São Paulo, domingo, 12 de novembro de 2000

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Comunidade tem escola modelo

DA REPORTAGEM LOCAL

Só há uma criança em idade escolar fora da escola na terra indígena Xapecó, situada entre o cruzamento dos rios Chapecó e Chapecozinho, em Santa Catarina, onde vivem 4.400 índios da etnia caingangue, divididos em nove aldeias. Ele se chama Amarildo. Sua mãe tem o nome de Maria e ele não sabe o nome do pai. Amarildo provavelmente tem seis anos, não fala e, dizem, não escuta.
Na verdade, ele escuta, sim, e não fala porque precisa de um tratamento de fonoaudiologia, indisponível por lá. Mas Amarildo não sai da escola. Passa o dia numa instituição modelo, a Escola Indígena Básica Cacique Vanhre (responsável pela compra daquelas terras). É uma escola pública que deixa qualquer branco rubro de constrangimento, a primeira a manter ensino de segundo grau numa comunidade indígena.
A construção, projetada por um índio em forma de oca, tem espaço para 450 alunos. O ensino é bilíngue, em português e no idioma caingangue. Todos aprendem a arte indígena, fazem atividade física, comem merenda e têm acesso ao computador. Ninguém paga nada nem pelo material. A filosofia, explica a diretora, Eliane Trevisan Cassol, "é preparar o aluno índio como ser capacitado para, em pé de igualdade com o branco, não só defender seu direito como índio, mas também para ocupar sua posição na sociedade como cidadão brasileiro".
Os professores, brancos e índios, recebem um salário de R$ 330 por mês. São 16 salas e, no centro da oca, onde ficaria o líder, está a direção. O recado aos não-índios que está pendurado logo na entrada da escola define seus propósitos: "Com esta escola podemos ser o que vocês são sem deixarmos de ser índios".


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