São Paulo, segunda-feira, 12 de julho de 2004

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INVESTIGAÇÃO

Segundo força-tarefa da PF, 400 funcionários federais podem ter enviado remessas que totalizam R$ 350 milhões

Servidores mandam verba ao exterior sem dizer origem

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma força-tarefa formada pela Controladoria Geral da União, Ministério Público e Polícia Federal identificou recursos no exterior sem origem definida ligados a 400 servidores e ex-funcionários federais. Investigadores avaliam que chegue a R$ 350 milhões o volume total de dinheiro depositado por eles fora do Brasil.
A simples ausência de explicação sobre a origem do montante serve de indício de crimes, como evasão de divisas e lavagem de dinheiro, por exemplo. Ontem, a CGU informou que a força-tarefa começou a investigação a partir de dados do envio de dinheiro para o exterior via contas CC5 do Banestado (Banco do Estado do Paraná), também investigadas por uma CPI do Congresso.
De 1996 a 2002, deixaram o país cerca de R$ 30 bilhões por meio das contas CC5, usadas para enviar dinheiro ao exterior, por meio da agência do Banestado em Foz do Iguaçu. No ano passado, o Congresso criou uma CPI mista para apurar as remessas.
A partir da lista de movimentações bancárias, a força-tarefa cruzou os dados com as matrículas de servidores federais e chegou aos 400 nomes. Com a autorização da Justiça, foram quebrados os sigilos bancário e fiscal dos funcionários. A força-tarefa quer terminar a análise do material para chamar os envolvidos a depor.
O próximo passo da investigação é descobrir a origem do dinheiro depositado em contas nas Ilhas Cayman e nas Bahamas. O destino do dinheiro e os nomes de alguns envolvidos foram publicados na última edição da revista "Isto É", no sábado.
Os recursos depositados no exterior foram comparados com o pagamento de CPMF (o imposto do cheque), declarações de Imposto de Renda e com os dados dos sigilos bancários. Em alguns casos, não se sabe a origem dos recursos por uma lacuna da legislação, que não estabelece detalhamento de determinadas operações nas declarações do IR.
Um exemplo citado pela "IstoÉ" relaciona o presidente da Biblioteca Nacional, Pedro Corrêa do Lago, que enviou R$ 2,4 milhões para as Ilhas Cayman em 2002, ano anterior à sua nomeação para o cargo. Na avaliação de investigadores, a transação apresenta indícios de lavagem de dinheiro, mas não há comprovação disso.
A assessoria de Lago informou ontem que, em 1998, ele vendeu R$ 2,4 milhões em documentos e enviou o dinheiro às Ilhas Cayman por meio de sua conta no Unibanco, sendo tudo isso declarado à Receita Federal. Segundo a assessoria, Lago é colecionador e bibliófilo há 30 anos, atividade conhecida em todo o país, e sempre foi uma pessoa de posses.
Em nota oficial divulgada no sábado, o Ministério da Cultura informou que "aguarda um comunicado oficial das instituições que, segundo a reportagem da revista "IstoÉ", compõem a força-tarefa que conduz as investigações, para se pronunciar".



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