São Paulo, quinta-feira, 12 de dezembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Presidente do Conselho de Administração da Sadia assumirá ministério que havia recusado em sondagem de FHC

Furlan aceita ocupar o Desenvolvimento

PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

O empresário Luiz Fernando Furlan, 55, presidente do Conselho de Administração da Sadia, será o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio do governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. Furlan, da maior agroindústria brasileira, aceitou ontem o convite de Lula.
Amigo do presidente Fernando Henrique Cardoso e sem ter declarado publicamente seu voto nas eleições deste ano, Furlan foi escolhido pelo presidente eleito por ser um símbolo do empresário exportador que o PT pretende estimular e por ter feito declarações avaliadas como em sintonia com as propostas do partido.
A Sadia exporta anualmente cerca de US$ 700 milhões em produtos à base de aves, carne bovina e suína para países da União Européia, Oriente Médio e Ásia.
Furlan era um dos interlocutores do novo ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, na tentativa de articulação de um pacto social, reunindo empresários, trabalhadores e entidades civis em torno de uma agenda para 2003.
O presidente do conselho da Sadia vai ocupar vaga para a qual especulou-se o nome de Eugênio Staub, da Gradiente, o primeiro dos grandes empresários brasileiros a declarar voto em Lula. O nome de Staub, ligado ao senador José Sarney (PMDB-AP), enfrentava resistências internas no PT.
Furlan já havia sido sondado para o Ministério do Desenvolvimento pelo presidente FHC no final de 1999. Não quis substituir ao então ministro Clóvis Carvalho, que havia entrado em choque com Pedro Malan (Fazenda), numa desavença que ficou conhecida como a disputa entre "monetaristas" e "desenvolvimentistas" do governo tucano. Recusou por entender que o Desenvolvimento saíra enfraquecido com a queda de Carvalho, tido como defensor da produção industrial.
Após a primeira reunião do pacto social em novembro passado, Furlan agradou a Lula por ter elogiado sua realização e o programa petista de combate à fome.
Declarações suas sobre a Alca (Área Livre de Comércio das Américas), concedidas em setembro deste ano, já o haviam aproximado da cúpula petista. "A Alca não é obrigatória. Ela só é interessante na medida em que tenhamos vantagens", afirmou à época. A Sadia exporta pequena quantidade de produtos para os Estados Unidos, por causa de barreiras tarifárias e fitossanitárias.
Furlan, segundo vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), é próximo de Horacio Lafer Piva, presidente da entidade e agora um dos interlocutores frequentes de Lula. Vai comandar um ministério ao qual estão vinculados o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e a Camex (Câmara de Comércio Exterior).
Sua proposta de estímulo à exportação se assemelha à defendida por Lula na campanha presidencial, avaliam petistas. Defende a criação no Brasil de um órgão coordenador do comércio exterior, ligado ao presidente da República, como a United States Trade Representative (USTR), dos Estados Unidos.
Propõe o estabelecimento de um número restrito de prioridades para a exportação. "Quem tem muitas prioridades não tem nenhuma", costuma dizer.
O novo ministro quer que o país defina setores nos quais possa ser competitivo. Recentemente, na Fiesp, calculou que as exportações brasileiras, que devem encerrar este ano em algo perto de US$ 12 bilhões, podem chegar a US$ 16 bilhões em 2003.


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