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Crise econômica dominará encontro de Lula e Obama
Americano deve rebater reclamação de protecionismo pedindo mais equilíbrio em Doha
Democrata ainda não tem equipe para lidar com a América Latina; Casa Branca pede estímulo equivalente
a 2% da economia global
Mendel Ngan/France Presse
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Presidente Barack Obama em evento em Washington |
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Será a crise econômica, mais
do que a agenda para a América
Latina ou as questões bilaterais, que dominará o encontro
de amanhã entre o presidente
norte-americano Barack Obama e seu colega brasileiro, Luiz
Inácio Lula da Silva, o primeiro
líder latino-americano a visitar
a Casa Branca desde a posse do
democrata, em janeiro.
Obama deve propor a Lula
que se junte ao esforço global
para debelar a crise econômica,
apelo que fez anteontem aos
países-membros do G20, grupo
do qual o Brasil faz parte, cujos
líderes se reúnem em abril em
Londres. Deve contrapor as reclamações de Lula sobre o protecionismo dos EUA pedindo
"maior equilíbrio" na Rodada
Doha de liberalização do comércio mundial.
Nos últimos dias, Obama
vem falando da necessidade de
uma ação conjunta contra a recessão. "Entidades dizem que a
economia mundial deve contrair cerca de 2% nos próximos
dois anos, e a recomendação
delas é que os países estimulem
as economias nesse montante",
disse ontem Robert Gibbs, porta-voz da Casa Branca.
"Foi o que os EUA fizeram, e
o presidente vai falar com outras nações do G20 sobre agir
em conjunto na esperança de
fazer o mesmo, sem negociar
compromissos específicos." No
caso brasileiro, 2% do PIB seriam cerca de US$ 26 bilhões.
O encontro dos líderes ocorre sob os efeitos da crise e apesar da falta de equipe própria de
Obama para lidar com a América Latina, que não foi montada
ainda justamente por conta do
primeiro motivo, que domina a
agenda do democrata.
Até agora, a Casa Branca emitiu exatas 117 palavras sobre o
assunto. Na primeira versão do
comunicado oficial, o nome do
brasileiro era grafado com três
erros, depois corrigidos. Ainda
assim, a percepção nas duas
equipes é que essa será a primeira vez em que o país mais
poderoso do mundo pode tratar a maior economia da América Latina como igual.
As evidências começam pelo
texto oficial, dizem. Nele, estão
listadas as prioridades do encontro: no topo está uma agenda global (reunião do G20), seguida da regional (5º Encontro
das Américas, que reúne quase
todos os países da região em
Trinidad e Tobago de 17 a 19 de
abril), por fim assuntos bilaterais não especificados. Segundo
diplomatas brasileiros, era exatamente o que o país queria.
Ser considerado parceiro estratégico dos EUA catapultaria
as ambições globais do Brasil, e
essa oportunidade parece renovada com a nova gestão, que
vem procurando revitalizar
suas relações em diversas frentes de sua política externa. No
caso brasileiro, isso se daria pelo engajamento de uma das
maiores economias emergentes na solução da crise.
"Eles vão falar principalmente sobre economia", confirmou
à Folha Thomas McLarty, que
foi enviado especial às Américas sob Bill Clinton (1993-2001), é ligado à secretária de
Estado, Hillary Clinton, e tem
feito pronunciamentos no circuito latino-americano de
Washington sobre o relacionamento dos EUA com a região.
O Brasil em outro patamar
na relação dos países "faz todo
o sentido", concorda Marcos
Jank, presidente da Unica, entidade dos produtores brasileiros de etanol, assunto que será
levado ao encontro por Lula.
"Pela primeira vez, essa crise
não é nossa, e os fundamentos
do país estão em ordem."
McLarty lamenta a falta de
equipe para lidar com a América Latina. Os principais postos
não foram oficialmente preenchidos. Dan Restrepo, responsável pela região no Conselho
de Segurança Nacional da Casa
Branca, não foi oficializado;
Thomas Shannon, número 1 do
Departamento de Estado para
a área, é remanescente da gestão Bush, assim como Clifford
Sobel, embaixador no Brasil.
É Shannon quem faz o segundo pronunciamento sobre
a reunião, hoje. Ao falar dos
preparativos dos EUA para o 5º
Encontro das Américas, ontem, o diplomata citou artigo
de Lula publicado pelo "Financial Times", em que o brasileiro
defende políticas pragmáticas
e realistas e mede o sucesso delas em termos de impacto nas
pessoas. "O presidente Obama
vai levar a mesma mensagem."
Ontem, em Porto Velho, Lula
disse que apresentará ao americano o modelo de gestão do
Banco do Brasil com o objetivo
de que ele aceite a sugestão de
estatizar bancos ou criar instituições financeiras públicas.
Colaborou SIMONE IGLESIAS, enviada a Porto Velho
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