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Otavio Frias Filho
Medo e esperança
O DEBATE ENTRE Lula
e Alckmin, domingo
passado na TV Bandeirantes, confirma o que
sempre se soube sobre esse
tipo de confrontos. Ou seja,
são assistidos por parcela
minoritária da população e
invariavelmente resultam
numa espécie de empate.
As regras impostas pela
assessoria dos candidatos
impedem uma discussão
de verdade. Cada candidato
usa seu tempo, sob o ridículo pretexto de fazer "perguntas" ao adversário, para
elogiar a si mesmo e atacar
o oponente. O questionamento por parte de jornalistas, que deveria ser o cerne do espetáculo, fica resumido a figuração.
Tudo é organizado de
modo a reduzir riscos para
ambos os candidatos. Pesquisa Datafolha publicada
ontem mostra que apenas
cerca de um terço das pessoas diz ter visto algum trecho do debate. E que suas
opiniões, quanto a quem
venceu o confronto, ficam
divididas em proporções
quase iguais.
Ainda assim, a vantagem
de Lula sobre Alckmin, que
era de 7 pontos, subiu para
11. Por quê? Estamos no
terreno das especulações.
Chama a atenção que o favoritismo de Lula se alimentou da queda nas preferências por Alckmin nos
setores de renda média,
nos mais escolarizados e na
região Sul. Ou seja, em
áreas "alckmistas".
Não parece crível que o
tom beligerante adotado
pelo tucano seja responsável por essa enigmática
queda. A atitude mais combativa sem dúvida fortaleceu a imagem de Alckmin
em meio aos chamados formadores de opinião, militância tucana incluída. E
não existe motivo para
pensar que o efeito terá sido contrário nos eleitores
de melhor escolaridade e
renda.
A pesquisa da semana
passada revelava que a "onda Alckmin", no empuxo da
qual o ex-governador chegara ao segundo turno, havia sido estancada. A pesquisa de ontem sugere que
essa onda começa a ser revertida, tornando cada vez
mais difícil, para Alckmin,
chegar ao empate técnico.
O que está acontecendo?
É muito plausível que o
eleitor, essa abstração estatística, chocado com a irrupção de outro escândalo
petista às vésperas do primeiro turno, tenha se concedido mais um mês para
decidir. Como o governo
teve êxito em congelar a investigação do caso, o assunto saiu dos holofotes.
Conforme se aproxima o
Dia D, devem aumentar as
falsidades e as promessas
delirantes. Um dirá -já está dizendo- que o outro vai
acabar com os programas
de transferência de renda;
o outro responderá que
pretende multiplicá-los,
garanti-los por lei e o que
mais for necessário para
não perder.
Alckmin enfrenta a poderosa máquina federal, a
metade do eleitorado que
tem medo de perder benefícios, a ambigüidade (para
dizer o mínimo...) dos "aliados" Serra e Aécio. Cada
vez mais seu fio de esperança parece pender da investigação do "dossiêgate",
onde se localiza, também, o
único medo do governo.
OTAVIO FRIAS FILHO é diretor de
Redação da Folha
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