São Paulo, domingo, 13 de janeiro de 2008

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ELIO GASPARI

A "Bolsa Casa Branca" do guru do tucanato


Agora que a crise está na economia do país dele, Larry Summers converteu-se à heresia

QUEM VIVEU, VIU: Lawrence Summers, o prepotente ex-secretário do Tesouro Americano, propôs a criação de uma "Bolsa Casa Branca" para que os Estados Unidos se livrem da ameaça de uma recessão. Sua idéia é simples. Deve-se distribuir incentivos (leia-se dinheiro) para as empresas e, sobretudo, para a patuléia que preservou seu nível de consumo endividando-se no cartão de crédito ou jogando na roleta do mercado imobiliário. Ele propõe uma ação seletiva, buscando favorecer temporariamente a população de baixa renda. A "Bolsa Casa Branca", pode chegar a US$ 500 por pessoa, sob a forma de rebate no Imposto de Renda, aumento do salário-desemprego ou mesmo em cheque. O ex-secretário do Tesouro acredita que o custo do programa fique entre US$ 50 bilhões e US$ 75 bilhões. Para se ter uma idéia do tamanho desse ervanário, sem que se possa comparar uma coisa com a outra, em 2008 todos os programas sociais brasileiros custarão US$ 15,8 bilhões.
A idéia é simples, mas vai na direção oposta a tudo o que Summers pregou aos apóstolos que dirigiram as economias do Terceiro Mundo nos anos 90. No caso brasileiro, se alguém fizesse uma proposta parecida como essa aos seus discípulos da ekipenômica tucana, seria chamado de populista, dinossauro e perdulário. Eles sustentavam que, fosse qual fosse a crise, o mercado seria capaz de resolver o problema. Afinal, não existe almoço grátis.
Também não existe jejum sem custo. Quando ele ameaçou a economia dos Estados Unidos, foram às favas os escrúpulos de consciência monetária.
Summers e seus discípulos chamaram os tailandeses de irresponsáveis porque deflagraram a crise asiática de 1997, com a explosão de uma falcatrua imobiliária irresponsável. Tinham razão, mas a bolha americana foi maior. Quando milhões de pessoas foram para o desemprego, preservando a prosperidade dos Estados Unidos, era o jogo jogado. Agora que o calor da crise está na economia do seu país, Summers converteu-se à heresia. Deixou mal, muito mal, seus apóstolos.

FIZERAM MARQUETAGEM COM A FEBRE AMARELA

Os çábios do Planalto estão perplexos com a quantidade de pessoas que buscam vacinas contra a febre amarela. Entre elas, sem sucesso, na quarta-feira, esteve o senador José Sarney. Valeria a pena que revisitassem a agenda de Nosso Guia. Na manhã do dia 28 de dezembro, uma brigada de 40 mata-mosquitos fumegou a mata da Granja do Torto, protegendo-a dos insetos que transmitem a doença. No dia seguinte o empresário Graco Carvalho Abuakir, de 38 anos, foi passear nas cachoeiras de Pirenópolis (GO).
Quando a máquina de propaganda do governo revelou que Nosso Guia convidou os mata-mosquitos para almoçar, o Ministério da Saúde já sabia que o aparecimento de macacos mortos em Goiás, levara 30 mil pessoas a procurara a vacina, em apenas uma semana de dezembro. Sabia-se também que, por motivos técnicos estranhos à sua vontade, a fábrica de vacinas do Bio-Manguinhos estivera inativa de fevereiro a junho. Havia estoque suficiente para a demanda de rotina, mas se ocorresse um surto de ansiedade, surgiriam as filas e as reclamações.
Em vez de trabalhar no mundo real, brincaram de fumegar o Torto. Se é preciso proteger o presidente, o que deve fazer a patuléia, senão caçar vacinas? Abubakir, que não era vacinado, morreu da doença no último dia 8.
Nosso Guia tem uma relação primitiva com a febre amarela. Em 2003 ele revelou que "Oswaldo Cruz, no começo do século passado, criou a vacina contra e febre amarela para salvar a humanidade". Em 1937, quando Max Theiler conseguiu a vacina, Oswaldo Cruz já estava morto. O que o cientista brasileiro fez foi fumegar as cidades para matar o mosquito.

BOA NOTÍCIA
Logo depois do Carnaval será assinada a medida provisória que obrigará os aerocratas a compensar os passageiros sempre que houver atraso, cancelamento ou overbooking de seus vôos. Ainda não se conhecem os detalhes da MP. Em dezembro o ministro Nelson Jobim prometeu um alívio para os passageiros. No seu projeto, quem penar atrasos de até quatro horas ficará num patamar de respeito semelhante ao que a empresa americana JetBlue dá aos seus clientes. Ela é a campeã dos ressarcimentos. Num atraso de três a quatro horas num vôo do Rio para Brasília o freguês de Jobim receberia R$ 195. O da JetBlue fica com metade disso. Resta saber o que acontecerá com a farra dos cancelamentos e dos overbookings.

MADAME NATASHA
Madame Natasha estava com saudade do deputado Ciro Gomes. Reencontrou-o propondo a refundação do Brasil e concedeu-lhe mais uma de suas bolsas de estudo pela seguinte formulação: "Afirmo que há uma inerência, que chamo de paradoxo da legitimidade. Basicamente, na questão política é a institucionalidade vigente, que gera representação política. E esta, por sua vez, detém o monopólio da reforma institucional". Natasha só descobriu o sabor da salada quando leu que Ciro acredita que um surto plebiscitário seria remédio para mudar o país e sua política. Hugo Chávez também.

ALTA VOLTAGEM
Carlos Lupi não deve dizer para Nosso Guia que prefere a presidência do PDT ao Ministério do Trabalho. Lula poderá concordar com a idéia.

RECORDAR É VIVER
No início da 2003, George Bush despedia-se de um grupo na Casa Branca e viu um broche no paletó da deputada Jan Schakowsky. Leu primeira letra, "O", e as três últimas, "ama"". O doutor literalmente pulou para trás. A deputada mostrou-lhe que era Obama, não Osama, e avisou que ele seria eleito senador por Illinois. "Não conheço", disse Bush. "Pois vai conhecer", respondeu Schakowsky.

APAGÔMETRO
Está ao alcance de todos um medidor do risco de haver um apagão energético nos próximos dois anos. Baseia-se num sistema de pontos. Toda vez que Nosso Guia anunciar que não há perigo, somem-se cinco pontos. Se a notícia tranqüilizadora vier do energético ministro Edson Lobão, somem-se dez. Se o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica, Jerson Kelman, anunciar que a situação está sob controle, subtraiam-se 30 pontos ao patrimônio acumulado de parolagem. Se Kelman disser que há risco, somem-se 50 pontos. Quando o Apagômetro tiver acumulado cem pontos, haverá 51% de chances de haver racionamento nos próximos seis meses.

GRANDE FUTURO
De um leitor de cartas: "Dentro de pouco tempo José Dirceu perderá uma pessoa querida, mas começará uma nova fase de sua existência. Ficará rico, famoso e bronzeado".
Traduzindo: Fidel Castro vai morrer, liberando um processo de privataria comunista. A ilha será beneficiada por um dos maiores booms imobiliários e turísticos da história do Caribe. O comissário entrará nessa, assessorando grupos portugueses, espanhóis e brasileiros.


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