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RUMO A 2002
Caso petista não seja candidato a presidente pela quarta vez, líder do partido afirma que vai apoiar deputado
Se não disputar, Lula diz preferir Genoino
KENNEDY ALENCAR
LUIZA DAMÉ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na semana em que o senador
Eduardo Suplicy se lançou candidato a presidente, Luiz Inácio Lula da Silva disse que, se não concorrer em 2002, seu preferido é o
deputado federal José Genoino.
"Se tivesse de dizer que não sou
candidato e que acho que devemos escolher um, creio que Genoino hoje é o que tem maior
densidade nacional", afirmou.
Lula chegou a mencionar o governador do Rio Grande do Sul,
Olívio Dutra, como número um
de sua lista de presidenciáveis,
mas não crê que o gaúcho queira
disputar o Palácio do Planalto.
O principal líder petista, que já
disputou e perdeu a Presidência
três vezes, afirma que decidirá até
março se concorre: "Estou estudando cientificamente, com pesquisa, todas as possibilidades.
Não somente para mim, mas para
outras figuras do PT".
Lula gostou da indicação do
banqueiro João Sayad para secretário das Finanças e Desenvolvimento Econômico de Marta Suplicy. Admitiu alguém com esse
perfil em eventual presidência do
PT, mas disse que Sayad "não vai
determinar a política social da
Prefeitura de São Paulo".
Avalia que Ciro Gomes (PPS)
não quer aliança com o PT: "A insinuação dele é para o PSDB". Lula deu entrevista à Folha anteontem, durante a reunião dos prefeitos do PT, em Brasília.
Folha - O PT fez uma campanha
municipal sem guerra interna, refletindo a hegemonia moderada.
Morreu o PT radical?
Luiz Inácio Lula da Silva -Morreu
o sectarismo, até porque ele nunca foi bom na história da humanidade. Morreu a idéia de privilegiar as guerras internas. O PT passou a compreender que uma disputa eleitoral não é um debate
ideológico. Em eleição, analisa-se
pragmaticamente a possibilidade
que se tem de ganhar ou não. Onde a guerra interna foi diminuída,
ganhamos.
Folha - O PT está caminhando para o centro?
Lula - O PT caminha para um
processo de amadurecimento no
qual o bom senso vai ganhar sempre do sectarismo.
Folha - O que mudou no PT a ponto de permitir que João Sayad, um
banqueiro que votou no PSDB no
primeiro turno, seja o principal secretário da prefeitura mais importante do partido?
Lula - O convite da Marta foi
uma demonstração de maturidade de uma pessoa que sabe que
não ganhou as eleições sozinha,
mas com outras forças políticas.
João Sayad não foi convidado
porque é banqueiro, mas por ter
tido um comportamento político
de combate ao neoliberalismo.
Entende de finanças e tem trânsito aqui dentro e lá fora. É um homem que não vai determinar a
política social da Prefeitura de São
Paulo. Cuidará do gerenciamento
do dinheiro.
Folha - Se o sr. se elegesse presidente, teria alguém com o perfil do
Sayad no governo?
Lula - Depende. Se o PT ganhasse sozinho, sem apoio de outros
partidos políticos, provavelmente
não. Mas esse é um cenário irreal.
Logo, seria provável ter alguém
com um perfil assim. Ele simboliza parte das forças que ajudaram
o PT a ganhar.
Folha - Por que o sr. definiu março de 2001 como prazo para decidir
se disputa o Planalto?
Lula - Como começou a haver
pressão para eu definir, disse que
pensaria até março. Se eu disser
não, o partido precisará trabalhar
outros candidatos e estabelecer
critérios para a escolha. O PT não
tem de pegar março, a data é minha porque preciso liberar o partido. Ou vou dizer para o pessoal
tocar o barco ou que serei candidato mais uma vez.
Folha - Quando o sr. disser que é
candidato, ninguém mais será?
Lula - Não, pode ter. O companheiro (senador Eduardo) Suplicy disse que deseja concorrer e
disputar a prévia, independentemente de candidato. O PT terá de
dizer se quer a prévia ou não.
Folha - O sr. tem consultado dirigentes do PT e publicitários?
Lula - Tenho conversado com
muita gente. Estou estudando criteriosamente, cientificamente,
com pesquisa, todas as possibilidades. Não somente para mim,
mas para outras figuras do PT.
Folha - Se não disputar, seu candidato preferido é o deputado federal José Genoino (SP)?
Lula - É muito difícil dizer: "Meu
candidato é fulano de tal". Aí, vocês vão vender que veto os outros.
Folha - O sr. tem preferência?
Lula - O primeiro nome é o companheiro Olívio Dutra. Se terminar o ano que vem numa condição política excepcional, a importância do Estado garante a ele a
condição de pleitear o que quiser
no partido. Na minha opinião,
porém, ele não quer. Se o conheço, ele governará o Rio Grande do
Sul até 31 de dezembro de 2002.
Há companheiros como José Genoino, José Dirceu, Aloizio Mercadante (líder do PT na Câmara),
como Cristovam Buarque (ex-governador) e Suplicy. Entre esses,
se tivesse de dizer que não sou
candidato e acho que devemos escolher um, creio que Genoino hoje é o que tem maior densidade
nacional.
Folha - Por quê?
Lula - É uma figura que tem 20
anos de Congresso. No entanto
acho que ele não pensa nisso agora, mas em ser candidato a governador de São Paulo, pois é mais
fácil de se eleger do que para presidente.
Folha - O sr. crê em aliança com o
PPS de Ciro Gomes?
Lula - Não se trata de acreditar,
mas de trabalhar. Se não acontecer, que não joguem na cara do
PT que o partido não quer.
Folha - Ciro diz que quer aliança e
que o PT não quer.
Lula - Pelo discurso do Ciro, ele
não quer aliança. A aliança preferencial dele não é com o PT.
Quando ele diz que deseja ser um
candidato "mais palatável", está
se insinuando. E não é para o PT.
Folha - É para quem?
Lula - A insinuação dele é para o
PSDB. Como não trato política
pessoalmente, mas partidariamente, quero conversar com a direção do PPS. Mas achamos que
temos muito pouco em comum.
Folha - O sr. acha que Itamar será
candidato a presidente?
Lula - Sim, mas está dependendo
do partido no qual vai entrar.
Folha - É bom que ele seja candidato?
Lula - Se o outro lado sair dividido, não há problema em várias
candidaturas da oposição. Se o
outro lado se unificar, que é a tendência, acho muito ruim nós não
nos unificarmos.
Folha - Não seria o contrário, melhor ter três candidatos que somem, na largada, cerca de 65% nas
pesquisas e ocupar espaço para
evitar o crescimento da candidatura governista? Lula com cerca de
30%. Ciro com 20%. E Itamar com
15%.
Lula - E quem diz que todos
manterão esse patamar? Temos
de saber quem será o candidato
do outro lado. Se ele conseguir
juntar todas as forças políticas outra vez, que vão de Rede Globo a
PPB, de banqueiros internacionais a Antônio Ermírio de Moraes, teremos de saber que não estaremos enfrentando só os partidos do governo, mas muito mais
forças. Possivelmente a polarização seja importante no primeiro
turno. Se sairmos divididos, diminuiremos o tempo do nosso discurso na TV.
Folha - Essa polarização aumenta
a chance de a eleição acabar no primeiro turno?
Lula - Ótimo. E de nós ganharmos também.
Folha - Ou de perderem.
Lula - Sim, também, mas a polarização significa meio-a-meio de
tempo na televisão e um jogo
mais justo.
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