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LIGAÇÕES PERIGOSAS
Carlos Bezerra disputava a reeleição ao Senado, em 2002
Presidente do INSS recebeu
dinheiro de condenado, diz PF
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
A Vip Factoring, empresa do ex-policial civil João Arcanjo Ribeiro,
condenado por comandar o crime organizado em Mato Grosso,
pagou despesas da campanha
eleitoral ao Senado em 2002 do
presidente do INSS, Carlos Gomes Bezerra, segundo relatório da
Polícia Federal e conforme o empresário João Dorileo Leal, da
Gráfica e Editora Centro Oeste.
Um cheque de R$ 1.161.400 de
Bezerra serviu como garantia para que a gráfica recebesse dinheiro em agosto de 2002 apresentando nota fiscal de serviço, diz uma
correspondência da Vip Factoring enviada ao senador. Esse documento consta do relatório da
PF obtido pela Agência Folha.
Com o cheque, Leal diz que recebeu da factoring ao menos R$
500 mil para gastar na campanha
de Bezerra. Segundo ele, a nota
fiscal descrevia os serviços de impressão de material eleitoral.
Bezerra, do PMDB, nega. Hoje,
administra orçamento de R$ 127
bilhões da Previdência Social.
O cheque pré-datado para o dia
19 de novembro de 2002 acabou
apreendido pela Justiça Estadual,
pois Bezerra entrou com ação para que não fosse descontado.
O ex-senador (1995 a 2002) acusa o seu comitê eleitoral, do senador Antero Paes de Barros
(PSDB-MT), candidato na época
ao governo do Estado, e do ex-governador Dante de Oliveira
(PSDB-MT) de ter feito "uso indevido do cheque", enviando-o à
factoring. Diz que deu o cheque
ao empresário João Vilar Garcia,
o Nico Triunfo, um dos responsáveis, segundo Bezerra, pelo comitê. O presidente do INSS nega que
tivesse negócios com a gráfica ou
soubesse do destino do cheque.
"Canalhice"
Leal, que era sócio de Nico, dá
outra versão. Diz que recebeu o
cheque das mãos do ex-senador.
"Ele [Bezerra] sabia [da operação
com a empresa de Arcanjo] porque quando ele deu o cheque me
disse: "O único jeito é você fazer
dinheiro disso [na factoring]". Como um cara, hoje presidente do
INSS, é tão infantil de dar um cheque de R$ 1 milhão e depois dizer
que não sabia? Isso é canalhice."
Em depoimento à Justiça Federal, Luiz Alberto Dondo Gonçalves, ex-contador de Arcanjo que
está preso em Cuiabá, disse que
Leal e Nico Triunfo receberam
empréstimo da factoring e repassaram à campanha de Antero. O
senador e Leal negam.
A PF entregou o relatório, com a
correspondência enviada a Bezerra, no dia 20 de maio passado ao
juiz federal Julier Sebastião da Silva, da 1ª Vara Federal de Cuiabá.
O juiz afirmou, em sentença que
condenou Arcanjo a 37 anos de
prisão em 2003, que a Vip Factoring e suas demais empresas faziam parte de organização criminosa. As factorings de Arcanjo,
segundo relatório do Banco Central, receberam R$ 80,7 milhões
da Assembléia Legislativa e R$ 8,3
milhões do DVOP (Departamento de Viação e Obras Públicas),
órgão extinto do governo de Mato
Grosso, de 1995 a abril de 2003.
Esse dinheiro foi para campanhas
eleitorais, diz o juiz na sentença.
No caso de Bezerra, segundo
Dondo, o cheque só seria aceito
para supostamente bancar sua
campanha com uma garantia da
gráfica. Leal confirma.
Já Nilson Roberto Teixeira, ex-gerente de Arcanjo, afirmou em
depoimento à Justiça em junho de
2003 que o dinheiro público foi
para a campanha do ex-governador Dante. O juiz afirma na sentença que há provas de que isso
ocorreu, o que é negado pelo ex-governador. Dante, Antero e Bezerra eram da mesma chapa.
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