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ELIO GASPARI
Santo Dias no jubileu do PT
O comissariado petista
não festeja 25 anos, comemora jubileu. Todo José Genoino tem seu dia de Rainha Vitória. Há o PT do doutor Antonio
Palocci, o do tesoureiro Delúbio
Soares e o do companheiro Lula.
O que fazem juntos, ninguém sabe direito. Como parte das comemorações do jubileu, os companheiros federais poderiam
gastar um dinheirinho (ou fazer
uma PPP) para distribuir a cada
militante do Partido dos Trabalhadores um exemplar do livro
"Santo Dias - Quando o Passado se Transforma em História",
de Luciana Dias, Jô Azevedo e
Nair Benedicto.
Santo Dias foi um roceiro que
virou metalúrgico, líder comunitário e ativista sindical. Morreu
num piquete de greve, com um
tiro nas costas, no dia 30 de outubro de 1979. Matou-o um PM.
Lula teve oferecida a caneta de
Santo para assinar o termo de
posse na Presidência da República. Quis o destino que, acidentalmente, aceitasse outra, do senador Ramez Tebet, leal governista desde os anos 70.
Se a biografia de Santo Dias ficasse apenas na sua comovente
história talvez fosse uma leitura
repetitiva. Em matéria de herói
popular, já há Lula. Santo foi
um católico no meio de uma geração de padres e freiras que
ajudaram a mudar a cara do
andar de baixo do Brasil. Mobilizou os moradores de bairros
sem escolas, transportes ou postos de saúde. Aqueles trabalhadores da periferia que não conseguem escrituras de posse de
suas casas. Sua história ajuda a
pensar outros tempos, mas como
o PT-Federal só pensa no futuro,
o passado chega a ser uma impertinência.
Em plena ditadura, Santo Dias
ajudou a criar um sentido de comunidade no bairro de Vila Remo, na zona sul de São Paulo.
Ao lado, está Jardim Ângela. Pode-se dizer que uma comunidade retratou a periferia dos anos
70. A outra, retrata a de hoje.
Na sua primeira e melhor metade, o livro "Santo Dias" mostra o que os militantes do andar
de baixo conseguiram a partir
dos anos 60. Mostra também o
que a militância do andar de cima, obteve a partir dos 80, em
boa parte graças àquilo que o
FMI chama de "forças não competitivas" do setor financeiro.
Vila Remo testemunhou êxitos
populares. Jardim Angela, ruína.
Ouça-se o padre Jaime Crowe,
da Paróquia Santos Mártires:
"Em 1983, começa a onda de
desemprego da crise econômica.
O Jardim Ângela se fez das indústrias. (...) Com a saída dessas
empresas na década de 1990, os
bairros se empenharam numa
luta pela sobrevivência sem
igual e violenta, por conta do
tráfico, da competição e da sociedade de consumo. O tráfico se
instalou como opção de trabalho. (...) Constatamos (em 1998)
que tem um bar para cada dez
moradores, vendendo bebida alcoólica. O pessoal tem de trabalhar em algo e a falta de perspectivas alimenta o alcoolismo. Na
rua em que moro, em 2002, um
rapaz chamado Sérgio foi morto.
Tinha 20 anos. O irmão dele,
Moso, de 17 anos, já vivia de pequenos furtos, essas coisas. No
dia seguinte, na hora de encomendar o corpo no cemitério
São Luiz, o Moso falou assim pra
mim: "Ele está melhor que eu",
na frente do caixão. Quando faltava um dia para completar um
ano da morte do irmão, eu encomendei o corpo do Moso. Quais
perspectivas existem para essa
juventude aqui?".
Luciana Dias, co-autora do livro, é filha de Santo. Tinha 12
anos quando um padre foi buscá-la na escola e o irmão mais
velho, Santinho, contou-lhe:
"Nosso pai morreu". Luciana
formou-se em pedagogia pela
PUC. Santo Dias Filho cursou o
Senai e chegou ao segundo ano
de engenharia metalúrgica. Desempregado, deixou a escola
porque não tinha como pagar a
mensalidade.
Lula foi ao enterro de Santo e
discursou no cemitério: "Se os
patrões pensam que, com a morte de Santo, os trabalhadores
iriam ficar com medo, estamos
aqui para mostrar que isso não
aconteceu".
Pena, mas Santo Dias não entrou na cronologia que o PT colocou na internet como parte das
comemorações do jubileu. Operário para entrar na história do
Brasil, nem morrendo a bala.
Mantega na fritura
Em meados de janeiro, quando o
secretário do Tesouro, Joaquim
Levy, defendeu a subordinação da
taxa de juros camarada do
BNDES (pode me chamar de
TJLP) ao Banco Central, Guido
Mantega, presidente do velho e
bom BNDES, foi categórico: "A
opinião do Levy não tem peso nenhum". Na semana passada, Levy
defendeu novamente o alinhamento da TJLP ao humor do Copom. Mantega voltou a contestá-lo. Pode ser coincidência, mas esse tipo de saia justa tem a marca
registrada da ekipekonômica fritando seu adversário da vez. A
coisa funciona assim: 1) Juntam-se opiniões de pessoas qualificadas condenando uma determinada política como asnática. (O que
não quer dizer que o seja, mas
também não significa que não o
seja. Indica apenas que pessoas
respeitáveis condenam-a.) 2) Somam-se observações de técnicos
internacionais, de preferência do
FMI, na mesma direção. Obtido o
verniz intelectual-cosmopolita
vai-se à última etapa e cria-se uma
simulação de confronto. Armado
o choque interministerial ou disciplinar, o presidente da República, constrangido, frita seu aliado.
Foi assim com Carlos Lessa em
2004, com Andrea Calabi em 2002
e com Clóvis Carvalho em 1999.
Querem fritar o banqueiro-companheiro Guido Mantega.
Condy 2008
O Partido Democrata e a galera
que detesta o presidente George
Bush II sonha com um candidato
capaz de acabar com o predomínio do Partido Republicano nos
Estados Unidos. Pode ser um negro (o senador Barack Obama) ou
uma mulher (a senadora Hillary
Clinton). Bingo. Bush está criando o dois-em-um: Condoleezza
Rice. É mulher, negra, toca piano,
tem mais experiência que Obama
e muito (mas muito) mais charme
que Hillary. Com seu jeito de secretária-executiva do anos 50, ela
é tudo o que o general Colin Powell não conseguiu ser.
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