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ELEIÇÕES 2008 / RIO DE JANEIRO
Candidatos não vão a favelas no 1º dia de ação do Exército
Políticos temem ser malvistos nas comunidades ocupadas pelos 3.500 militares; campanhas têm de ser agendadas
Porta-voz da Operação Guanabara diz que objetivo é assegurar direitos políticos de eleitores, e não garantir
a entrada de candidatos
Rafael Andrade/Folha Imagem
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Militar é observado por moradores da favela Rio das Pedras, na zona oeste do Rio de Janeiro
DA SUCURSAL DO RIO
O primeiro dia do "manto de
segurança" formado por Exército e Marinha para assegurar o
processo eleitoral em sete favelas do Rio foi tranqüilo e sem
incidentes, mas não atraiu candidatos a vereador ou prefeito
da cidade. Ou seja, não cumpriu
o objetivo a que se propunha.
Temendo repercussão negativa com eleitores, nenhum
candidato fez campanha nas favelas ocupadas pelos 3.500 militares da Operação Guanabara.
Para dificultar ainda mais, o
Tribunal Regional Eleitoral vai
exigir o agendamento de campanhas e comícios nas áreas
ocupadas, sob a justificativa de
evitar confusão.
No início da operação, fiscais
do TRE retiraram quatro caminhões cheios de propagandas
irregulares de dentro das comunidades. Houve distribuição
de cartilhas informativas sobre
a inviolabilidade do voto.
Segundo o porta-voz da operação militar, coronel André
Luiz Novaes, o objetivo não é
garantir a entrada de candidatos, mas assegurar os direitos
políticos dos eleitores. "Os candidatos podem se aproveitar
desse manto de segurança",
disse. Ele negou que a mobilização tenha sido em vão. "Não
temos controle de candidatos; a
operação não está focada neles.
Garantimos a segurança."
Nenhum candidato foi visto
pela reportagem nas favelas
ocupadas. Muitos afirmam que
não pretendem fazer campanha junto com o Exército em
favelas, pois temem ser malvistos pelos eleitores destas áreas.
"Não vou entregar santinho a
alguém que vai se sentir ameaçado no dia seguinte, quando o
Exército sair", disse a vereadora Andrea Gouvêa Vieira
(PSDB), candidata à reeleição.
O vice-presidente do TRE,
desembargador Alberto Motta
Moraes, demonstrou irritação
ao ouvir a reclamação de candidatos por meio da imprensa.
"Disponibilizamos a Polícia
Militar para fazer campanha
em favelas. Ninguém pediu. Ser
impedido de fazer campanha
por milícia, pelos traficantes é
midiático; ser acompanhado
pelo Exército é ruim. Tem muito jogo político."
No primeiro dia de operação,
como já esperado pelos militares, não houve resistência de
traficantes. A ocupação foi pré-agendada e avisada, para diminuir a surpresa e as chances de
eventuais confrontos.
Moradores de Rio das Pedras, foco de milícia, consideraram a ocupação "desnecessária". "Não está incomodando,
só assustando um pouco. Não
tem necessidade. Em outros lugares violentos, com traficantes, não estão. Sempre me senti
muito segura aqui. É aplicação
de dinheiro que vai para o valão", disse Madalena Justino,
40, que disse desconhecer a
existência de milícia lá.
Para o porta-voz do Exército,
"a população não está assustada". "Os soldados têm uma postura pacífica, não estão camuflados, as crianças estão brincando e convivendo com eles."
O governador do Rio, Sérgio
Cabral, pediu que as tropas fiquem. "Tudo o que vier para garantir maior liberdade para os
cidadãos decidirem de maneira
100% livre os seus candidatos e
para trazer segurança pública
ao Rio é muito bem-vindo. Espero que possam contribuir para o processo das eleições.
Quem sabe não se entusiasmam e continuam aqui ajudando a combater a violência?"
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