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Acusados faziam acerto de edital por e-mail
Pivô do esquema desbaratado por operação da PF, Angraporto interferiu na confecção de licitação da Petrobras, diz investigação
Dois dias antes da abertura
de proposta, funcionários enviaram a versão de um
contrato a representantes da empresa acusada
ELVIRA LOBATO
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Com auxílio da auditoria da
Petrobras, a Operação Águas
Profundas da Polícia Federal e
do Ministério Público Federal
reuniu fortes indícios de interferência da empresa Angraporto na confecção de editais de licitações para o reparo das plataformas P-10, P-14, P-16 e P-22 da estatal petrolífera.
Um dos casos dissecados na
investigação foi a contratação
dos serviços de cais e apoio logístico da reforma da P-10, vencida pela Angraporto em 2004.
Em 21 de junho de 2004, a
Petrobras enviou carta-convite
às empresas aptas a prestar o
serviço, mas, segundo a denúncia, tais cartas eram uma mera
"encenação" porque, naquele
mesmo dia, antes de elas serem
enviadas, há registro de troca
de e-mails entre funcionários
da Petrobras sobre possíveis
mudanças no edital sugeridas
por Mauro Zamprogno, sócio
da Angraporto e um dos 14 presos na operação até agora. O objetivo da mudança era aumentar o valor do serviço. A Angraporto venceu a licitação.
No dia 7 de julho, dois dias
antes da abertura da proposta
das empresas convidadas, os
funcionários mandaram uma
versão do contrato a ser assinado pelo futuro vencedor a representantes da Angraporto. A
denúncia qualificou a realização da licitação como "um mero formalismo", já que estava
tudo arranjado previamente
para a vitória da Angraporto.
Nessa mesma licitação, foi
apurado que a Petobras pagou
R$ 634 mil à empresa Planeta
Operadora pelo uso de uma
chata -um tipo de embarcação- para um serviço de transporte marítimo que já estava
previsto no edital. A denúncia
considerou isso como uma "dupla remuneração" pelo mesmo
serviço à Angraporto, pois a
Planeta é controlada pelos
mesmos sócios da empresa.
A denúncia detalha o suposto
esquema a partir de 2003,
quando o gerente-geral da unidade serviços de sondagem,
Carlos Heleno Netto Barbosa,
também preso, pediu autorização para realizar os serviços de
docagem e estadia para reforma da P-22. Pelas regras da Petrobras, a profundidade (o calado) mínima exigido era de 9
metros. Foram enviadas cartas-convite a quatro empresas
em 9 de julho de 2004 para que
os interessados fizessem propostas no dia 16 daquele mês.
Uma auditoria realizada pela
própria Petrobras percebeu
que o edital exigia uma profundidade menor (8,23 metros) do
que o estabelecido pelas regras
da companhia. Foi apurado que
isso teria sido feito para atender à Angraporto, cujo cais tem
profundidade de 8,84 metros.
Regras da licitação
Pelas regras da Petrobras, as
licitações e contratações de
serviços precisam da aprovação
de diferentes níveis hierárquicos, dependendo do valor. Procurada, a estatal não forneceu
dados sobre as licitações sob
suspeita e informou que nenhum executivo iria falar.
Especialistas ouvidos pela
Folha dizem que, pelos valores
dos contratos, de até R$ 88 milhões no caso da P-14, haveria a
necessidade de aprovação ao
menos do diretor da área para a
realização do serviço e da licitação. Para valores mais altos, seria necessário até o aval de toda
diretoria colegiada, que inclui o
presidente da companhia.
O ex-diretor de serviços de
gás e energia da Petrobras Antonio Luiz Menezes disse que
as áreas técnicas identificam a
necessidade de fazer os serviços e enviam os pedidos à diretoria, que constitui a comisão
de licitação. "O diretor repassa
as atribuições, mas não a responsabilidade [sobre a contratação]. Na minha época, qualquer valor acima de R$ 30 milhões tinha de ser aprovado pelo diretor", disse Menezes, que
saiu da empresa em 2003.
Obras menores (reparo, manutenção e despesas de operação)
dispensam o aval dos diretores.
São autorizadas pelos gerentes-executivos e gerentes gerais.
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