São Paulo, sexta-feira, 13 de março de 2009

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Crise econômica dominará encontro de Lula e Obama



Americano deve rebater reclamação de protecionismo pedindo mais equilíbrio em Doha

Democrata ainda não tem equipe para lidar com a América Latina; Casa Branca pede estímulo equivalente a 2% da economia global

Mendel Ngan/France Presse
Presidente Barack Obama em evento em Washington


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Será a crise econômica, mais do que a agenda para a América Latina ou as questões bilaterais, que dominará o encontro de amanhã entre o presidente norte-americano Barack Obama e seu colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, o primeiro líder latino-americano a visitar a Casa Branca desde a posse do democrata, em janeiro.
Obama deve propor a Lula que se junte ao esforço global para debelar a crise econômica, apelo que fez anteontem aos países-membros do G20, grupo do qual o Brasil faz parte, cujos líderes se reúnem em abril em Londres. Deve contrapor as reclamações de Lula sobre o protecionismo dos EUA pedindo "maior equilíbrio" na Rodada Doha de liberalização do comércio mundial. Nos últimos dias, Obama vem falando da necessidade de uma ação conjunta contra a recessão. "Entidades dizem que a economia mundial deve contrair cerca de 2% nos próximos dois anos, e a recomendação delas é que os países estimulem as economias nesse montante", disse ontem Robert Gibbs, porta-voz da Casa Branca. "Foi o que os EUA fizeram, e o presidente vai falar com outras nações do G20 sobre agir em conjunto na esperança de fazer o mesmo, sem negociar compromissos específicos." No caso brasileiro, 2% do PIB seriam cerca de US$ 26 bilhões. O encontro dos líderes ocorre sob os efeitos da crise e apesar da falta de equipe própria de Obama para lidar com a América Latina, que não foi montada ainda justamente por conta do primeiro motivo, que domina a agenda do democrata.
Até agora, a Casa Branca emitiu exatas 117 palavras sobre o assunto. Na primeira versão do comunicado oficial, o nome do brasileiro era grafado com três erros, depois corrigidos. Ainda assim, a percepção nas duas equipes é que essa será a primeira vez em que o país mais poderoso do mundo pode tratar a maior economia da América Latina como igual. As evidências começam pelo texto oficial, dizem. Nele, estão listadas as prioridades do encontro: no topo está uma agenda global (reunião do G20), seguida da regional (5º Encontro das Américas, que reúne quase todos os países da região em Trinidad e Tobago de 17 a 19 de abril), por fim assuntos bilaterais não especificados. Segundo diplomatas brasileiros, era exatamente o que o país queria. Ser considerado parceiro estratégico dos EUA catapultaria as ambições globais do Brasil, e essa oportunidade parece renovada com a nova gestão, que vem procurando revitalizar suas relações em diversas frentes de sua política externa. No caso brasileiro, isso se daria pelo engajamento de uma das maiores economias emergentes na solução da crise. "Eles vão falar principalmente sobre economia", confirmou à Folha Thomas McLarty, que foi enviado especial às Américas sob Bill Clinton (1993-2001), é ligado à secretária de Estado, Hillary Clinton, e tem feito pronunciamentos no circuito latino-americano de Washington sobre o relacionamento dos EUA com a região. O Brasil em outro patamar na relação dos países "faz todo o sentido", concorda Marcos Jank, presidente da Unica, entidade dos produtores brasileiros de etanol, assunto que será levado ao encontro por Lula. "Pela primeira vez, essa crise não é nossa, e os fundamentos do país estão em ordem."
McLarty lamenta a falta de equipe para lidar com a América Latina. Os principais postos não foram oficialmente preenchidos. Dan Restrepo, responsável pela região no Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, não foi oficializado; Thomas Shannon, número 1 do Departamento de Estado para a área, é remanescente da gestão Bush, assim como Clifford Sobel, embaixador no Brasil.
É Shannon quem faz o segundo pronunciamento sobre a reunião, hoje. Ao falar dos preparativos dos EUA para o 5º Encontro das Américas, ontem, o diplomata citou artigo de Lula publicado pelo "Financial Times", em que o brasileiro defende políticas pragmáticas e realistas e mede o sucesso delas em termos de impacto nas pessoas. "O presidente Obama vai levar a mesma mensagem."
Ontem, em Porto Velho, Lula disse que apresentará ao americano o modelo de gestão do Banco do Brasil com o objetivo de que ele aceite a sugestão de estatizar bancos ou criar instituições financeiras públicas.


Colaborou SIMONE IGLESIAS, enviada a Porto Velho



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