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Intelectual pede calma a colegas do PT
DA REPORTAGEM LOCAL
O cientista político Luiz Werneck Vianna pediu "calma" à "intelligentsia petista" anteontem,
durante evento na USP em homenagem ao sociólogo Francisco de
Oliveira, que recebe hoje o título
de cidadão paulistano (ele é pernambucano).
Sem fazer menção direta ao debate da última quinta-feira na
própria USP, em que Oliveira e o
filósofo Paulo Arantes apresentaram como irreversível a "conversão" do governo de Luiz Inácio
Lula da Silva ao conservadorismo,
o professor do Iuperj (Instituto
Universitário de Pesquisas do Rio
de Janeiro) fez uma homenagem
"crítica" ao sociólogo, afirmando
que a tarefa dos intelectuais neste
momento é fazer a crítica "não de
forma negativa, mas para procurar alternativa, um caminho".
Além das posições mais céticas
de Oliveira e Arantes, intelectuais
simpatizantes históricos do PT
têm elevado o tom da crítica ao
governo nas últimas semanas.
Declarando nunca ter sido integrante do PT -"vocês não me
conhecem, eu moro longe"-, o
cientista político afirmou que há
espaço para inovação no governo.
"Há continuidade sim entre este
governo e o outro, inclusive por
boas razões. E pode haver muita
descontinuidade na criatividade
política, na criatividade social. E
isso vai depender muito de nós,
da universidade, que nós não desertemos, que nós não abandonemos esse governo a si."
Arantes, também presente à homenagem, e Oliveira -os mais
diretamente implicados na crítica
do "jacobino carioca", como o
cientista político se definiu- não
retrucaram os argumentos. Integravam ainda a mesa de "debatedores" a professora de filosofia da
USP Marilena Chaui e o economista Paul Singer.
Werneck Vianna disse que não
houve ruptura nem vai haver.
"Agora ganharam. E daí? Calma.
Era para fazer a revolução pelo
voto? Hein, dona Marilena, pode?" Segundo ele, a "intelligentsia" deve exercer a função da "antítese" ao conservadorismo: "Não
deixar a tese se coagular nem capturar a antítese. O que está prestes
a acontecer. Essa tragédia é que
nós não podemos permitir".
Disse, entretanto, manter suas
dúvidas sobre o governo. "Eu todo dia acordo, como todo mundo, pego o jornal, abro, e penso:
"Eu sou contra ou a favor desse
governo do PT?". Termino de ler o
jornal e adio a decisão para o dia
seguinte." O governo tem, para
ele, o mérito de ter evitado crise
maior na economia. "Era a Venezuela que se queria aqui?"
Chaui e Singer
A homenagem a Oliveira implicou o comentário sobre o governo
do PT também nas intervenções
de Singer e Chauí.
A filósofa, afirmando também
ter dúvidas às vezes sobre ser contra ou a favor do governo, elogiou
o "primeiro esforço macroeconômico", que segundo ela evitou a
queda de Lula. "Eu me preparei
para o impeachment de Lula no
mês de maio. Tinha certeza que o
PT ia fazer a sua política e que haveria o impeachment."
Ela disse acreditar que "o governo do PT ainda vai começar", sob
a condição de que os intelectuais
mantenham o apoio "crítico" a
Lula. "O PT só assume andar por
certos caminhos se você brigar,
urrar, gritar. Aí vai. Caso contrário, a tendência é dizer: "Nós temos a linha certa"."
Para Singer, as políticas do governo são ainda "pouco nítidas".
"Exceto uma, que é a política macroeconômica. O combate à inflação, como principal e quase único
objetivo, pelo menos nesse momento, levando a economia no
mesmo diapasão, e inclusive acelerado, que o governo que foi derrotado nas eleições o fez."
(RC)
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