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Percepções positivas sobre presidente e governador indicam para ambos peso significativo na sucessão municipal
Lula e Alckmin sobrevoam rota de Marta
RENATA LO PRETE
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) e o governador Geraldo
Alckmin (PSDB) desfrutam de
avaliação semelhante e predominantemente positiva no eleitorado paulistano, o que pode reservar para ambos papel expressivo
na sucessão municipal de 2004. A
prefeita Marta Suplicy (PT), em
campanha pela reeleição, dispõe
de estoque de aprovação menor,
de acordo com pesquisa realizada
pelo Ipsos-Opinion entre o final
de agosto e o início de setembro.
Chamados a apreciar com notas
de 0 a 10 os desempenhos dos três
administradores, mais de 50%
dos entrevistados deram acima de
7 para Lula e Alckmin. Suas médias -6,4 e 6,8, respectivamente- ficaram no mesmo patamar.
Marta obteve 4,7. Suas notas de 0
a 4 somaram 43% do total, contra
23% de 5 e 6 e 34% de 7 a 10.
Orjan Olsen, responsável pelo
levantamento, aponta uma coincidência entre as avaliações de Lula e de Marta. "A aprovação a ambos é maior nos públicos de instrução e renda mais baixas", afirma o diretor do instituto.
O presidente ficou com 6,7 na
faixa que cursou até a 4ª série e 6,5
entre os que recebem até três salários mínimos. A prefeita recebeu
nota 5 desses dois grupos.
"Não é o perfil tradicional do
PT, que sempre operou nas faixas
médias de renda e nos segmentos
mais escolarizados", lembra Olsen. "Mas a mutação já foi sentida
na eleição de 2002."
Segundo o pesquisador, essa
tendência pode revelar-se útil a
Marta. "Do ponto de vista imediato, é confortável ter a melhor avaliação na faixa que concentra o
maior número de eleitores."
Mesmo o elevado percentual de
notas de 0 a 4 não pode ser tomado, adverte Olsen, como previsão
do desempenho da prefeita nas
urnas. A quase um ano da eleição,
tudo permanece em aberto -dos
nomes dos adversários ao efeito
que terá o pacote de obras agendado pela administração.
CEU na memória
A esse respeito, a pesquisa revela que o esforço publicitário para
promover o CEU (Centro Educacional Unificado) já mostra resultados. Mencionados por 34% dos
entrevistados, os "escolões" surgem no topo da lista de pontos da
gestão Marta considerados positivos. Dos cinco itens mais citados,
quatro pertencem à área da educação, incluindo programas de
grande visibilidade, como o de
distribuição de uniformes.
Esse quadro indica que, sejam
quais forem as restrições conceituais feitas ao CEU, será arriscado
criticá-lo na campanha.
Dos cinco pontos mais lembrados como negativos, três se referem a taxas (do lixo, da iluminação e elevações em geral) e dois a
transporte. Isso ajuda a explicar a
ênfase dada a esses dois temas na
ofensiva de comunicação que leva
a prefeita a sucessivos programas
populares de TV e rádio.
No caso de Lula, o ranking de
pontos considerados positivos é
liderado pelo Fome Zero (42%),
marca campeã de investimento
promocional nos primeiros meses de governo. À frente dos negativos aparece o desemprego
(21%), objeto da principal promessa de campanha do petista.
Com Alckmin ocorre algo curioso. Segurança é o item mais
mencionado como positivo
(32%) e negativo (15%). Para Olsen, o aparente paradoxo deve ser
lido como "percepção de um esforço" para resolver o problema,
sentimento que convive com a
noção de que esse objetivo está
longe de ser alcançado.
Os entrevistados foram convidados a dar notas de 0 a 10 à vontade e ao empenho para solucionar uma série de questões. Depois, avaliaram pelo mesmo método os resultados concretos obtidos em cada uma dessas áreas.
"No caso dos três", observa o
pesquisador, "as notas atribuídas
à vontade foram bastante superiores à percepção que as pessoas
têm de resultados alcançados".
O governador obteve a melhor
relação entre as duas avaliações,
seguido do presidente. A comparação foi mais negativa para a prefeita, com predomínio de notas
inferiores a 4 nos resultados.
A pesquisa comparou também
percepções sobre discurso e ação.
Nos casos de Lula e Alckmin, prevaleceu o diagnóstico de que mostram "equilíbrio entre falar e fazer" (47% e 52%, respectivamente). O presidente se diferencia, no
entanto, por "falar mais do que
faz" na opinião de 43% dos entrevistados, contra 26% que pensam
o mesmo do governador.
No entender de Olsen, o resultado reflete uma diferença de estilos: por temperamento e formação, Lula se expõe mais do que
Alckmin, um dos tucanos com
chances de enfrentar o presidente
na sucessão de 2006. Marta obteve
parcela majoritária (61%) de "fala
mais do que faz".
Assim como na nota dada ao
desempenho de suas administrações, Lula e Alckmin registraram
resultado geral parecido na avaliação de imagem pessoal em que
foi perguntado aos entrevistados
se o governante tem ou não uma
série de características.
Ambos geraram visão predominantemente positiva, variando a
ênfase nos atributos conferidos a
cada um (o presidente mais valorizado por traços como ser "caloroso no trato com as pessoas", e o
governador por itens como "capacidade administrativa").
À diferença dos dois, Marta dividiu opiniões, agradou ou desagradou. E, em quesitos como
"inspira confiança" e "cumpre o
que promete", recebeu uma parcela de "não" superior à de "sim".
Outro sinal dessa polarização
surgiu quando se perguntou aos
entrevistados se gostariam que o
novo prefeito tivesse o apoio de
Marta (42%) ou que fizesse oposição a ela (41%). No caso de Lula,
67% escolheram apoio e 18%,
oposição. Em relação a Alckmin,
a diferença foi de 66% a 17%.
Segundo Olsen, a análise dos
dados sugere que, dentre os três
governantes, a prefeita é a que
tem a avaliação geral de sua administração "mais influenciada pela
imagem pessoal que ela projeta
para os paulistanos".
Não se trata, porém, de um quadro fechado. "O atendimento de
expectativas do eleitorado por
meio de um cronograma de obras
e programas a ser cumprido daqui até a eleição pode tanto conferir um peso maior ao desempenho administrativo quanto melhorar as notas hoje atribuídas à
pessoa da prefeita."
O pesquisador destaca, como
pano de fundo da avaliação da
imagem dos três políticos, um
"clima de opinião" em que prevalece "uma grande insegurança do
paulistano com relação a seu futuro e à sua capacidade de sobrevivência dentro de um padrão de vida considerado adequado".
Apenas um terço dos entrevistados declarou-se otimista, esperando melhoras na economia do
país e em sua situação financeira
pessoal. Predomina um sentimento de estagnação. Uma minoria prevê que a situação vá piorar.
Na contramão dos críticos do
governo federal, a maioria dos entrevistados considera que a gestão
Lula é "diferente" (58%) ou "muito diferente" (58%) da anterior.
Ela é "parecida" ou "muito parecida" na opinião de parcelas bem
menores do eleitorado da capital
(21% e 6%, respectivamente).
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