São Paulo, quinta-feira, 12 de agosto de 2004

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VIDA DE EX

Ex-presidente, que faz 55 anos hoje, disse que presidente petista não é "pessoa preparada"

Collor compara Delúbio a PC e critica Lula

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Charuto Cohiba (cubano) na mão, fala pausada, terno e gravata azuis-marinhos, camisa azul claro, o ex-presidente Fernando Collor de Mello fez ontem sua mais dura crítica à gestão Luiz Inácio Lula da Silva, comparando o tesoureiro petista, Delúbio Soares, ao homem do dinheiro collorido, Paulo César Farias.
"O Delúbio é muito mais abrangente do que foi o Paulo César. A situação do Delúbio é, no mínimo, muito parecida com a situação em que esteve envolvido o PC", declarou o ex-presidente durante um almoço ontem, em Brasília, no restaurante Piantella.
"O Brasil inteiro conhece o ex-presidente. Não vou polemizar com ele", respondeu Delúbio ao saber da declaração.
Collor completa 55 anos hoje. Governou o Brasil de 1990 a 1992. Saiu do cargo depois que o Congresso aprovou um processo de impeachment, acusando-o de corrupção. Está agora filiado ao minúsculo PRTB.
Planos políticos eleitorais? "Nenhum", responde. "Voto em Maceió", esclarece, para deixar claro que não apoiará a candidatura de Marta Suplicy (PT) à reeleição para prefeita de São Paulo -o PRTB está na coligação paulistana petista.
Em conversa de pouco mais de uma hora com a Folha -quando deu apenas algumas garfadas num prato de carne seca desfiada, acompanhado de caldo de feijão preto, purê de abóbora e arroz-, Collor saiu de um silêncio mantido desde a posse de Lula. Até ontem, restringia-se a falar sobre a sua torcida para que a administração petista fosse bem-sucedida.
Ontem, além de comparar Delúbio a PC Farias, atacou Lula. "O Lula não é uma pessoa preparada (...) Na diplomacia presidencial, o que conta é o contato pessoal. É preciso haver conversas a dois, sem intérpretes. O Lula não tem como ter conversas com o Bush, o Chirac, o Schröder", afirmou.
No governo Collor, a Polícia Federal invadiu o prédio da Folha em São Paulo. Hoje, o ex-presidente defende valores diferentes. Critica a criação do CFJ (Conselho Federal de Jornalismo). "É inacreditável, inadmissível", diz ele.
A seguir, trechos da entrevista de Collor à Folha:
 

DELÚBIO SOARES
"Ele [PC] não fazia parte do organograma do poder. O Delúbio, não. Faz parte do organograma do poder. Ele faz parte da direção do PT. Age tanto à luz do sol do meio-dia quanto à luz da lua-cheia da meia-noite."
"Delúbio pode atingir a política econômica. Não tenho nenhuma dúvida de que há vasos comunicantes entre o que ele faz e todos no governo, inclusive na área econômica -até para dar credibilidade ao que vocês publicam. Muito embora eu já aprendi que, em questão de voto, santidade, dinheiro e notícia de jornal, é sempre bom dar um desconto: é sempre a metade da metade."

GOVERNO LULA
"José Dirceu é preparado. Esse é. Se o José Dirceu não tivesse sofrido o abalo do caso Waldomiro, o governo seria outro. O caso Waldomiro neutralizou um operador político extraordinário que é o José Dirceu. O restante [outros ministros] faz parte de uma "petite bourgeoisie"."
"O Palocci também é uma surpresa para mim. O Roberto Campos, se vivo fosse, ficaria enrubescido ao ver o vigor com que o Palocci aplica o receituário liberal."
"A política externa é um dos pontos mais fracos do governo. O Celso Amorim é da turma dos barbudinhos esquerdistas do Itamaraty dos anos 70, com uma visão terceiro-mundista."


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