São Paulo, quarta-feira, 13 de março de 2002

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REVIRAVOLTA NA SUCESSÃO

Marido e sócio de Roseana diz que R$ 1,34 mi serviria para despesas de campanha

Murad assume culpa pelo dinheiro e pede demissão

ANDRÉA MICHAEL
ENVIADA ESPECIAL A SÃO LUÍS

Em mais uma tentativa -tida como a definitiva- de explicar a origem do R$ 1,34 milhão encontrado há 12 dias pela Polícia Federal no escritório da Lunus, em São Luís, Jorge Murad assumiu integralmente a responsabilidade pela arrecadação do dinheiro, que serviria para a campanha da mulher, a presidenciável pefelista, Roseana Sarney.
Depois de ler a nota previamente preparada, Murad anunciou a decisão de deixar o cargo de gerente de Planejamento do Estado.
A legislação não permite que sejam recolhidas doações para as candidaturas antes de 6 de julho, início oficial das campanhas. Murad observou que a campanha de Roseana ""de fato" já estava na rua e afirmou: "Agi só. Agi por determinação própria".
Os jornalistas presentes foram avisados de que não seria permitido fazer perguntas. Às 14h59, Murad sentou-se à mesa colocada em uma das varandas do Palácio dos Leões, a sede do governo do Maranhão. Visivelmente mais magro, leu o texto sem levantar os olhos e se retirou rapidamente.
Pefelistas da cúpula do partido avaliam que a justificativa de Murad veio com atraso e não será suficiente para estancar os prejuízos eleitorais sofridos por Roseana.
Mas reconhecem que se trata da única saída possível para o momento, pois não constitui crime assumir doação ou arrecadação de campanha fora de prazo. Mesmo sem a operação estar formalizada nos registros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
A nota foi escrita na segunda-feira, com o acompanhamento do criminalista Antonio Carlos de Almeida Castro e do especialista em legislação eleitoral e consultor do PFL Torquato Jardim.
"Claro que isso deveria ter sido dito antes", afirma Almeida Castro. "Ele [Murad" não cometeu nenhum crime eleitoral. Neste caso, não há punição para quem dá nem para quem recebe. Além do que, o dinheiro não foi usado."
A dupla Castro e Jardim foi levada a São Luís especialmente para comandar o desfecho de uma história que já passou por seis versões desde o dia 1º de março, quando a Polícia Federal, cumprindo um mandado judicial, apreendeu documentos, equipamentos e a quantia em dinheiro na sede da Lunus.
A operação policial está relacionada às investigações sobre suposto desvio de verbas da extinta Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam).
A ação da PF resultou na crise da aliança entre PSDB e PFL e levou os pefelistas, sob pressão de Roseana, a deixarem o governo.
Antes de ser divulgada, a nota de Murad passou pela aprovação do presidente do PFL, o senador licenciado Jorge Bornhausen, que esteve em São Luís especialmente para selar o desfecho do episódio que começou no dia 1º de março. O pefelista elogiou a "fibra" de Roseana e disse que a justificativa era correta e consistente.
O texto não explica a origem do R$ 1,34 milhão e afirma que as versões apresentadas anteriormente foram iniciativa de "amigos das horas difíceis" e apresenta desculpas à governadora e ao PF. Na conclusão, Murad reafirma que mantém "a firme convicção" de que nada fez de ilegal. Mas não faz nenhuma referência às investigações da Sudam, na qual ele é um dos alvos.
Enquanto Murad lia a nota, Bornhausen deixava os Leões sem dar declarações sobre o teor da nota. Afinal, ele chegou a São Luís dizendo que sua missão era definir a formação de um conselho político para a campanha presidencial de Roseana.
O ex-integrante do governo não participou da reunião política, mas se sentou à mesa do almoço, quando o incômodo assunto deu lugar à torta de camarão, ""catado" de caranguejo, farofa maranhense e goles de guaraná.


Colaborou RANIER BRAGON, da Agência Folha, em São Luís



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