|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"
Lula e a cúpula do governo já discutiam a possibilidade de afastamento do ministro, prevendo novos ataques de Roberto Jefferson
Dirceu já pensa em se afastar da Casa Civil
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Sob o impacto das novas afirmações do deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), o ministro José Dirceu já admite a possibilidade de pedir licença ou até
demissão da Casa Civil.
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva e a cúpula do governo já discutiam essa saída em caso de
agravamento da crise, o que aconteceu ontem, quando tomaram
conhecimento de que Jefferson
dera nova entrevista à Folha na
qual bombardeara pesadamente
Dirceu e outros membros da cúpula petista afinados com ele.
O próprio Dirceu já admitia ao
longo da última semana a possibilidade de retornar à Câmara, prevendo novo ataque de Jefferson.
Falou dessa hipótese a ministros e
parlamentares próximos. Lula,
apesar da tradicional resistência
em afastar de suas funções petistas e aliados em problemas, disse
a ministros que faria uma reforma
ministerial em breve e que Dirceu
poderia ser atingido por ela.
Em conversa ontem em São
Paulo com o presidente do PT, José Genoino, Dirceu disse estar
preparado "para o pior", que já
enfrentou momentos "tão ou
mais difíceis na vida" e sobrevivera. Preso político da ditadura militar, Dirceu foi um dos 15 presos
libertados em troca de Charles Elbrick, embaixador dos EUA seqüestrado por organizações de esquerda em 1969. Depois, viveu em
Cuba, fez plástica e retornou ao
Brasil, onde viveu clandestino no
Estado do Paraná.
O ministro virá a Brasília na manhã de hoje para uma reunião de
emergência com o presidente.
O formato do licenciamento de
Dirceu seria a chamada "saída
Hargreaves" -hipótese cogitada
mas não implementada na outra
crise política que atingiu o ministro, a do caso Waldomiro Diniz,
em 2004. Outra possibilidade era
um simples pedido de demissão.
Henrique Hargreaves, chefe da
Casa Civil no governo Itamar
Franco (1992-1994), afastou-se
numa crise e retornou ao cargo
quando não ficou provado nada.
Se for confirmado o afastamento de Dirceu, o mais cotado para
substituí-lo é o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. O ministro
da Fazenda transmitiria à opinião
pública e ao mercado a imagem
de que Lula não vai permitir que a
crise atinja a economia.
Palocci deixaria na Fazenda seu
"número 2", Murilo Portugal, ex-funcionário do FMI (Fundo Monetário Internacional) e nome
com credibilidade no mercado.
Palocci, ministro mais poderoso do governo, chefiaria a Casa Civil e poderia usar a simpatia do
empresariado para tentar uma
trégua com a oposição, isolando
Lula e a política econômica da crise e das investigações sobre suspeitas de corrupção em estatais.
Lula avalia ainda fazer uma reforma ministerial e demonstrar
autoridade e controle político.
O PMDB, com dois ministros
hoje, ganharia mais pastas e seria
fundamental nessa recomposição
política. O critério principal da reforma seria aumentar pontes com
setores do Congresso Nacional.
Na Casa Civil, Palocci poderia
exercer o papel de Dirceu.
A oposição tem procurado preservá-lo nos últimos meses em
que a turbulência política virou
grave crise. O ministro da Fazenda, apesar de criticado, apanha
menos da oposição. Jefferson
também bateu pouco, dizendo
apenas que lhe informou do suposto "mensalão". Palocci negou
ter recebido essa informação.
Lula tem sido aconselhado por
aliados a aproveitar o momento
de crise para fazer uma reforma
ministerial profunda, enxugando
ministérios e diminuindo o número de ministros petistas (19).
Cogita-se até trazer um ou outro
nome de peso na sociedade, para
não parecer uma mudança de
rendição ao esquema político.
Nessa reforma, o ministro da
Previdência, Romero Jucá, e o
presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, poderiam ser
substituídos. Os dois respondem
a inquéritos aberto no STF (Supremo Tribunal Federal) a respeito de suspeitas de irregularidade.
Jucá é acusado de desviar recursos públicos. Meirelles, de ter feito
operações financeiras para esconder patrimônio.
Texto Anterior: Tucanos querem investigar suposta mesada no governo Marta Suplicy Próximo Texto: Com crise, Lula cogita até lançar Palocci à eleição Índice
|