recursos internacionais. Falar em "controle de capitais externos", por exemplo, segundo esse modelo, poderia afugentar investimentos.
O mesmo se dá para a proposta
de redução do superávit primário
-"até sua eventual eliminação"- e da taxa básica de juros.
Segundo os signatários, não foi
uma preocupação indicar um
modelo específico de controle de
capitais ou um valor ideal para o
câmbio. O consenso é que é preciso controlar o valor do dólar "em
nível real favorável às exportações". O controle de capitais poderia ser feito pela determinação
de quais setores da economia seriam mais ou menos abertos e pela taxação de fluxos financeiros.
De acordo com o manifesto, "o
Brasil está sendo levado a um beco sem saída de estagnação e desemprego por uma política econômica que capitulou à insensatez do totalitarismo de mercado".
Os economistas fazem um apelo
para a abertura da "caixa preta da
política econômica ao debate",
que estaria sendo interditado pelas ameaças do mercado.
O objetivo, segundo Sampaio
Jr., é politizar o debate. O documento, ele diz, será encaminhado
ao "grupo dos 28", que reúne parlamentares petistas que assinaram um manifesto pedindo "crescimento já".
"Se não houver forte mobilização social e pressão sobre o governo", ele diz, "não teremos correlação de forças para fazer o que
acreditamos ser possível".
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