São Paulo, terça-feira, 12 de novembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Após reunião com pefelista, presidente eleito cumpre roteiro religioso na capital baiana para agradecer por votação

Lula recebe de ACM "crédito de confiança"

Jorge Araújo/Folha Imagem
No aeroporto de Salvador, o presidente eleito recebe fita do Senhor do Bonfim de uma baiana...depois, ao sair da igreja do Bonfim, que visitou à tarde, Lula acena, já sem a fita no punho


PLÍNIO FRAGA
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

Antigos adversários, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e o senador eleito Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) formalizaram ontem uma aproximação que se desenhava desde o segundo turno da eleição presidencial.
Lula e ACM se reuniram por uma hora, tiraram fotos juntos e coube ao senador pefelista definir a tônica do encontro: "Foi maravilhoso", resumiu para os jornalistas após o evento.
Lula evitou dar entrevistas durante todo o dia em que visitou Salvador. No Palácio de Ondina, residência oficial do governador da Bahia, com goles de sucos de cajá e de cacau, foi ACM quem relatou o teor da conversa. "Lula teve uma fala excelente em todos os pontos. Disse como pretende prestigiar o Congresso, se entrosar com todos os Poderes e como ele quer conversar, o que acha que faltava nos governantes", disse.
Apesar de formalmente o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, ter divulgado nota em que anunciou que o partido fará "oposição construtiva" ao PT, ACM foi bem mais brando. "Eu particularmente e meu partido já demos um crédito de confiança ao Lula. Numa primeira fase, vamos apoiá-lo. E podemos apoiar todo o tempo, se essa for a disposição dele de trabalhar indistintamente pelo país."
Questionado se sua posição não se chocava com a adotada oficialmente pelo PFL, ACM tentou explicar o que será a "oposição construtiva": "Sem má vontade com relação a qualquer proposição do governo".
Da reunião participaram ainda o presidente do PT, José Dirceu, o deputado federal mais votado do Estado, ACM Neto, o governador eleito da Bahia, Paulo Souto (PFL), o senador eleito César Borges (PFL), o atual governador, Otto Alencar (PL), o prefeito de Salvador, Antonio Imbassahy (PFL), e o ex-ministro das Minas e Energia Rodolpho Tourinho, que assumirá a vaga de Souto no Senado por ser seu suplente.
Para Dirceu, a visita "foi um encontro institucional, não um encontro político-partidário".
Lula visitou depois as Obras Sociais Irmã Dulce, um complexo de assistência a carentes. Foi recepcionado pelo ex-controlador do Econômico, Ângelo Calmon de Sá, cujo banco está sob intervenção. Calmon é um dos mais antigos aliados de ACM.
Em seguida, foi para a igreja de Nosso Senhor do Bonfim, onde entrou cercado por cerca de 200 pessoas. Foi saudado com o Hino do Senhor do Bonfim e caminhou até ao altar, onde, com a mulher, Marisa, rezou. Lula iria fazer dentro da igreja um agradecimento aos baianos. Mas houve tumulto entre jornalistas e seguranças da PF. Lula ficou contrariado e foi direto para o carro. Questionado se iria dar entrevista, disse: "Vai sair no jornal e na hora certa".
À noite, na abertura da 18º Conferência Nacional dos Advogados, o ministro Paulo de Tarso (Justiça), que representava o presidente Fernando Henrique Cardoso, e ACM foram vaiados pela platéia de cerca de 1.200 pessoas -Lula foi aplaudido. O presidente nacional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Rubens Approbato Machado, interferiu para conter as vaias. "Democracia é a arte de respeitar todos os outros", disse no microfone.



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