São Paulo, sexta-feira, 12 de setembro de 2008

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ELEIÇÕES 2008 / RIO DE JANEIRO

Candidatos não vão a favelas no 1º dia de ação do Exército

Políticos temem ser malvistos nas comunidades ocupadas pelos 3.500 militares; campanhas têm de ser agendadas

Porta-voz da Operação Guanabara diz que objetivo é assegurar direitos políticos de eleitores, e não garantir a entrada de candidatos

Rafael Andrade/Folha Imagem
Militar é observado por moradores da favela Rio das Pedras, na zona oeste do Rio de Janeiro


DA SUCURSAL DO RIO

O primeiro dia do "manto de segurança" formado por Exército e Marinha para assegurar o processo eleitoral em sete favelas do Rio foi tranqüilo e sem incidentes, mas não atraiu candidatos a vereador ou prefeito da cidade. Ou seja, não cumpriu o objetivo a que se propunha.
Temendo repercussão negativa com eleitores, nenhum candidato fez campanha nas favelas ocupadas pelos 3.500 militares da Operação Guanabara.
Para dificultar ainda mais, o Tribunal Regional Eleitoral vai exigir o agendamento de campanhas e comícios nas áreas ocupadas, sob a justificativa de evitar confusão.
No início da operação, fiscais do TRE retiraram quatro caminhões cheios de propagandas irregulares de dentro das comunidades. Houve distribuição de cartilhas informativas sobre a inviolabilidade do voto.
Segundo o porta-voz da operação militar, coronel André Luiz Novaes, o objetivo não é garantir a entrada de candidatos, mas assegurar os direitos políticos dos eleitores. "Os candidatos podem se aproveitar desse manto de segurança", disse. Ele negou que a mobilização tenha sido em vão. "Não temos controle de candidatos; a operação não está focada neles. Garantimos a segurança."
Nenhum candidato foi visto pela reportagem nas favelas ocupadas. Muitos afirmam que não pretendem fazer campanha junto com o Exército em favelas, pois temem ser malvistos pelos eleitores destas áreas.
"Não vou entregar santinho a alguém que vai se sentir ameaçado no dia seguinte, quando o Exército sair", disse a vereadora Andrea Gouvêa Vieira (PSDB), candidata à reeleição.
O vice-presidente do TRE, desembargador Alberto Motta Moraes, demonstrou irritação ao ouvir a reclamação de candidatos por meio da imprensa.
"Disponibilizamos a Polícia Militar para fazer campanha em favelas. Ninguém pediu. Ser impedido de fazer campanha por milícia, pelos traficantes é midiático; ser acompanhado pelo Exército é ruim. Tem muito jogo político."
No primeiro dia de operação, como já esperado pelos militares, não houve resistência de traficantes. A ocupação foi pré-agendada e avisada, para diminuir a surpresa e as chances de eventuais confrontos.
Moradores de Rio das Pedras, foco de milícia, consideraram a ocupação "desnecessária". "Não está incomodando, só assustando um pouco. Não tem necessidade. Em outros lugares violentos, com traficantes, não estão. Sempre me senti muito segura aqui. É aplicação de dinheiro que vai para o valão", disse Madalena Justino, 40, que disse desconhecer a existência de milícia lá.
Para o porta-voz do Exército, "a população não está assustada". "Os soldados têm uma postura pacífica, não estão camuflados, as crianças estão brincando e convivendo com eles."
O governador do Rio, Sérgio Cabral, pediu que as tropas fiquem. "Tudo o que vier para garantir maior liberdade para os cidadãos decidirem de maneira 100% livre os seus candidatos e para trazer segurança pública ao Rio é muito bem-vindo. Espero que possam contribuir para o processo das eleições. Quem sabe não se entusiasmam e continuam aqui ajudando a combater a violência?"


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