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BRASIL PROFUNDO
Coiab, organização indígena acusada de desviar recurso da saúde, firma convênio de R$ 4,7 milhões com a Funasa
ONG suspeita continua a ter verba federal
JULIANNA SOFIA
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mesmo sob suspeita de ter desviado recursos públicos do Ministério da Saúde, a Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), uma
das maiores ONGs indígenas do
país, continua a receber dinheiro
do governo federal.
No dia 1º de junho, a Coiab celebrou um convênio com a Funasa
(Fundação Nacional da Saúde) no
valor de R$ 4,726 milhões. Destina-se à prestação de assistência de
saúde a índios da Amazônia.
A entidade está sob investigação
do Ministério Público Federal. É
acusada de descumprir um outro
convênio com Funasa de saneamento em aldeias indígenas. A
Funasa reconhece que sabe dos
indícios de irregularidades.
Desde 1999, ano do primeiro
convênio entre a Funasa e a
Coiab, foram repassados R$ 16,8
milhões para a entidade. A conta
não inclui o convênio deste ano
de R$ 4,726 milhões. O primeiro
desembolso no valor de R$ 300
mil, relativo a esse contrato, ocorreu há duas semanas.
O convênio de saneamento sob
suspeição foi fechado em dezembro de 2001. Destinava R$
569.448,09 à construção de sistema de abastecimento de água, o
que incluía a perfuração de 13 poços artesianos em aldeias. A ONG
deveria apresentar contrapartida
financeira no mesmo valor.
Para construir os poços, porém,
a Coiab teria contratado empresa
de fachada. A operação foi comanda por um ex-engenheiro da
Funasa, em combinação com a
coordenação da ONG à época.
As obras estão inacabadas. Apenas 54% do sistema de abastecimento previsto foi implantado.
Mas o dinheiro foi integralmente
repassado pelo governo à entidade. O convênio foi encerrado em
agosto do ano passado. As contas
foram aprovadas pela Funasa.
Posteriormente, relatório técnico elaborado por engenheiros a
serviço da Funasa concluiu: "Os
motivos que levaram à baixa execução do convênio estão relacionados ao descumprimento do
projeto por parte da convenente e
o não-atendimento das especificações técnicas. Desta forma, sugere-se a não-aprovação técnica
desse convênio". Era tarde.
No Siafi (Sistema Integrado de
Administração Financeira do Governo Federal), o convênio é classificado como "adimplente" pela
Funasa, mesmo sem que as obras
tenham sido concluídas.
Desfalque
Auditoria independente encomendada pelo Conselho Deliberativo e Fiscal da própria Coiab
revela uma seqüência de fraudes.
Foram analisados dados referentes ao período de janeiro de janeiro de 2001 a junho de 2002. Entre
os problemas detectados pela
equipe de auditagem há um desfalque de R$ 104 mil.
O documento detalha ainda outros atos ilegais como processos
licitatórios forjados para contratação de empresas que prestaram
serviços para a ONG no período.
Após receber o resultado da auditoria, o conselho da Coiab afastou a coordenação da entidade na
época, que estava nas mãos do índio Cláudio Pereira Mura. Mas a
nova gestão, comanda pelo saterê-mauê Jecinaldo Barbosa Cabral, não regularizou a situação.
A auditoria, realizada pela empresa Souza Auditores Independentes S/C em Manaus, foi entregue ao Ministério Público Federal
e ao PDPI (Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas), um
projeto do Ministério do Meio
Ambiente para preservação de
florestas. A procuradora da República Isabela Brant é a responsável
pela investigação do caso Coiab.
As fraudes levantadas pela consultoria mostram que a Coiab
usou notas frias para justificar
gastos. As faturas frias foram usadas, inclusive, para prestação de
contas de um outro convênio realizado com a Funasa em 2001,
quando foram liberados R$ 3,281
milhões para a ONG. Na época, a
fundação recusou as faturas.
Ainda segundo a auditoria, a
contratação da empresa para executar obras previstas no convênio
de saneamento foi fraudada de
forma "grosseira". Por administrar recursos públicos, a ONG é
obrigada a realizar licitações na
contratação de serviços.
Das três empresas que concorreram no processo licitatório,
duas não tinham a documentação
necessária. A vencedora, Santos
& Gama Ltda., apresentou cópia
de contrato social, no qual é informado capital social de R$ 1.000.
Colaborou KÁTIA BRASIL, da Agência
Folha, em Manaus
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