São Paulo, quinta-feira, 12 de outubro de 2006

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JANIO DE FREITAS

Variedades

Como atingiu um prédio residencial, o avião poderia atingir, com explosivo, um feixe nervoso de Nova York

DE REPENTE, as mulheres não puderam entrar nos aviões levando nas bolsas nem o seu batom. Frascos de perfume ou de água continuam proibidos, a menos que sejam bem pequenos, estejam em sacos plásticos invioláveis e sejam examinados pela autoridade máxima, um guarda treinado para achar que todo estrangeiro é, por natureza, terrorista em potencial.
De repente, o estupendo esquema de segurança que vai do vôo permanente de aviões de caça, em espreita de terroristas nos céus, ao batom e aos suspeitíssimos absorventes das mulheres americanas, desfaz-se na fumaça de um pequeno incêndio.
Qualquer que fosse o seu motivo, o aviãozinho mostrou, no próprio coração urbano da paranóia americana, o quanto é insolúvel a vulnerabilidade em que o governo dos EUA lançou seu país. Como atingiu um prédio residencial, o pequeno avião poderia atingir, carregado de explosivo, um feixe nervoso de Nova York -a ONU, por exemplo.

Solução
No primeiro ato notável de sua candidatura, Denise Frossard informou que não levaria a campanha a nenhuma favela carioca ou fluminense: "Ah, tenho medo".
Passada ao segundo turno, agora recusa atos de campanha às 18 horas: "É uma hora pouco saudável. Há uma pesquisa que diz que nesse horário as pessoas não voltam para casa diante do medo".
Deve ser pesquisa particular, com a solução da candidata para a insegurança pública: quanto mais entrada a noite, melhor para andar por aí. Mas não se recomenda a experiência. Frossard ainda não apresentou um programa propriamente, mas o carro-chefe é conhecido: um governo muito divertido.

Os quatro
Lula se diz craque em debate. Apesar disso, uma pergunta embaraçosa é suficiente para deixá-lo nervoso. E, nervoso, desanda a atropelar as palavras, não concluir frases, agrava o problema das concordâncias, e o suor jorra. Esteve assim, a partir do terceiro bloco, na discussão com Alckmin, e atribui seu desempenho ao pouco tempo dedicado a preparar-se: "Vou me preparar mais para o próximo". Quem se lembra do Lula preparado por Duda Mendonça, para debater com José Serra, sabe que não é de tempo para decoreba que se trata.
O professor Marcos Nobre, em mais um artigo admirável, sugeriu na Folha que Lula, tendo fugido tanto de entrevistas, perdeu a habilidade para enfrentar perguntas embaraçosas.
Proponho uma razão complementar: Lula ainda não sabe que personagem representar na campanha e, sobretudo, não o soube na Bandeirantes -se o Lula de Duda ou o Lula anterior. Fez os dois brigarem entre si, impedindo que um deles enfrentasse Alckmin como melhor lhe conviria. Com tudo decorado, Alckmin também não soube explorar o aturdimento de Lula entre os dois Lulas. Daí o empate das quatro personagens em cena.


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