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São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2003

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Percepções positivas sobre presidente e governador indicam para ambos peso significativo na sucessão municipal

Lula e Alckmin sobrevoam rota de Marta

RENATA LO PRETE
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) desfrutam de avaliação semelhante e predominantemente positiva no eleitorado paulistano, o que pode reservar para ambos papel expressivo na sucessão municipal de 2004. A prefeita Marta Suplicy (PT), em campanha pela reeleição, dispõe de estoque de aprovação menor, de acordo com pesquisa realizada pelo Ipsos-Opinion entre o final de agosto e o início de setembro.
Chamados a apreciar com notas de 0 a 10 os desempenhos dos três administradores, mais de 50% dos entrevistados deram acima de 7 para Lula e Alckmin. Suas médias -6,4 e 6,8, respectivamente- ficaram no mesmo patamar. Marta obteve 4,7. Suas notas de 0 a 4 somaram 43% do total, contra 23% de 5 e 6 e 34% de 7 a 10.
Orjan Olsen, responsável pelo levantamento, aponta uma coincidência entre as avaliações de Lula e de Marta. "A aprovação a ambos é maior nos públicos de instrução e renda mais baixas", afirma o diretor do instituto.
O presidente ficou com 6,7 na faixa que cursou até a 4ª série e 6,5 entre os que recebem até três salários mínimos. A prefeita recebeu nota 5 desses dois grupos.
"Não é o perfil tradicional do PT, que sempre operou nas faixas médias de renda e nos segmentos mais escolarizados", lembra Olsen. "Mas a mutação já foi sentida na eleição de 2002."
Segundo o pesquisador, essa tendência pode revelar-se útil a Marta. "Do ponto de vista imediato, é confortável ter a melhor avaliação na faixa que concentra o maior número de eleitores."
Mesmo o elevado percentual de notas de 0 a 4 não pode ser tomado, adverte Olsen, como previsão do desempenho da prefeita nas urnas. A quase um ano da eleição, tudo permanece em aberto -dos nomes dos adversários ao efeito que terá o pacote de obras agendado pela administração.

CEU na memória
A esse respeito, a pesquisa revela que o esforço publicitário para promover o CEU (Centro Educacional Unificado) já mostra resultados. Mencionados por 34% dos entrevistados, os "escolões" surgem no topo da lista de pontos da gestão Marta considerados positivos. Dos cinco itens mais citados, quatro pertencem à área da educação, incluindo programas de grande visibilidade, como o de distribuição de uniformes.
Esse quadro indica que, sejam quais forem as restrições conceituais feitas ao CEU, será arriscado criticá-lo na campanha.
Dos cinco pontos mais lembrados como negativos, três se referem a taxas (do lixo, da iluminação e elevações em geral) e dois a transporte. Isso ajuda a explicar a ênfase dada a esses dois temas na ofensiva de comunicação que leva a prefeita a sucessivos programas populares de TV e rádio.
No caso de Lula, o ranking de pontos considerados positivos é liderado pelo Fome Zero (42%), marca campeã de investimento promocional nos primeiros meses de governo. À frente dos negativos aparece o desemprego (21%), objeto da principal promessa de campanha do petista.
Com Alckmin ocorre algo curioso. Segurança é o item mais mencionado como positivo (32%) e negativo (15%). Para Olsen, o aparente paradoxo deve ser lido como "percepção de um esforço" para resolver o problema, sentimento que convive com a noção de que esse objetivo está longe de ser alcançado.
Os entrevistados foram convidados a dar notas de 0 a 10 à vontade e ao empenho para solucionar uma série de questões. Depois, avaliaram pelo mesmo método os resultados concretos obtidos em cada uma dessas áreas.
"No caso dos três", observa o pesquisador, "as notas atribuídas à vontade foram bastante superiores à percepção que as pessoas têm de resultados alcançados".
O governador obteve a melhor relação entre as duas avaliações, seguido do presidente. A comparação foi mais negativa para a prefeita, com predomínio de notas inferiores a 4 nos resultados.
A pesquisa comparou também percepções sobre discurso e ação. Nos casos de Lula e Alckmin, prevaleceu o diagnóstico de que mostram "equilíbrio entre falar e fazer" (47% e 52%, respectivamente). O presidente se diferencia, no entanto, por "falar mais do que faz" na opinião de 43% dos entrevistados, contra 26% que pensam o mesmo do governador.
No entender de Olsen, o resultado reflete uma diferença de estilos: por temperamento e formação, Lula se expõe mais do que Alckmin, um dos tucanos com chances de enfrentar o presidente na sucessão de 2006. Marta obteve parcela majoritária (61%) de "fala mais do que faz".
Assim como na nota dada ao desempenho de suas administrações, Lula e Alckmin registraram resultado geral parecido na avaliação de imagem pessoal em que foi perguntado aos entrevistados se o governante tem ou não uma série de características.
Ambos geraram visão predominantemente positiva, variando a ênfase nos atributos conferidos a cada um (o presidente mais valorizado por traços como ser "caloroso no trato com as pessoas", e o governador por itens como "capacidade administrativa").
À diferença dos dois, Marta dividiu opiniões, agradou ou desagradou. E, em quesitos como "inspira confiança" e "cumpre o que promete", recebeu uma parcela de "não" superior à de "sim".
Outro sinal dessa polarização surgiu quando se perguntou aos entrevistados se gostariam que o novo prefeito tivesse o apoio de Marta (42%) ou que fizesse oposição a ela (41%). No caso de Lula, 67% escolheram apoio e 18%, oposição. Em relação a Alckmin, a diferença foi de 66% a 17%.
Segundo Olsen, a análise dos dados sugere que, dentre os três governantes, a prefeita é a que tem a avaliação geral de sua administração "mais influenciada pela imagem pessoal que ela projeta para os paulistanos".
Não se trata, porém, de um quadro fechado. "O atendimento de expectativas do eleitorado por meio de um cronograma de obras e programas a ser cumprido daqui até a eleição pode tanto conferir um peso maior ao desempenho administrativo quanto melhorar as notas hoje atribuídas à pessoa da prefeita."
O pesquisador destaca, como pano de fundo da avaliação da imagem dos três políticos, um "clima de opinião" em que prevalece "uma grande insegurança do paulistano com relação a seu futuro e à sua capacidade de sobrevivência dentro de um padrão de vida considerado adequado".
Apenas um terço dos entrevistados declarou-se otimista, esperando melhoras na economia do país e em sua situação financeira pessoal. Predomina um sentimento de estagnação. Uma minoria prevê que a situação vá piorar.
Na contramão dos críticos do governo federal, a maioria dos entrevistados considera que a gestão Lula é "diferente" (58%) ou "muito diferente" (58%) da anterior. Ela é "parecida" ou "muito parecida" na opinião de parcelas bem menores do eleitorado da capital (21% e 6%, respectivamente).



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