São Paulo, quinta-feira, 12 de outubro de 2006

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Otavio Frias Filho

Medo e esperança

O DEBATE ENTRE Lula e Alckmin, domingo passado na TV Bandeirantes, confirma o que sempre se soube sobre esse tipo de confrontos. Ou seja, são assistidos por parcela minoritária da população e invariavelmente resultam numa espécie de empate.
As regras impostas pela assessoria dos candidatos impedem uma discussão de verdade. Cada candidato usa seu tempo, sob o ridículo pretexto de fazer "perguntas" ao adversário, para elogiar a si mesmo e atacar o oponente. O questionamento por parte de jornalistas, que deveria ser o cerne do espetáculo, fica resumido a figuração.
Tudo é organizado de modo a reduzir riscos para ambos os candidatos. Pesquisa Datafolha publicada ontem mostra que apenas cerca de um terço das pessoas diz ter visto algum trecho do debate. E que suas opiniões, quanto a quem venceu o confronto, ficam divididas em proporções quase iguais.
Ainda assim, a vantagem de Lula sobre Alckmin, que era de 7 pontos, subiu para 11. Por quê? Estamos no terreno das especulações.
Chama a atenção que o favoritismo de Lula se alimentou da queda nas preferências por Alckmin nos setores de renda média, nos mais escolarizados e na região Sul. Ou seja, em áreas "alckmistas".
Não parece crível que o tom beligerante adotado pelo tucano seja responsável por essa enigmática queda. A atitude mais combativa sem dúvida fortaleceu a imagem de Alckmin em meio aos chamados formadores de opinião, militância tucana incluída. E não existe motivo para pensar que o efeito terá sido contrário nos eleitores de melhor escolaridade e renda.
A pesquisa da semana passada revelava que a "onda Alckmin", no empuxo da qual o ex-governador chegara ao segundo turno, havia sido estancada. A pesquisa de ontem sugere que essa onda começa a ser revertida, tornando cada vez mais difícil, para Alckmin, chegar ao empate técnico. O que está acontecendo?
É muito plausível que o eleitor, essa abstração estatística, chocado com a irrupção de outro escândalo petista às vésperas do primeiro turno, tenha se concedido mais um mês para decidir. Como o governo teve êxito em congelar a investigação do caso, o assunto saiu dos holofotes.
Conforme se aproxima o Dia D, devem aumentar as falsidades e as promessas delirantes. Um dirá -já está dizendo- que o outro vai acabar com os programas de transferência de renda; o outro responderá que pretende multiplicá-los, garanti-los por lei e o que mais for necessário para não perder.
Alckmin enfrenta a poderosa máquina federal, a metade do eleitorado que tem medo de perder benefícios, a ambigüidade (para dizer o mínimo...) dos "aliados" Serra e Aécio. Cada vez mais seu fio de esperança parece pender da investigação do "dossiêgate", onde se localiza, também, o único medo do governo.


OTAVIO FRIAS FILHO é diretor de Redação da Folha

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