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São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 2003

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Intelectual pede calma a colegas do PT

DA REPORTAGEM LOCAL

O cientista político Luiz Werneck Vianna pediu "calma" à "intelligentsia petista" anteontem, durante evento na USP em homenagem ao sociólogo Francisco de Oliveira, que recebe hoje o título de cidadão paulistano (ele é pernambucano).
Sem fazer menção direta ao debate da última quinta-feira na própria USP, em que Oliveira e o filósofo Paulo Arantes apresentaram como irreversível a "conversão" do governo de Luiz Inácio Lula da Silva ao conservadorismo, o professor do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro) fez uma homenagem "crítica" ao sociólogo, afirmando que a tarefa dos intelectuais neste momento é fazer a crítica "não de forma negativa, mas para procurar alternativa, um caminho".
Além das posições mais céticas de Oliveira e Arantes, intelectuais simpatizantes históricos do PT têm elevado o tom da crítica ao governo nas últimas semanas.
Declarando nunca ter sido integrante do PT -"vocês não me conhecem, eu moro longe"-, o cientista político afirmou que há espaço para inovação no governo.
"Há continuidade sim entre este governo e o outro, inclusive por boas razões. E pode haver muita descontinuidade na criatividade política, na criatividade social. E isso vai depender muito de nós, da universidade, que nós não desertemos, que nós não abandonemos esse governo a si."
Arantes, também presente à homenagem, e Oliveira -os mais diretamente implicados na crítica do "jacobino carioca", como o cientista político se definiu- não retrucaram os argumentos. Integravam ainda a mesa de "debatedores" a professora de filosofia da USP Marilena Chaui e o economista Paul Singer.
Werneck Vianna disse que não houve ruptura nem vai haver. "Agora ganharam. E daí? Calma. Era para fazer a revolução pelo voto? Hein, dona Marilena, pode?" Segundo ele, a "intelligentsia" deve exercer a função da "antítese" ao conservadorismo: "Não deixar a tese se coagular nem capturar a antítese. O que está prestes a acontecer. Essa tragédia é que nós não podemos permitir".
Disse, entretanto, manter suas dúvidas sobre o governo. "Eu todo dia acordo, como todo mundo, pego o jornal, abro, e penso: "Eu sou contra ou a favor desse governo do PT?". Termino de ler o jornal e adio a decisão para o dia seguinte." O governo tem, para ele, o mérito de ter evitado crise maior na economia. "Era a Venezuela que se queria aqui?"

Chaui e Singer
A homenagem a Oliveira implicou o comentário sobre o governo do PT também nas intervenções de Singer e Chauí.
A filósofa, afirmando também ter dúvidas às vezes sobre ser contra ou a favor do governo, elogiou o "primeiro esforço macroeconômico", que segundo ela evitou a queda de Lula. "Eu me preparei para o impeachment de Lula no mês de maio. Tinha certeza que o PT ia fazer a sua política e que haveria o impeachment."
Ela disse acreditar que "o governo do PT ainda vai começar", sob a condição de que os intelectuais mantenham o apoio "crítico" a Lula. "O PT só assume andar por certos caminhos se você brigar, urrar, gritar. Aí vai. Caso contrário, a tendência é dizer: "Nós temos a linha certa"."
Para Singer, as políticas do governo são ainda "pouco nítidas". "Exceto uma, que é a política macroeconômica. O combate à inflação, como principal e quase único objetivo, pelo menos nesse momento, levando a economia no mesmo diapasão, e inclusive acelerado, que o governo que foi derrotado nas eleições o fez." (RC)


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