São Paulo, sábado, 13 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SOMBRA NO PLANALTO

Oposição tentou criar constrangimento ao governo com nova CPI, após estratégia que derrubou investigação do caso Waldomiro

Governo também barra CPI de Santo André

RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dia após conseguir enterrar a CPI dos bingos na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, o governo ontem também inviabilizou a criação da CPI destinada a investigar eventual relação do assassinato do então prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel, em janeiro de 2002, com suposto esquema de corrupção na prefeitura petista.
O requerimento de uma nova CPI foi uma reação à decisão do governo de barrar a CPI do caso Waldomiro Diniz, ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência flagrado em vídeo de 2002 pedindo propina para um empresário de jogos no Rio. Na época, ele trabalhava para o governo de Benedita da Silva (PT-RJ).
Com atuação decisiva do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), os líderes governistas convenceram pelo menos dois senadores a retirar suas assinaturas do requerimento apresentado pelo líder do PSDB na Casa, Arthur Virgílio (AM). Por falta de apoio, a CPI será arquivada.
O peemedebista Papaléo Paes (AP) foi o primeiro a retirar a assinatura, atendendo a apelo pessoal de Sarney, feito por telefone na véspera. Depois de Papaléo, o pefelista Paulo Octávio (DF) foi o segundo a retirar seu nome do requerimento -que foi lido e será publicado hoje no "Diário do Senado", mas, sem as assinaturas necessárias, será arquivado.
As duas conquistas -arquivamento das CPIs- custaram ao governo o acirramento das relações com a oposição no Senado. Para avaliar a situação, Sarney se reuniu ontem com os ministros José Dirceu (Casa Civil) e Aldo Rebelo (Coordenação Política) e com os líderes do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), e do PMDB, Renan Calheiros (AL).
A avaliação foi que o governo obteve duas vitórias importantes nesses últimos dois dias -a legitimação, pela CCJ, da decisão de Sarney de não indicar representantes para a CPI dos bingos à revelia dos líderes e o arquivamento da CPI do caso Santo André-, mas precisa afinar melhor sua articulação política e buscar uma ""agenda positiva" para o Senado.
De acordo com Mercadante e Renan, o grupo acha que foi uma vitória barrar a estratégia da oposição no Senado de pedir a criação de várias CPIs para desgastar o governo federal em ano eleitoral.
O que preocupava o Planalto era o fato de a oposição no Senado (PFL, PSDB, PDT e senadores de outros partidos) ser mais representativa do que na Câmara, possuindo um "público consistente" -nas palavras de Mercadante- para apresentar requerimentos criando CPIs.
Segundo a Constituição Federal é necessário um terço da Casa para apresentar requerimento abrindo uma CPI.
""Há uma decisão da maioria, configurada ontem [anteontem] como constitucional e regimental pela CCJ, de não permitir investigação política agora. A oposição quer ter um palanque em ano eleitoral. Ora é a CPI dos bingos, ora a do Waldomiro Diniz, agora a de Santo André. Está obsessivo, parecendo música de uma nota só", criticou Renan.
Na casa de Sarney, ministros políticos e líderes decidiram intensificar as reuniões para avaliar os fatos políticos atuais. Haverá, segundo o líder do PMDB no Senado, ao menos uma reunião por semana. Também será tentada a aproximação com a oposição.
Na quinta-feira, durante a reunião da CCJ, houve bate-boca entre governistas e senadores da oposição. Aos gritos, Tasso Jereissati (PSDB-CE) acusou Mercadante de "ameaçar" o PSDB com a apresentação de uma CPI sobre fato do governo passado e o desafiou a assinar a CPI de Santo André. O senador Jefferson Péres (PDT-AM) previu que oposição e governo passariam agora de "adversários a "inimigos".

Autoritarismo
Ontem, o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), subiu à tribuna e criticou a operação do governo para impedir o funcionamento das CPIs no Senado.
Segundo ele, isso é "colaborar com o autoritarismo". Renan e Mercadante defenderam o direito da maioria de não indicar representantes para as CPIs.
O tucano apresentou o requerimento para a criação da CPI de Santo André na véspera -após o confronto na CCJ- com o número exato exigido pela Constituição: 27 (um terço dos senadores). Bastava que uma assinatura fosse retirada para impedir a criação. Foi o que aconteceu.


Texto Anterior: Dirceu desabafa e diz estar indignado
Próximo Texto: Até palhaço, de terno, vai à Câmara acusar
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.