São Paulo, quinta-feira, 12 de agosto de 2004

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LIGAÇÕES PERIGOSAS

Carlos Bezerra disputava a reeleição ao Senado, em 2002

Presidente do INSS recebeu dinheiro de condenado, diz PF

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

A Vip Factoring, empresa do ex-policial civil João Arcanjo Ribeiro, condenado por comandar o crime organizado em Mato Grosso, pagou despesas da campanha eleitoral ao Senado em 2002 do presidente do INSS, Carlos Gomes Bezerra, segundo relatório da Polícia Federal e conforme o empresário João Dorileo Leal, da Gráfica e Editora Centro Oeste.
Um cheque de R$ 1.161.400 de Bezerra serviu como garantia para que a gráfica recebesse dinheiro em agosto de 2002 apresentando nota fiscal de serviço, diz uma correspondência da Vip Factoring enviada ao senador. Esse documento consta do relatório da PF obtido pela Agência Folha.
Com o cheque, Leal diz que recebeu da factoring ao menos R$ 500 mil para gastar na campanha de Bezerra. Segundo ele, a nota fiscal descrevia os serviços de impressão de material eleitoral.
Bezerra, do PMDB, nega. Hoje, administra orçamento de R$ 127 bilhões da Previdência Social.
O cheque pré-datado para o dia 19 de novembro de 2002 acabou apreendido pela Justiça Estadual, pois Bezerra entrou com ação para que não fosse descontado.
O ex-senador (1995 a 2002) acusa o seu comitê eleitoral, do senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), candidato na época ao governo do Estado, e do ex-governador Dante de Oliveira (PSDB-MT) de ter feito "uso indevido do cheque", enviando-o à factoring. Diz que deu o cheque ao empresário João Vilar Garcia, o Nico Triunfo, um dos responsáveis, segundo Bezerra, pelo comitê. O presidente do INSS nega que tivesse negócios com a gráfica ou soubesse do destino do cheque.

"Canalhice"
Leal, que era sócio de Nico, dá outra versão. Diz que recebeu o cheque das mãos do ex-senador. "Ele [Bezerra] sabia [da operação com a empresa de Arcanjo] porque quando ele deu o cheque me disse: "O único jeito é você fazer dinheiro disso [na factoring]". Como um cara, hoje presidente do INSS, é tão infantil de dar um cheque de R$ 1 milhão e depois dizer que não sabia? Isso é canalhice."
Em depoimento à Justiça Federal, Luiz Alberto Dondo Gonçalves, ex-contador de Arcanjo que está preso em Cuiabá, disse que Leal e Nico Triunfo receberam empréstimo da factoring e repassaram à campanha de Antero. O senador e Leal negam.
A PF entregou o relatório, com a correspondência enviada a Bezerra, no dia 20 de maio passado ao juiz federal Julier Sebastião da Silva, da 1ª Vara Federal de Cuiabá.
O juiz afirmou, em sentença que condenou Arcanjo a 37 anos de prisão em 2003, que a Vip Factoring e suas demais empresas faziam parte de organização criminosa. As factorings de Arcanjo, segundo relatório do Banco Central, receberam R$ 80,7 milhões da Assembléia Legislativa e R$ 8,3 milhões do DVOP (Departamento de Viação e Obras Públicas), órgão extinto do governo de Mato Grosso, de 1995 a abril de 2003. Esse dinheiro foi para campanhas eleitorais, diz o juiz na sentença.
No caso de Bezerra, segundo Dondo, o cheque só seria aceito para supostamente bancar sua campanha com uma garantia da gráfica. Leal confirma.
Já Nilson Roberto Teixeira, ex-gerente de Arcanjo, afirmou em depoimento à Justiça em junho de 2003 que o dinheiro público foi para a campanha do ex-governador Dante. O juiz afirma na sentença que há provas de que isso ocorreu, o que é negado pelo ex-governador. Dante, Antero e Bezerra eram da mesma chapa.


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