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JANIO DE FREITAS
A hora incerta
A permanência em prisão para menores autores
de monstruosidades reduziria reincidências
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O CONFRONTO ENTRE ponderações de autoridades jurídicas
contrárias à alteração de leis
penais de menores e, de outra parte,
fatos eloqüentes, não diminui o peso
da argumentação douta, mas confirma que a questão é menos simples
do que uma divergência ocasional
pode sugerir.
Não há dúvida, por exemplo, de
que as circunstâncias emocionais,
motivadas pelo crime contra o menino João Hélio, não são as mais recomendáveis para o exame, pela Câmara, de alterações da legislação penal referente a menores criminosos
próximos da maioridade. Mas também é fato indiscutível que a classe
dirigente brasileira só tira os olhos
do seu umbigo para o seu bolso, e vice-versa, a menos que compelida
por circunstâncias que ressoem como pressão social.
São incontáveis, nesse sentido, os
exemplos históricos ou atuais. Um
destes é bem apropriado: o "pacote
da segurança pública", agora incluído pelo novo presidente da Câmara
na primeira pauta de votações de
sua responsabilidade, nem arrisco
dizer desde quando dormita por lá,
já aprovado pelo Senado. O axioma
segundo o qual "o Congresso jamais
decepciona a sociedade", tão lembrado em grandes decisões, a título
de louvação, pode ser entendido como o reconhecimento da dependência às circunstâncias traduzidas, na
psicologia parlamentar, como pressões da sociedade. A mobilização de
jornais, TV, rádios, revistas e manifestantes, com os temas suscitados
pela morte do menino, não poderia
ter outra tradução.
Também é certa a ponderação de
que "entre os envolvidos no crime só
há um menor". Mas um dos maiores, tido como chefe do bando, tem
sete passagens pela polícia como
menor e como maior, inclusive por
assalto. Livrou-se da permanência
em uma das tais "unidades socioeducativas" por chegar à maioridade.
Reincidente contumaz, sete são as
vezes em que foi apanhado e levado
para a Febem ou para a cadeia, mas
quantos crimes terá cometido até
chegar aos 23 anos e participar da
morte de João Hélio? Estivesse
cumprindo, depois da maioridade,
as penas por assalto e roubos, talvez
João Hélio não fosse hoje o motivo
de nossa comoção.
A permanência em prisão, para os
autores de monstruosidades presos
como menores, mas chegados à
maioridade, de fato não provocaria
queda sensível na criminalidade.
Mas reduziria as reincidências de
menores e recém-maiores. Do que o
chefe dos assassinos de João Hélio
dá prova, com suas três ou quatro
passagens por "unidades socioeducativas". Como não completou a
maioridade sete vezes, o debate
atual se enriqueceria bastante com o
exame das razões e maneiras que
permitiram as sete libertações. Todas, como menor e como maior, para voltar à criminalidade. Todas,
sem registro de facilitações ou fugas:
autorizadas pelas leis.
A hora talvez seja a mais incerta
para a decisão sobre penas para assassinos ainda menores. Mas, para
isso, a hora certa não existe. O que
pode existir é a necessidade social
-fonte de tudo o que foi criado no
direito criminal e penal.
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