São Paulo, domingo, 12 de novembro de 2000

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RUMO A 2002
Caso petista não seja candidato a presidente pela quarta vez, líder do partido afirma que vai apoiar deputado
Se não disputar, Lula diz preferir Genoino

KENNEDY ALENCAR
LUIZA DAMÉ


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na semana em que o senador Eduardo Suplicy se lançou candidato a presidente, Luiz Inácio Lula da Silva disse que, se não concorrer em 2002, seu preferido é o deputado federal José Genoino.
"Se tivesse de dizer que não sou candidato e que acho que devemos escolher um, creio que Genoino hoje é o que tem maior densidade nacional", afirmou.
Lula chegou a mencionar o governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra, como número um de sua lista de presidenciáveis, mas não crê que o gaúcho queira disputar o Palácio do Planalto.
O principal líder petista, que já disputou e perdeu a Presidência três vezes, afirma que decidirá até março se concorre: "Estou estudando cientificamente, com pesquisa, todas as possibilidades. Não somente para mim, mas para outras figuras do PT".
Lula gostou da indicação do banqueiro João Sayad para secretário das Finanças e Desenvolvimento Econômico de Marta Suplicy. Admitiu alguém com esse perfil em eventual presidência do PT, mas disse que Sayad "não vai determinar a política social da Prefeitura de São Paulo".
Avalia que Ciro Gomes (PPS) não quer aliança com o PT: "A insinuação dele é para o PSDB". Lula deu entrevista à Folha anteontem, durante a reunião dos prefeitos do PT, em Brasília.

Folha - O PT fez uma campanha municipal sem guerra interna, refletindo a hegemonia moderada. Morreu o PT radical?
Luiz Inácio Lula da Silva -
Morreu o sectarismo, até porque ele nunca foi bom na história da humanidade. Morreu a idéia de privilegiar as guerras internas. O PT passou a compreender que uma disputa eleitoral não é um debate ideológico. Em eleição, analisa-se pragmaticamente a possibilidade que se tem de ganhar ou não. Onde a guerra interna foi diminuída, ganhamos.

Folha - O PT está caminhando para o centro?
Lula -
O PT caminha para um processo de amadurecimento no qual o bom senso vai ganhar sempre do sectarismo.

Folha - O que mudou no PT a ponto de permitir que João Sayad, um banqueiro que votou no PSDB no primeiro turno, seja o principal secretário da prefeitura mais importante do partido?
Lula -
O convite da Marta foi uma demonstração de maturidade de uma pessoa que sabe que não ganhou as eleições sozinha, mas com outras forças políticas. João Sayad não foi convidado porque é banqueiro, mas por ter tido um comportamento político de combate ao neoliberalismo. Entende de finanças e tem trânsito aqui dentro e lá fora. É um homem que não vai determinar a política social da Prefeitura de São Paulo. Cuidará do gerenciamento do dinheiro.

Folha - Se o sr. se elegesse presidente, teria alguém com o perfil do Sayad no governo?
Lula -
Depende. Se o PT ganhasse sozinho, sem apoio de outros partidos políticos, provavelmente não. Mas esse é um cenário irreal. Logo, seria provável ter alguém com um perfil assim. Ele simboliza parte das forças que ajudaram o PT a ganhar.

Folha - Por que o sr. definiu março de 2001 como prazo para decidir se disputa o Planalto?
Lula -
Como começou a haver pressão para eu definir, disse que pensaria até março. Se eu disser não, o partido precisará trabalhar outros candidatos e estabelecer critérios para a escolha. O PT não tem de pegar março, a data é minha porque preciso liberar o partido. Ou vou dizer para o pessoal tocar o barco ou que serei candidato mais uma vez.

Folha - Quando o sr. disser que é candidato, ninguém mais será?
Lula -
Não, pode ter. O companheiro (senador Eduardo) Suplicy disse que deseja concorrer e disputar a prévia, independentemente de candidato. O PT terá de dizer se quer a prévia ou não.

Folha - O sr. tem consultado dirigentes do PT e publicitários?
Lula -
Tenho conversado com muita gente. Estou estudando criteriosamente, cientificamente, com pesquisa, todas as possibilidades. Não somente para mim, mas para outras figuras do PT.

Folha - Se não disputar, seu candidato preferido é o deputado federal José Genoino (SP)?
Lula -
É muito difícil dizer: "Meu candidato é fulano de tal". Aí, vocês vão vender que veto os outros.

Folha - O sr. tem preferência?
Lula -
O primeiro nome é o companheiro Olívio Dutra. Se terminar o ano que vem numa condição política excepcional, a importância do Estado garante a ele a condição de pleitear o que quiser no partido. Na minha opinião, porém, ele não quer. Se o conheço, ele governará o Rio Grande do Sul até 31 de dezembro de 2002. Há companheiros como José Genoino, José Dirceu, Aloizio Mercadante (líder do PT na Câmara), como Cristovam Buarque (ex-governador) e Suplicy. Entre esses, se tivesse de dizer que não sou candidato e acho que devemos escolher um, creio que Genoino hoje é o que tem maior densidade nacional.

Folha - Por quê?
Lula -
É uma figura que tem 20 anos de Congresso. No entanto acho que ele não pensa nisso agora, mas em ser candidato a governador de São Paulo, pois é mais fácil de se eleger do que para presidente.

Folha - O sr. crê em aliança com o PPS de Ciro Gomes?
Lula -
Não se trata de acreditar, mas de trabalhar. Se não acontecer, que não joguem na cara do PT que o partido não quer.

Folha - Ciro diz que quer aliança e que o PT não quer.
Lula -
Pelo discurso do Ciro, ele não quer aliança. A aliança preferencial dele não é com o PT. Quando ele diz que deseja ser um candidato "mais palatável", está se insinuando. E não é para o PT.

Folha - É para quem?
Lula -
A insinuação dele é para o PSDB. Como não trato política pessoalmente, mas partidariamente, quero conversar com a direção do PPS. Mas achamos que temos muito pouco em comum.

Folha - O sr. acha que Itamar será candidato a presidente?
Lula -
Sim, mas está dependendo do partido no qual vai entrar.

Folha - É bom que ele seja candidato?
Lula -
Se o outro lado sair dividido, não há problema em várias candidaturas da oposição. Se o outro lado se unificar, que é a tendência, acho muito ruim nós não nos unificarmos.

Folha - Não seria o contrário, melhor ter três candidatos que somem, na largada, cerca de 65% nas pesquisas e ocupar espaço para evitar o crescimento da candidatura governista? Lula com cerca de 30%. Ciro com 20%. E Itamar com 15%.
Lula -
E quem diz que todos manterão esse patamar? Temos de saber quem será o candidato do outro lado. Se ele conseguir juntar todas as forças políticas outra vez, que vão de Rede Globo a PPB, de banqueiros internacionais a Antônio Ermírio de Moraes, teremos de saber que não estaremos enfrentando só os partidos do governo, mas muito mais forças. Possivelmente a polarização seja importante no primeiro turno. Se sairmos divididos, diminuiremos o tempo do nosso discurso na TV.

Folha - Essa polarização aumenta a chance de a eleição acabar no primeiro turno?
Lula -
Ótimo. E de nós ganharmos também.

Folha - Ou de perderem.
Lula -
Sim, também, mas a polarização significa meio-a-meio de tempo na televisão e um jogo mais justo.


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